A tragédia anunciada de se estudar às vésperas da prova
Durante a 12ª Bienal Internacional do Livro, o professor Fernando Beltrão garantiu que conteúdo estudado a poucos dias de uma prova fica armazenado temporariamente
Estudar apenas na véspera da prova ou muito perto dela, tentando decorar todo o assunto rapidamente é um hábito comum a vários estudantes tanto nas escolas quanto em outros níveis de ensino. Para o professor Fernando Beltrão, que deu uma palestra sobre esse hábito de estudantes durante a 12ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, realizada no Centro de Convenções do Estado, em Olinda, essa tática não funciona por diversas razões que envolvem tanto questões biológicas quanto a organização do sistema de educação.
Perguntado sobre as razões que levam tantos estudantes a se preocuparem com o estudo para as provas apenas quando a data está muito próxima, o professor afirmou que “estudar não é uma coisa natural, tanto que nenhum bicho não estuda, né?”, e complementou o raciocínio explicando que “só estuda quem planeja, quem pensa que futuro existe e depende dos nossos acertos ou erros presentes”, mas que é comum que as pessoas ajam “como animais: não estudam porque não percebem que vai fazer toda a diferença”, segundo o professor.
Tentar decorar todo o conteúdo pouco antes da prova, de acordo com Fernandinho, não funciona porque o volume de informação muito grande quando memorizado em pouco tempo, fica na memória de curta duração e logo é esquecido, não aprendido. “Depois que eu memorizei um pouco, porque não tem mente que aguente memorizar tudo, eu vou processar o que entrar. É importante memorizar um pouco, repetir muito, escrever, ler e pensar com tempo e planejamento", afirmou ele.
Outro ponto apresentado pelo professor para o fato de que o estudo às vésperas das avaliações é a forma como funciona o sistema educacional, é o caso de que as provas são realizadas apenas no final das unidades e do ano. Fernando argumenta que aumentar a frequência de avaliações permite perceber as lacunas de aprendizagem a tempo de corrigir os erros.
Foto: Lara Tôrres/LeiaJáImagens
“Na véspera da prova o volume é muito, você acaba estudando porque o sistema educacional permite. Coloca a prova no fim da unidade, ou no fim do ano. O aluno vê que não sabe [o conteúdo] e não tem tempo de se corrigir, de ir atrás. A gente fica com medo de avaliação, o ideal é que faça prova todo dia. Se eu fosse ‘dono’ do Ministério da Educação, criaria prova todo dia. Não faz mal, somos testados o tempo todo, a vida toda ”, disse o professor, que também defende a necessidade de perder o medo de errar, pois cometer e corrigir erros repetidas vezes leva ao aprendizado de coisas novas.
O recado deixado pelo professor para os alunos que têm o hábito de estudar muito próximo das provas e desejam se organizar para revisar o conteúdo de forma rotineira, planejada e eficiente é não deixar as tarefas se acumularem. “Tarefa acumulada é uma desgraça. Se você acumular vontade de beber água por uma semana, você morre. Se não tomar banho, vai feder. Tem coisas que você tem que fazer", afirmou Fernandinho, como é conheido Beltrão.
Para o professor, estudar gostando do processo de aprendizado e integrando vários sentidos diferentes ajudam a armazenar as informações na memória de longo prazo para depois analisar e sintetizar o conteúdo visto. “O ideal é que o aluno fale, desenhe, leia em voz alta, escreva e resuma. Eu boto o aluno para trabalhar, pesquisar, ler, debater, discutir, criar alguma coisa”, explicou.
Por fim, Fernandinho afirma que a redução da carga horária de estudos regulares, fazendo com que o aluno não somente assista às aulas mas estude e produza durante seu tempo na escola, é um caminho necessário. “As aulas atrapalham demais os alunos, assistir aula é apenas uma das atividades do aluno na escola, ele tem que estudar”, sustenta o docente.
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