Pela 1ª vez, estudante surdo defende doutorado na UFPE
Marcelo Amorim defendeu a tese 'Acessibilidade de Ambientes Virtuais de Aprendizagem: Uma Abordagem pela Comunicabilidade para Pessoas Surdas', vinculada ao CIn
Nesta segunda-feira (9), o estudante do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcelo Amorim fez a defesa de sua tese denominada “Acessibilidade de Ambientes Virtuais de Aprendizagem: Uma Abordagem pela Comunicabilidade para Pessoas Surdas”, no auditório do centro. Esta foi a primeira vez na história da instituição que um aluno com deficiência auditiva defendeu um trabalho de doutorado.
Marcelo notou, diante de suas vivências como pessoa com deficiência auditiva, que não só ele, mas também outros alunos com a mesma experiência tinham dificuldades para desenvolver atividades acadêmicas no decorrer de sua formação. Como foi o primeiro aluno surdo a ter acesso aos espaços acadêmicos da pós graduação, Marcelo diz que, em sua caminhada, precisou ultrapassar várias barreiras para que conseguisse aprender em sala de aula e expandir sua linha de pesquisa. “Eu fui o primeiro aluno surdo a ingressar no programa de pós-graduação do Centro de Informática e não foi tão fácil. No começo, faltou acessibilidade e também foi um processo que precisou envolver outras instâncias para que eu pudesse conseguir um intérprete aqui na Universidade. Foi um momento que envolveu vários passos, até que eu pudesse de fato ser um aluno da pós-graduação”, conta, segundo a assessoria da UFPE.
À época em que Marcelo entrou na Universidade, o Núcleo de Acessibilidade (Nace) da UFPE ainda não existia. Ele diz que, por esse motivo, foi elaborando métodos para resolver tanto a área burocrática do procedimento de apoio e acessibilidade quanto a área social de convivência com alunos e professores.
Marcelo criou o aplicativo ProDeaf junto a um grupo de alunos do CIn, no decorrer de sua formação de mestrado, de 2010 a 2012, que tem como intuito auxiliar a comunicação e acessibilidade dos surdos. “A ProDeaf nasceu da necessidade de romper a barreira de comunicação entre alunos ouvintes e surdos, já que eu também tinha dificuldade de me comunicar com meus colegas em sala de aula, e foi desenvolvido para um projeto em uma disciplina do curso. Porém, a plataforma não se configura como uma ferramenta de tradução automática, já que acaba não seguindo a questão linguística cultural do público-alvo, mas o avatar serviu como um auxílio e deu conta da comunicação”, diz, de acordo com a assessoria da Universidade. Depois, o aplicativo foi vendido para a HandTalk, podendo ser acessado por meio do site da organização.
Marcelo, que também é atualmente professor do curso de Letras Libras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na caminhada de descomplicar sua relação no campo acadêmico, decidiu também criar/produzir para o projeto de formato EAD do CIn, chamado Amadeus, um aperfeiçoamento na interface para estudantes com deficiência auditiva.
Com a EAD para surdos em destaque na sua linha de pesquisa, Marcelo criou no seu trabalho de doutorado a união de três temas: Design Science Research, Educação a Distância e Línga Brasileira de Sinais (Libras).
O trabalho denominado “Acessibilidade de Ambientes Virtuais de Aprendizagem: Uma Abordagem pela Comunicabilidade para Pessoas Surdas” tem o objetivo de averiguar a usabilidade, a acessibilidade e a comunicabilidade destinadas às pessoas surdas usuárias de libras em um formato de ensino, com o intuito de diminuir limitações na inclusão de pessoas surdas no cenário de EaD para orientá-las, pretendendo uma melhor usabilidade, comunicabilidade e acessibilidade do sistema.
Marcelo conta que, à época da produção do mestrado, havia poucas pesquisas que apresentavam usuários surdos no campo virtual e EAD, e que era preciso um atendimento e orientação específicos para esses usuários. Durante seu doutorado foi quando ele pôde desenvolver e mostrar esses dados científicos para corroborar a tese.
“Após meu mestrado, onde realizei uma análise de dados, pude comprovar que as interfaces visuais para surdos seriam mais confortáveis e que esse número daria uma garantia para as próximas interfaces que seriam pensadas nesse público específico. No doutorado, já temos os dados que falam da educação a distância para surdos e agora a ênfase principal é ver quais são os problemas e as limitações que esses ambientes virtuais tem provocado nos usuários das plataformas, e foi o que eu me dediquei a pesquisar ao tentar amenizar essas falhas para que os ambientes melhorem. Desta forma, como produto da minha tese, criei um guia visual bilíngue em línguas de sinais e português”, conta ele.
Marcelo publicou um livro em 2016, que faz parte da sua dissertação de mestrado, acerca da criação de formas de interação para tornar mais eficazes os trabalhos de navegação e a interpretação de ajuda contextual para usuários com deficiência auditiva em programas de gestão de aprendizagem. Marcelo divide a autoria do livro com Fernando Fonseca de Sousa, que foi seu orientador no mestrado e doutorado, e Alex Sandro Gomes, também coorientador dos projetos. O livro pode ser adquirido na loja virtual da Amazon.
Marcelo garante que o CIn foi de extrema importância para sua formação como cientista. “A gente sabe que os Centros universitários têm como perfil alunos com características bem específicas, e apesar disto, posso afirmar que fui muito bem recebido aqui no CIn. Então, creio que meu agradecimento é de extrema importância, já que se refere a um trabalho em conjunto, por isso quero agradecer a todos os professores, ao Centro de Informática como um todo, aos meus colegas e intérpretes e todos que estiveram envolvidos nesse meu longo período na universidade”, disse.
Foto: Hugo Boner/CIn
Com informações da assessoria de imprensa