Pandemia: 41,4% dos profissionais de saúde têm insônia

Pesquisadores da USP apontam que durante a pandemia houve um agravamento no quadro de insônia e isso pode afetar o desempenho dos profissionais

por Ruan Reis seg, 07/06/2021 - 12:33
Freepik Condição pode afetar o desempenho dos profissionais Freepik

Pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP), da Universidade de São Paulo (USP) constataram, por meio de um estudo realizado com 4.384 profissionais da saúde, que 41,4% deles apresentaram novas queixas de insônia ou piora desse quadro durante a pandemia da Covid-19. O estudo também observou um aumento de 13% no número de profissionais que tratam a insônia por meio de medicamentos. 

O autor principal do estudo, publicado em setembro de 2020, na plataforma medRxiv, é o professor Luciano Drager, da FMUSP. Os dados foram obtidos por meio de um questionário on-line realizado pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS), em junho do ano passado, no qual abrangeu todas as regiões do país.

De acordo com os dados divulgados, os participantes tinham em média 44 anos de idade, 76% eram mulheres e 53,8% médicos(as), entre enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros. Dentre eles, 55,7% estavam atuando nos cuidados de pacientes com o novo coronavírus e 9,2% informaram já ter caso de infecção pelo vírus.

No questionário, os profissionais responderam sobre seus estados de saúde, como também se tinham distúrbios de sono, ansiedade e estresse por exaustão física e mental no trabalho, e estado crônico mais conhecido pela síndrome de Burnout. Entre os entrevistados, 1.817, ou seja, 41,4%, relataram novas queixas de insônia ou piora do quadro que já possuíam, em paralelo; 572 (13%) relataram iniciar novos tratamentos com uso de medicamentos para combater a insônia.

Claudia Moreno, coautora do estudo, professora da FSP e vice-presidente da ABMS, afirma, segundo o jornal da USP, que a insônia tem efeitos a curto, médio e longo prazos para a saúde. De acordo com a pesquisadora, ter um bom sono é uma necessidade fisiológica do organismo. Se um médico ficar um dia privado de sono, há possibilidade de ter alterações do humor e dores de cabeça. Os sintomas se agravam em casos de privação de sono crônica. “Nesses casos podem ocorrer problemas mais graves de saúde, como gastrintestinais, cardiovasculares, distúrbios de saúde mental, dentre outros”, disse à USP.

Durante a pandemia, o estudo apontou que a ansiedade prevaleceu em 44,2% dos entrevistados e Burnout em 21%. Alguns fatores potencializaram novas queixas e, até mesmo, a piora da insônia, como aumento da renda; ser psicólogo(a) ou fisioterapeuta, em relação trabalhos administrativos; atender em consultório ou clínica e ter tido aumento na jornada de trabalho. A explicação para esse último, segundo o estudo, pode estar ligada ao adormecimento rápido em função da própria redução do sono e de sua qualidade, gerada pelo aumento na jornada.

Outros fatores de risco foram identificados no estudo, dentre eles estão: a redução da renda; alterações de peso; desenvolvimento da síndrome de Burnout; atender ou já ter atendido pacientes com Covid-19; ter ansiedade; e ser mulher. Este último fator, segundo explicou a cientista ao Jornal da USP, se apresenta porque as mulheres têm maiores chances de sofrer problemas de insônia e Burnout, uma vez que são responsáveis, na maior parte dos casos, pelos cuidados com afazeres domésticos, implicando em uma dupla jornada de trabalho.

De acordo com a pesquisa, a insônia pode gerar um impacto no desempenho do trabalho dos profissionais da saúde, além da dependência de tratamentos farmacológicos, a longo prazo. Segundo a pesquisadora, se não houver mudanças, podem acontecer erros médicos e de atenção no cuidado aos pacientes, além da possibilidade do desenvolvimento e agravo de problemas de saúde. “Os resultados demonstram que os profissionais de saúde já estavam sofrendo os efeitos da pandemia após poucos meses de trabalho, o que significa que hoje, um ano depois, a situação deve estar agravada”, disse Claudia Moreno.

Por último, o estudo aponta a necessidade de programas dedicados ao sono e à saúde mental para profissionais que atuem na área da saúde. Para a pesquisadora, é preciso avaliar a carga horária de trabalho desses profissionais para que haja um tempo de descanso e recuperação.

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