E-books ganham espaço na vida dos leitores

Em Pernambuco, o professor de literatura Carlos Gomes aposta em livro digital

por Karolina Pacheco qua, 18/01/2012 - 20:25
Reprodução/outroscriticos.blogspot.com

Outrora, a expansão de formatos como o MP3 (MPEG Audio Layer-3) fizeram estremecer a indústria fonográfica – e ainda o fazem. O formato, que possui facilidade de divulgação e circulação na internet, veio a atingir o funcionamento de todo um esquema que envolve o mundo da música: compositores, intérpretes, músicos, gravadoras, selos, produtores musicais, executivos, lojas de discos. Todos sentiram-se ameaçados pela tecnologia, facilidade e gratuidade da difusão que esta mídia, unida a internet, proporciona aos fãs de música.

Hoje, um novo dilema se instaura em outra indústria cultural tão ou mais forte que a fonográfica: a editorial. O rebuliço é ainda maior, devido à tradição que os livros têm, que remonta à antiguidade, mas o fato é que os livros digitais tem conquistado seu espaço na vida dos leitores. Ainda que tímida e vagarosamente, os e-readers já começaram a aparecer com cada vez mais força e aceitação do público.

Boa parcela do leitor de hoje faz parte de uma geração já inserida em um contexto em que a internet é quase onipresente, com suas infindáveis possibilidades e facilidades de acesso à informação. Por outro lado, podemos ver autores que não encontram brecha para adentrar o mercado editorial da maneira tradicional e resolvem se arriscar a lançar suas obras no ambiente da web, de divulgação mais ampla, simples e sem custos.

Carlos Gomes, 30, é um deles. Professor de literatura e editor do blog Outros Críticos, lançou recentemente um livro digital sob o custo de R$ 6 em seu blog pessoal, para ser vendido em sites como Amazon.com e PagSeguro. A obra foi disponibilizada em formatos como EPUB, PDF e Kindle Edition. “Livro digital é opção pra quem não encontra espaço em editora. É o primeiro que coloco no formato digital. As vendas ainda estão tímidas, mas espero melhoras. A chegada da Amazon ao Brasil, por exemplo, é uma das coisas que facilitará a venda dos produtos em formato Kindle”, pontua Gomes.

Todo escrito em letras minúsculas, corto por um atalho em terras estrangeiras é o nome da obra de Carlos, que aos poucos vem tomando maiores dimensões de acesso e downloads pagos. Vale dizer que a qualidade da obra não muda, apenas o formato. E isso em nada impede de se folhear, a cada página – digital ou não –, uma prosa latentemente poética. Segundo Gomes, seu livro levou três anos para ser construído.

O livro tem a presença de uma musicalidade marcante, do uso de metáforas e repetição de palavras e é dividida em quatro momentos: Cenários, Corpos, Estudos e Vozes. “Tenho como referência escritores como Osman Lins, Jorge Luis Borges e Joyce, que se caracterizam como três momentos meus enquanto leitor de contos, e me influenciaram como escritor, pois ainda estou engatinhando”, afirma.

Já existem boas obras disponíveis na internet, como a autopublicação de Gomes. O futuro do livro digital é, porém, antes de tudo uma questão cultural: a procura e a aceitação são fatores que ditam o que vai e o que fica nas estantes – ou nos e-readers. Cabe ao tempo, e à tecnologia, se (a)firmar.

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