Os planos de Marcelo Canuto, novo gestor da Secult-PE

Secretário de Cultura de Pernambuco fala sobre legado da Secult/PE e principais ações de 2014 em entrevista exclusiva

por Marcus Fernandes seg, 03/02/2014 - 08:31
Fernando da Hora/LeiaJáImagens Marcelo Canuto falou sobre as ações do governo na Secretaria de Cultura Fernando da Hora/LeiaJáImagens

Após assumir interinamente a Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult/PE) no final de outubro do ano passado, o recifense Marcelo Canuto, 49 anos, foi nomeado pelo governador Eduardo Campos no começo de janeiro como o secretário responsável pelas políticas culturais do Estado. Canuto chegou a exercer o cargo de secretário-executivo de Relações Institucionais e Articulação Parlamentar da Casa Civil, e uma de suas atribuições era acompanhar as ações desenvolvidas pelo Estado na área da Cultura. Em conversa com o LeiaJá, a primeira desde que assumiu oficialmente a Secult/PE, o secretário fala sobre a marca que a atual gestão do PSB tentou imprimir na cultura local e as diretrizes que devem ser seguidas ao longo deste último ano do governo de Eduardo Campos.

Na entrevista, Marcelo Canuto também comenta sobre o maior desafio da secretaria durante os últimos oito anos, os editais que já foram lançados neste ano e algumas novidades para este ano, como a discussão acerca do Funcultura da Música - uma solicitação de profissionais que fazem parte deste segmento artístico. Outros assuntos, como a Incubadora Criativa, a realização do 48º Salão de Artes Plásticas, as ações durante a Copa do Mundo 2014, o uso dos equipamentos culturais e a adesão ao Sistema Nacional de Cultura (SNC) não ficaram de fora da conversa.

Marca da Secretaria de Cultura de Pernambuco

A marca é a valorização da cultura popular. O princípio é esse e foi aprofundado por todos os gestores, justiça se faça. Esta noção aconteceu principalmente durante as escutas da população. As Conferências Estaduais, os Fóruns Regionais, nossos festivais, que são momentos de muita interlocução. E tudo isso na linha da valorização da cultura popular. Este é o conceito que foi desenvolvido pelo governo de Eduardo Campos e nós vamos fechar o mandato dele com este mesmo foco. 

Diretriz a ser seguida no último ano de governo

Durante o exercício do mandato de Eduardo Campos, acumulamos muitas ações e eu diria que chegamos ao oitavo ano do governo com a política cultural da Fundarpe e Secretaria de Cultura bastante consolidada. Foi uma construção coletiva entre o governo e, em especial, com as pessoas que fazem parte da vida cultural do Estado. Portanto, completar este oitavo mandato do governo de Eduardo na verdade é aperfeiçoar, melhorar, racionalizar, acrescentar uma política, mas com uma linha já traçada. Eu diria que esse será o eixo da nossa ação agora em 2014.

Maior desafio da gestão da Cultura

Chegar às comunidades que são as mais desprotegidas foi o maior desafio. Isso implica em ir até o músico, os povos quilombolas e indígenas, ou seja, ir até as linguagens. Todas tem uma riqueza muito forte aqui em Pernambuco e precisam também que o Estado fomente em equilíbrio. E isso é um desafio muito grande. Como é que você consegue conversar com todo mundo? Como é que você consegue, na máquina pública, manter uma interlocução com todas essas linguagens? Acho que esse é o maior desafio da cultura, e acho que a gestão cultural do governo, desde 2007, tem sido exitosa nessa luta. 

Carnaval 2014

A partir desta segunda (2) nós vamos começar a chamar os prefeitos para um entendimento sobre o Carnaval. E como é que isso funciona? A Fundarpe e a Empertur chamam os prefeitos, ao todo 20 prefeituras que cobrem todas as 12 regiões de Pernambuco. Mas isso não quer dizer que a gente não esteja apoiando outros encontros e bailes tradicionais, como o Baile dos Artistas e Bal Masqué, por exemplo. Houve um edital para que os artistas nacionais e regionais participassem da festa. A gente vai sentar com os prefeitos e apresentar a grade e eles entram com a infraestrutura, como palco, som e segurança.

Editais lançados

Nós lançamos no início do ano o edital do Prêmio Pernambuco de Literatura. São cinco prêmios de R$ 5 mil e um de R$ 15 mil que visam fomentar a produção literária em todas as macrorregiões de Pernambuco e que vão dar oportunidade pra quem está na ponta. O cidadão que mora lá no Sertão e tem uma vocação de repente vê nisso uma oportunidade para apresentar seu trabalho. E além da premiação em dinheiro, vamos imprimir mil cópias do livro dos vencedores. 

Lançamos também o Concurso de Fotografia Pernambuco Cultural. Ao todo, serão 12 fotografias vencedoras e cada uma vai receber um prêmio de R$ 5 mil. Além disso, as fotografias selecionadas vão compor exposições durantes os festivais que ocorrem no Estado.

O Ciclo das Paixões (voltado para a realização de encenações da Paixão de Cristo durante a Semana Santa), cujo edital foi lançado nesta quarta (26), oferece R$ 450 mil reais para 16 grupos de todo o Estado, normalmente de pequeno porte. Os interessados apresentam o projeto e uma comissão julga a apresentação. O contemplado financia a produção e isso é uma forma de você também criar um equilíbrio e democratizar o acesso. 

Funcultura

O Funcultura é uma marca do governo. Ele hoje é uma referência em todo o Brasil, sendo o segundo maior fundo brasileiro em termos de valor. Tem R$ 33,5 milhões, dos quais R$ 11.5 são destinados ao Audiovisual e R$ 22 milhões para as outras linguagens, como música, dança, teatro e gastronomia. Uma marca importante já nessa pequena gestão nossa, que começou em novembro, foi um encaminhamento feito pelo Governo do Estado da lei 1750/2013, que protege o orçamento do Funcultura. Ou seja, se outro gestor quiser modificá-lo, terá que mandar um projeto de lei e fazer um debate na Assembleia. Isso de fato consolida uma política do Fundo daqui de Pernambuco. Outra coisa que também foi importante pro Funcultura deste ano é a questão da acessibilidade. Os projetos que forem apresentados e que provarem que estão favorecendo o cidadão que tem alguma dificuldade, seja ela a surdez, a cegueira ou a mobilidade, terão ponto positivo.

Além disso, tem as oficinas. O Funcultura é uma grande experiência, mas ele precisa ser difundido. Isso já vem acontecendo, não é de hoje, mas a gente precisa aprofundar o debate para que o cidadão lá de Tabira, por exemplo, saiba inscrever um projeto e que não fique aquela coisa restrita à capital, à Região Metropolitana do Recife ou para aquele que tomou conta do saber. A gente está investindo bastante, tanto no Audiovisual como no Independente, em oficinas em todas as regiões do Estado.

Funcultura da Música e outros específicos

Nós temos que aprofundar algumas discussões. Por exemplo, o Funcultura vai abrir este ano uma agenda para conversar com todas as linguagens. Você tem que abrir um diálogo, mas não é só com a música. Tem que abrir com o teatro, com gastronomia, com todas as linguagens. A ideia é que primeiro a gente aprofunde o debate na legislação que regula o Funcultura. Feito o debate sobre a legislação, vamos cair em campo na questão dos editais. O cinema, por ser mais organizado e ter uma cena mais forte, conseguiu avançar e despertou nas outras linguagens, especialmente na música, essa vontade por um edital. E vamos enfrentar esse debate de forma organizada e institucional. A ideia nossa é fazer uma conversa sobre o que melhorar e aperfeiçoar o que regula hoje o Funcultura e num segundo momento abrir o debate sobre os editais. É natural e legítimo que outros segmentos queiram reservar um espaço do orçamento do Fundo. Mas ai você tem que fazer uma discussão sobre critérios, como vai atender a todo o Estado, e por isso é importante que a gente atualize essa regulação e em seguida parta para o debate de edital específico que só o cinema tem. Eu falo mais da música porque eles são os que estão chamando mais este debate. Como o Cinema fez lá atrás, eles estão fazendo agora. 

Adesão ao Sistema Nacional de Cultura (SNC)



Nós fizemos a adesão ao SNC e logo depois eu participei da Conferência Nacional de Cultura e do Fórum de Secretários de Cultura. Eu acho que é um avanço, mas ainda tem muita incerteza. Isso ficou muito claro, por exemplo, no Fórum de Secretários. Primeiro, qual é o valor que vai ter para o Sistema? Falou-se em R$ 170 milhões para todos os Estados brasileiros. Mas só o Funcultura tem R$ 33 milhões. Outro debate é qual o critério de distribuição, qual será? O que tem maior população? O que tem maior riqueza cultural? O que está mais desprotegido? A adesão é importante e a gente tem que ressaltar que o Sistema também é porque ele abre o leque para o atendimento, mas tem muita coisa que precisa ser aprofundada e maturada. Ele é legal, bem formatado, mas na execução faltou pedra para fazer. Nós estamos acompanhando, fazendo a nossa parte e indo no mesmo ritmo da maioria dos Estados, esperando a resolução do Governo Federal pra saber quanto é que vai ser de dinheiro. Porque o que a gente não pode vender é ilusão. Política cultural não tem jeito, tem que ter orçamento. 

Equipamentos Culturais

Estamos procurando dar vida aos equipamentos culturais que temos, 18 ao todo. Por exemplo, a Malakoff sempre tem exposição. Eu recebi aqui a filha do poeta Paulo Leminski, do Paraná. Ela está trazendo uma grande exposição dele, trabalhada via Petrobrás, e vamos entrar com parceria, seja dando estrutura ou shows Estamos definindo isso ainda. Outra coisa é que vamos promover, em conjunto com a Embaixada da Holanda, uma exposição no Museu do Estado sobre o ciclo do açúcar. Ela já está passando em alguns países e deve chegar aqui ainda nesse primeiro semestre. Além disso, estamos licitando agora o projetor de cinema do São Luis, com orçamento em torno de R$ 1,3 milhão. É um compromisso nosso e que envolve imagem digital e som de qualidade. 

48º Salão de Artes Plásticas

Vamos resgatar o 48º Salão de Artes Plásticas e neste sentido convidamos Luciana Padilha pra assumir a coordenação de Artes Visuais. Houve a escolha dos 26 premiados, mas não aconteceu a exposição, que é a conclusão do festival. E nós vamos fazer acontecer. É um evento importante e que vem de uma tradição do Estado. Nós estamos apenas esperando o planejamento da Luciana e vamos definir uma data pra que isso aconteça num momento especial.

FIG 2014 

O FIG começa a ser organizado logo depois do Carnaval, que é o que está consumindo nossa energia no momento. Vencido o Carnaval, a gente começa a trabalhar o ciclo dos festivais do Pernambuco Nação Cultural, mas em especial o FIG, porque pelo tamanho que tem consome mais energia. O de Goiana, por exemplo, que é o primeiro, é um festival de porte menor e por isso é mais tranquilo. O FIG não, ele é de referência nacional e envolve milhares de pessoas, toda a cadeia hoteleira de Garanhuns, estrutura pesada, contratação de artistas e um alto investimento financeiro que dá condições de você ter teatro, dança, cinema, tudo gratuito. 

Ações durante a Copa do Mundo

A gente já começou a conversar com a Secretaria da Copa. Vamos aproveitar a Copa do Mundo pra valorizar a nossa cultura e promover eventos em que o maracatu, o caboclinho o frevo, entre outros ritmos locais, sejam a nossa vitrine. E vamos também, claro, deixar nossos equipamentos abertos com programações dirigidas para aquele momento.

Incubadora Criativa

Uma coisa recente foi um convênio com o Ministério da Cultura (MinC), que é a Incubadora Criativa cujo objetivo é formar e qualificar esta cadeira produtiva. Na verdade não é uma ação só da Cultura, isso tem relação com o desenvolvimento social e econômico do município, do Estado e do país. Essa é uma preocupação nossa e que é corrente de quem trata da cultura popular, pois atinge os artistas que estão na ponta. E aí pode ser uma rendeira, um cara que faz instrumento musical, que vão receber qualificação e sustentabilidade ao trabalho. Ao todo, o investimento é R$ 1 milhão por parte do MinC e R$ 300 mil de contrapartida nossa. 

Novo portal

Vamos lançar um novo portal com informações da cultura e da política cultural. Mas a ideia é abrir espaço para aqueles segmentos que muitas vezes não têm espaço na grande mídia. Então você pode botar ali no portão o artesão, o cantor que está se lançando, o pintor. A ideia é fazer um portal muito amplo e que dê espaço pra essa riqueza cultural que temos aqui.

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