Banda musical de estilo latino mostra som experimental

A República Imperial mistura letras rebuscadas em caldeirão de ritmos para chegar a composições que resultam de pesquisa e experimentação lúdica

seg, 05/12/2016 - 17:56

Com um nome imponente e uma sonoridade pretensiosa, além de letras filosóficas rebuscadas que misturam latinidade com as batidas rítmicas paraenses, a banda A República Imperial,   totalmente autoral, vem conquistando o cenário musical dos notívagos de Belém do Pará. Alex d’ Castro, criador da banda, depois de ter se decepcionado com a falta de sucesso de sua antiga banda chamada Império 3X4, de estilo grunge, punk, hardcore, pop rock, e depois de ouvir de um dos componentes do grupo original que o que ele escrevia, salsas, tangos e boleros, não era para o pop, resolveu dar por encerrado trabalho e passou um tempo amadurecendo a ideia de fazer um hit que chamasse atenção.

Mesmo não tendo antecedentes musicais, pois não veio de família de músicos, sua formação vem do teatro, insistiu na busca de uma composição perfeita, de um momento mágico e lúdico. Dois meses depois teve a ideia de fazer uma salsa em que a letra falava de deuses pagãos despidos numa grande orgia. Assim começa a nova jornada, que semanas depois iria se chamar A República Imperial.

Com a composição “Segundo ato” (a salsa dionisíaca, música que serviu de inspiração para a criação do nome da nova banda), Alex saiu mostrando para os amigos sua composição. Nos  finais de semana, reunia em sua casa músicos de diversas formações. “Quase vira um clube da esquina, ou melhor uma república musical, daí juntando com as pesquisas que já havia feito, dessa formação latina na nossa música paraense, mais essa reunião de vários músicos todos interessados e tocando em casa as minhas canções, formou-se o grupo de oito componentes - essa maravilha que vem a ser uma república que impera sonoridade", diz.

Com um viés sofisticado, um tanto vanguardista, o tempo ajustou de tal modo a estética e transformou a banda num grupo musical de investigação e experimentação que, apoiado no conceito da Word Music, quer construir um argumento sonoro multicultural contextualizado na diversidade e similaridade estéticas das ‘repúblicas imperiais’ da América Latina. "O ‘A’ que antecede a ‘República’ foi a cereja singular do bolo”, disse Alex d’ Castro.

A partir desse momento, Alex não parou de pesquisar e aprender a como misturar essas duas vertentes, emprestando embasamento a tudo o que daria encanto para essa mistura. Voltou a estudar geografia, história, procurou em livros (didáticos de música, romances, poesias) temas que justificassem essa iniciativa. Aluno no curso de licenciatura em Letras na Universidade da Amazônia (Unama), partiu para o primeiro CD. “Eu queria fazer uma música conceitual, onde o nosso 'latin rock' tivesse um motivo ocidental pra existir. Não queria apenas investir na música somente pela música. Creio que o músico não canta ou toca com a voz ou com seu instrumento. O músico, a meu ver, canta e toca com a sua cultura. Nesse sentido queria fazer um som pluralista. Já as letras são personagens. Eu vim do teatro, então eu trouxe o teatro nesse sentido comigo, de escrever como se estivesse escrevendo pra personagens diferentes, por isso na banda são três vocalistas, cada um representa facetas diferentes dos seres humanos diferentes que falam através das letras”, explica Alex.

O primeiro trabalho é um EP com seis faixas, chamado ” Cinema Ór”. Alex é um cinéfilo. As faixas nasceram na voz e no violão, em um processo solo, sendo montados depois os arranjos com a banda.  ”Cinema Ór" é a trilha sonora das imagens que atravessavam a gente no momento em que fazíamos as músicas. O arranjo é o corpo das personagens”, conclui o vocalista Alex.

O segundo projeto está em fase de finalização. As composições e a direção musical artística são de Alex d’Castro. Os arranjos são de Inês Fernandes (baixo), Milton Cavalcante (guitarra), Anderlene Figueiredo (trompete) e Wendel Raiol (violão). Parceria com a Escola G2 de Música, onde está acontecendo a pré-produção do segundo CD, com Felix Robato (músico e coprodutor de grandes estrelas paraense) e da Pluvia Produções, encarregada do clipe da música de trabalho.

O artista plástico paraense João Cirilo está terminando a capa do álbum. Tem novidade nos vocais com Glaucia Freire, nova integrante, e Luana Almeida. Convidados especiais: Willy Benitez (bateria) e JP Cavalcante (percussão). A previsão de lançamento é até o final de dezembro de 2017, pelo selo Ná Figueredo. “São oito faixas no CD que recriam um Pará Latino-Americano, um Pará visto de uma lupa continental, dentro de um processo curioso, triste, furioso, aflitivo, festivo e solitário desse autor paraense, com muita investigação a respeito da cena atual local e nacional sonoro”, define Alex d’Castro. Para ouvir o trabalho da banda A República Imperial acesse: www.arepublicaimperial.com

Por Nilde Gomes.

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