Livro conta história de massacre de garimpeiros no Pará

"Encurralados na Ponte: O Massacre dos Garimpeiros de Serra Pelada", do jornalista Paulo Roberto Ferreira, apresenta caso ocorrido em 1987, em Marabá, Sudeste do Estado. Lançamento será nesta quarta-feira (22).

ter, 21/05/2019 - 18:29

O livro-reportagem "Encurralados na Ponte: O Massacre dos Garimpeiros de Serra Pelada", do jornalista e escritor Paulo Roberto Ferreira, será lançado nesta quarta-feira (22), a partir das 18 horas, na sede da Editora Paka-Tatu, localizada na rua Bernal do Couto, em Belém. A publicação traz atualizações sobre o massacre ocorrido em 29 de dezembro de 1987, quando garimpeiros protestavam na ponte rodoferroviária de Marabá, Sudeste do Pará, em busca de melhores condições de trabalho, e foram surpreendidos por violenta ação policial.

Paulo Roberto, que acompanha os conflitos entre os garimpeiros e o governo federal desde 1984, voltou ao local do massacre 30 anos depois para apurar novos depoimentos de pessoas que sobreviveram à tragédia. A obra, de acordo com o jornalista, demonstra que o método usado no massacre de Eldorado do Carajás (1996) foi inaugurado com os garimpeiros nove anos antes: o encurralamento.

O jornalista revela também outros conflitos que ocorreram depois, inclusive no período do governo Fernando Henrique Cardoso, quando o Exército e a Polícia Federal ocuparam as ruas de Serra Pelada. Também mostra que as disputas entre garimpeiros e a mineradora Vale permanecem até hoje.

O livro trata ainda das desavenças entre as lideranças dos garimpeiros, que resultaram em mortes e golpes pelo controle da cooperativa. Segundo Paulo Roberto, todo o ouro extraído de Serra Pelada (quase 40 toneladas) não foi capaz de mudar o quadro de miséria que ainda predomina em Serra Pelada.

"É importante conhecer a história do massacre dos garimpeiros porque foi um episódio que ficou escondido devido a uma série de fatores. O primeiro foi que ocorreu nas vésperas do ano novo, época em que muitas pessoas viajam e não se ligam no noticiário. O segundo fator está relacionado à própria categoria garimpeira, um segmento que envolve muitos interesses, pois inclui trabalhadores avulsos, ou seja, fazem parte os grandes comerciantes (de Marabá, Imperatriz e até de Belém), que são os donos de barrancos, os meia-praças, que entravam com algum dinheiro (e portanto como sócios no negócio da extração do ouro) e a grande maioria, que eram os formigas, os carregadores de sacos de terra, que ganhavam por diária trabalhada. Muita gente ligada às organizações de defesa dos direitos humanos ficava cautelosa em defender uma causa que na maioria das vezes beneficiava prioritariamente os donos do capital", analisou o escritor.

Segundo Paulo Roberto, quando a tragédia aconteceu, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos (SDDH), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e os partidos de esquerda mostraram reações, mas não houve um acompanhamento e uma cobrança permanente, o que resultou no esquecimento do caso.

"A sociedade brasileira assiste estarrecida essa onda de eliminação das pessoas pelas milícias, o que representa um retrocesso em relação às conquistas obtidas com a Constituição Federal de 1988. Os conflitos no campo, com graves ameaças às lideranças dos trabalhadores rurais, também é algo preocupante. Daí a importância de se colocar na pauta nacional a necessidade de combate às formas autoritárias de solução de conflitos. O livro permite esse debate também", informou Paulo Roberto.

Por Ana Luiza Imbelloni.

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