Sexta-feira 13: Cinemateca exibe trilogia de Zé do Caixão

Homenagem ao cineasta acontece também no dia de seu nascimento

sex, 13/03/2020 - 14:42
Reprodução Cena do filme "À Meia-Noite Levarei Sua Alma" (1964) Reprodução

A Cinemateca de São Paulo exibirá hoje (13) a obra de Zé Mojica Martins, morto em fevereiro deste ano, por meio de seu personagem mais conhecido: Zé do Caixão. A mostra também se torna relevante, pois, na virada do dia 13 para o dia 14 seria aniversário do artista.

Na programação do evento gratuito, que começará às 23h, está o clássico que inaugurou o terror no cinema brasileiro, o filme "À Meia-Noite Levarei Sua Alma" (1964), além de "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver" (1966) e "Encarnação do Demônio" (2008). "Ele [Mojica] gostava de ser chamado de mestre, e seus amigos e colaboradores mais próximos não o interpretavam pretencioso. Acatavam o pedido do mestre com respeito e admiração", diz Anselmo Pires, ator e amigo íntimo da família do cineasta, com quem teve seu primeiro contato em 1993.

Pires conta que Mojica não tinha um viés ideológico em sua obra, porém, sempre comentava em estúdios as repressões sofridas na época da ditadura civil-militar (1964-1985). "Tenho certeza que se Zé Mojica estivesse vivo, ele estaria resistindo a esse avanço conversador do País e ao ataque à democracia. Ele com certeza estaria manifestando contra isso", conclui.

O cineasta Rubens Mello conta que a obra de Mojica tem relação direta com a contracultura, ao proporcionar ideias provocadoras, polêmicas e que questionam valores centrais vigentes e instituídos da cultura. "Mojica ousou em sua época e quebrou valores religiosos e sociais que foram mostrados na saga de seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão, na busca pela mulher superior, para lhe dar o filho perfeito. Para isto, as regras de sociedade são por ele questionadas. Principalmente a questão da fé, que em sua visão servia apenas para oprimir os mais fracos", comenta Mello.

O cinema de resistência se fez presente já no primeiro filme de Mojica por meio de alegorias visuais e narrativas utilizadas para abordar temas como política e cotidiano. Ainda que não realizasse um cinema propriamente político, o mais famoso diretor de cinema de terror no Brasil foi subversivo. Era um niilista que quebrava os valores tradicionais, atribuindo a estética do grotesco como fundamental em sua criação. "Sou fascinado pelo horror graças a Mojica. A poesia criada pelas sombras, o surreal e o onírico, a possibilidade de deformar a realidade e a criação do bizarro, do choque, de expor temas, tabus e deformidades humanas, do sagrado e do profano, que nos proporcionam ferramentas para uma viagem insólita a partir do estranho, além do irreal ao assustador, que moldam o meu fazer artístico", complementa Mello.

 

Serviço

Maratona da Madrugada: Trilogia do Zé do Caixão

Quando: 13 de março, sexta-feria, a partir das 23h

Onde: Cinemateca Brasileira - Largo Sen. Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, São Paulo

Entrada gratuita.

Os ingressos serão distribuídos na bilheteria uma hora antes de cada sessão.

Informações: (11) 3512-6111

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