Solte suas feras: o simbolismo do animal print

Da religiosidade à cultura pop, conheça a história da estampa mais hit do mundo

por Junior Coneglian sex, 13/11/2020 - 14:19
Pexels Considetada por muito tempo símbolo de luxo e poder, a estampa animal teve seus altos e baixos na moda Pexels

De deusas egípcias ao álbum visual "Black Is King", de Beyoncé, a estampa de oncinha carrega além de tudo, um simbolismo cultural e religioso que deriva de crenças e sacrifícios a deuses africanos. Além do significado místico, a estampa carrega os significados de poder e luxo, o que fica evidente em produções como ‘’Um príncipe em Nova York’’, com Eddie Murphy.

O uso da estampa de onça e outras padronagens animais, conhecidas em seu conjunto pelo termo "animal print", evoluiu praticamente junto com a humanidade, sendo que os primeiros agrupamentos humanos já usavam peles de animais como proteção térmica.

Mais tarde, usar pele animal passou a ser um símbolo de status e poder, por isso esse tipo de vestuário passou a ser reservado para reis, nobres e figuras religiosas. As estampas de animais, assim como suas peles, começaram a ter seu status fashion no século 18, por remeterem ao universo exótico da África e seus animais selvagens, de forma estereotipada.

Nas diferentes mitologias, o "animal print" também se faz presente com seu simbolismo. A deusa egípcia da sabedoria, Seshat, por exemplo, é normalmente representada vestindo uma pele de leopardo, assim como o deus grego Dionísio. Na mitologia chinesa, por sua vez, a deusa Xi Wangmu, conhecida como a Rainha Mãe do Ocidente, é retratada com uma cauda de leopardo.

Pulando para a contemporaneidade, ‘’a estampa se estabeleceu como algo de perua, porém acho que é o item mais vibe rockstar já confeccionado’’, comenta a personal stylist Érika Ometto. Um dos exemplos disso é o vestido criado em 1936 pela casa francesa Busvine, feito com estampa de leopardo. Na mesma época, a estilista francesa Jeanne Paquin usou peles de leopardo em suas coleções.

Já na década de 1940, Christian Dior (1905-1957) foi o primeiro a usar a estampa de onça, e não a pele, em um vestido chamado ‘’África’’, que fez parte de sua coleção primavera-verão. Por causa dele o animal print também passou a ser aplicado em acessórios, bolsas e sapatos. Entretanto, foi a grandiosa estilista Elsa Schiaparelli (1890-1973) que criou um dos hits da época, o chapéu de leopardo.

"Agregando para si o posto de hit em Hollywood, foi na década de 1950 e 1960 que a estampa invadiu o cinema e conquistou seu ápice no mercado de luxo. Já na exótica década de 1980, marcada por excessos e exageros, a estampa já era DNA de uma geração; nos anos 1990 a estampa foi associada a roupas vulgares e de baixa qualidade (também graças às produções de contracultura do cinema da época), o que logo caiu por terra graças à genialidade de Gianni Versace, que resgatou suas raízes. Já nos anos 00 somente os animais exóticos tinham vez. Entretanto, graças a grifes como as italianas Fendi e Emilio Pucci, outros animais se misturam às estampas de onça, como as de zebra e cobra. Graças a sua popularização e – quase – democratização, facilmente a estampa é encontrada em lojas de departamentos ou em coleções ultra exclusivas de Chanel e Roberto Cavalli", analisa Érika Ometto. 

COMENTÁRIOS dos leitores