Campeão em MG, Givanildo reclama de preconceito no futebol

Conhecido como 'Rei do Acesso', esse pernambucano de Olinda ainda não tem no currículo um trabalho em um grande clube do eixo Rio-São Paulo ou na região Sul. O motivo, na opinião dele, é um só: preconceito

dom, 15/05/2016 - 12:26
Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivos Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivos

O título mineiro com o América foi o 14.º estadual do técnico Givanildo Oliveira. Se forem considerados os troféus como jogador, o número sobe para 24. Conhecido como "Rei do Acesso", esse pernambucano de Olinda ainda não tem no currículo um trabalho em um grande clube do eixo Rio-São Paulo ou na região Sul. Teve, no máximo, duas passagens pela Ponte Preta. O motivo, na opinião dele, é um só: preconceito.

"Infelizmente, ainda existe preconceito em relação aos treinadores do Nordeste. O futebol nordestino tem pouca visibilidade", disse o treinador de 67 anos. "O sul do País deveria olhar com mais cuidado para os profissionais de outras regiões", afirmou Givanildo Oliveira.

O treinador não acredita que seja uma discriminação aberta. "É simplesmente a falta de oportunidades, a falta de acreditar no profissional. Não falo só por mim. Falo por tantos treinadores que fazem grandes trabalhos, mas não são chamados".

Só o último feito de Givanildo Oliveira já justificaria um olhar mais atento dos dirigentes. Depois de um início cambaleante, no qual chegou a ser criticado, o América derrubou os gigantes Cruzeiro e Atlético antes de conseguir seu primeiro título estadual depois de 15 anos. Foi o 16.º título mineiro do clube. "Esse título representou muito pela maneira como foi conquistado. Já tenho vários títulos estaduais, sempre no Norte e Nordeste, e encerramos um jejum de 15 anos. Tudo isso fez com que a alegria e o prazer fossem maiores".

Durante todo o campeonato, Givanildo Oliveira ficou sem jogadores importantes como Tony, Osman, Tiago Luis e Jonas. O divisor de águas na campanha foi uma partida contra o Uberlândia. Ainda na fase de classificação, o time não vencia havia cinco jogos. "A gente não podia nem empatar. Ganhamos e foi ali que o time começou a acreditar que dava para ser campeão".

Na estrada desde 1983, Givanildo Oliveira comandou o Paysandu na vitoriosa campanha da Copa dos Campeões de 2002, que credenciou o clube paraense à Copa Libertadores de 2003, feito inédito até hoje entre times da região Norte. Ele é chamado de "Rei do Acesso" por ter passado de uma divisão a outra em seis vezes com América-MG (1997, 2009 e 2015), Paysandu (2001), Santa Cruz (2005) e Sport (2006). Parênteses: o título do América da Série B de 1997 é considerado o mais importante da história do time mineiro.

Obviamente, Givanildo Oliveira acumulou trabalhos que não deram certo. Em uma das poucas oportunidades no sul do País, quando dirigiu o Atlético Paranaense em 2006, ele somou apenas 12 jogos com quatro vitórias, dois empates e seis derrotas. Um aproveitamento de apenas 33%. Foi demitido do mesmo América-MG depois de uma sequência de três derrotas seguidas em 2012. Acha que o treinador está sempre ameaçado no cargo. "É a cultura do futebol brasileiro", conformou-se.

Depois de tantas idas e vindas em 22 clubes diferentes, o pernambucano achou um jeito simples para resumir sua carreira. "O trabalho é necessário, isso em qualquer carreira. Também é importante ter seriedade. Quem não é sério acaba se ferrando. É fundamental ter um grupo bom, um grupo forte. Quem entra tem de dar conta do recado", afirmou.

Givanildo Oliveira tem um estilo bem direto e objetivo, não enrola para responder, não fica dourando cada palavra. Pessoas mais próximas afirmam que é caladão e não gosta muito de papo. Quando questionado sobre uma autodefinição, ele só fala do lado profissional. "É difícil falar sobre si mesmo. Acho que o mais gosto no meu trabalho é o jeito que eu tenho para unir o grupo, juntar e valorizar os jogadores".

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