Depois do atletismo, exclusão total da Rússia ganha força
Na quarta-feira (20), a entidade tinha estabelecido um prazo de sete dias para tomar uma decisão final. Ou seja, deve bater o martelo até o dia 27 de julho, apenas nove dias antes do início dos Jogos
Acabou o sonho de Yelena Isinbayeva. A 'Czarina' não poderá buscar o tricampeonato olímpico no salto com vara nos Jogos do Rio de Janeiro, após o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) confirmar a suspensão do atletismo russo de todas as competições internacionais.
Na verdade, a decisão TAS abre o caminho para uma decisão ainda mais drástica: o Comitê Olímpico Internacional (COI) não descarta excluir o país como um todo, por conta de mais um relatório bombástico divulgado na segunda-feira pela Associação Mundial Antidoping (Wada).
O relatório McLaren divulgou mais detalhes sórdidos sobre o "sistema de doping de Estado" na Rússia, com ajuda dos "mágicos" do FSB, os serviços secretos do Kremlin, descendentes da KGB.
Poucas horas depois da decisão do TAS, um porta-voz do COI informou à AFP que sua comissão executiva se reunirá no domingo, através de uma conferência telefônica de seus representantes.
Na quarta-feira, a entidade tinha estabelecido um prazo de sete dias para tomar uma decisão final. Ou seja, deve bater o martelo até o dia 27 de julho, apenas nove dias antes do início dos Jogos.
Tudo indicava que o COI queria esperar a decisão do TAS para se pronunciar. O tribunal rejeitou o recurso da Rússia, deixando a 'opção nuclear' da exclusão total dos esportistas do país cada vez mais provável.
- IAAF 'sem triunfalismo' -
O certo é que a pista de atletismo do Engenhão não terá estrelas como Isinbayeva ou Sergey Shubenkov, atual campeão dos 110 m com barreiras.
A decisão do TAS confirmou a suspensão decretada pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) em novembro, depois de outro relatório da WADA sobre "doping organizado" no país.
"O júri do TAS confirma a validade da decisão da IAAF segundo a qual os atletas e a federação nacional (russa) ficam suspensos e não podem ser selecionados para as competições sob a organização da IAAF", sentenciou o tribunal baseado em Lausanne, na Suíça.
O recurso apresentado no dia 17 de junho pelo Comitê Olímpico Russo (COR) e por 68 atletas pedindo para ser repescados foi rejeitado nas unanimidade dos três juízes do TAS.
O presidente da IAAF, o britânico Sebastian Coe, elogiou a decisão do tribunal, mas não saiu comemorando. "Embora consideremos que nossas regras e nosso poder de aplicar nossas regras tenham sido apoiados, não é um dia para fazer declarações triunfalistas", disse o dirigente.
Coe foi bicampeão olímpico dos 1.500 m em Moscou-1980 e Los Angeles-1984, edições marcadas pelo boicote de grandes potências, em plena guerra fria.
Como era de se esperar, Isinbayeva usou um tom bem menos sóbrio: "Obrigada a todos por terem enterrado o atletismo. Isso é puramente político", afirmou a bicampeã do salto com vara (2004 e 2008) à agência de notícias russa TASS.
Já o ministro dos Esportes da Rússia, Vitali Mutko, considerou a decisão do TAS "sem fundamento jurídico".
"Só podemos lamentar profundamente esta decisão que afeta os atletas que não têm nada a ver com o doping", declarou por sua vez o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, considerando "pouco provável que a responsabilidade coletiva possa ser aceitável".
- Duas atletas 'repescadas' -
Outras duas modalidades já adotaram medidas de exclusão coletiva de um país para os Jogos do Rio: o levantamento de peso, que baniu a Bulgária, e a canoagem de velocidade, que tirou Romênia e Belarus do evento.
No caso da Rússia, o comitê olímpico alemão (DOSB) rejeitou a "opção nuclear" pregada por Dick Pound, ex-presidente da Wada.
Invés de uma punição coletiva geral, o DOSB prefere limitar o banimento às 20 modalidades mencionadas no relatório McLaren.
O próprio atletismo seria beneficiado por um regime de exceção: duas russas poderão, em teoria, participar dos Jogos.
A saltadora em distância Darya Klishina foi a única repescada pela IAAF, no dia 10 de julho, por treinar fora da Rússia, na Flórida, onde está sendo submetida a exames mais rigorosos do que em seu país.
Já a meio-fundista Yulia Stepanova também ganhou o direito de participar dos Jogos por ter denunciado o esquema de doping russo no documentário do canal público alemão ARD, o que deu origem ao escândalo, em dezembro de 2014.
Ela deve competir com bandeira olímpica, como atleta neutra, por ser impossibilitada de representar a Rússia, onde é considerada uma 'traidora'.