América Latina se reúne para combater o zika

Em busca de conter o avanço do vírus, que é relacionado a má-formações em fetos, se reúnem em Montevidéu autoridades de Argentina, Brasil, Paraguai, Venezuela e Uruguai

qua, 03/02/2016 - 15:48
Pedro PARDO Um agente da saúde aplica produto contra o mosquito Aedes aegypti, em Acapulco, no dia 2 de fevereiro de 2016 Pedro PARDO

As autoridades sanitárias da América Latina buscavam uma estratégia comum esta quarta-feira em Montevidéu para combater o zika vírus na região, a mais afetada do mundo, num clima de alerta reforçado por um caso de contaminação sexual nos Estados Unidos.

Em busca de conter o avanço do vírus, que é relacionado a má-formações em fetos, se reúnem em Montevidéu autoridades de Argentina, Brasil, Paraguai, Venezuela e Uruguai, como membros do Mercosul; e de Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Suriname, como estados associados. Também estarão presentes representantes de Costa Rica, República Dominicana, México e a diretora da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), Carissa Etienne.

"O que preocupa os ministros é a rapidez com que a infecção do zika vírus tem se espalhado, já que em menos de um ano o vírus se disseminou em 26 países", disse Etienne à imprensa. Com casos isolados confirmados na Indonésia, Tailândia, Cabo Verde e temores diante da vulnerabilidade de contágios na Ásia, por ora a América do Sul é a região com mais casos do vírus: mais de 1,5 milhões no Brasil e mais de 20.000 na Colômbia.

Desde que o vírus foi detectado no Brasil, foram confirmados 404 casos de microcefalia, que impede p desenvolvimento normal do cérebro do bebê em estado de gestação e há 3.670 casos suspeitos. Como referência, em 2014 foram registrados 147 casos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou na segunda-feira estado de emergência pública internacional pelo possível vínculo entre o contágio de zika em mulheres grávidas e um aumento de casos de bebês nascidos com microcefalia.

Guerra ao Aedes aegypti

A Organização Mundial da Saúde pediu nesta quarta-feira aos países europeus para que coordenem entre si uma ação para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que além do vírus zika transmite a dengue, a febre amarela e o chikungunya.

"Peço aos países europeus a tomarem medidas coordenadas para controlar os mosquitos através do envolvimento das pessoas para eliminar os focos e do planejamento para espalhar inseticida e matar as larvas", escreveu em um comunicado a diretora Europa da OMS, Zsuzsanna Jakab. O zika também é suspeito de causar síndrome neurológica de Guillain-Barré (SBG), que pode causar uma paralisia definitiva.

"A resposta para este problema está na luta contra o mosquito que transmite o vírus", afirmou Etienne. Se turistas europeus foram infectados com o vírus, o mosquito que o transmite (Aedes aegypti) ainda não foi descoberto na União Europeia.

A OMS estima que o risco de que o vírus chegue ao continente "continua a ser extremamente baixo durante o inverno". Mas esse risco aumenta à medida que as temperaturas sobem, uma vez que o inseto pode se adaptar a todos os climas quentes.

Às vésperas dos Jogos Olímpicos no Rio em agosto, o Brasil mobilizou mais de meio milhão de trabalhadores de saúde e militares, entre outros, para combater o mosquito Aedes aegypti.

"Estamos fazendo o maior esforço na história do Brasil", disse a repórteres em Montevidéu o ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Castro.

"Temos 46.000 agentes de combate que estão indo de casa em casa, e reforçamos com outros 266.000 agentes comunitários de saúde que não faziam este trabalho, mais de 210 mil soldados das forças armadas do país", acrescentou o ministro.

Contágio por via sexual

O último sinal de alerta pelo zika chegou do estado norte-americano do Texas, onde foi registrado um caso do vírus transmitido por via sexual e não pela picada de mosquito. Segundo as autoridades sanitárias do condado de Dallas, o paciente teve relações sexuais com uma pessoa doente que esteve em viagem na Venezuela.

No entanto, o porta-voz dos CDC que confirmou à AFP a informação da infecção de zika não contou a maneira como o indivíduo teria contraído o vírus. "Se confirmado, isso representaria uma nova dimensão do problema", disse a diretora da OPAS, em Montevidéu.

A perspectiva de que o vírus seja transmitido sexualmente e não apenas pela picada do mosquito Aedes aegypti é preocupante para a Europa , Estados Unidos e outras regiões fora da América Latina, onde todos os casos foram importados até agora.

A OMS alertou na semana passada que o zika está se espalhando de maneira "explosiva" na América Latina, onde são esperados de 3 a 4 milhões de casos em 2016.

O vírus foi descoberto em uma floresta de Uganda chamada Zika, em 1947.

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