Cardeal vai levar ao papa casos de abuso sexual no Marajó

Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e amigo pessoal de Francisco, conheceu a realidade das "meninas balseiras", crianças e adolescentes exploradas em embarcações no Pará

por Antônio Carlos seg, 29/02/2016 - 09:53
Marajó Notícias Dom Cláudio Hummes participou de caminhadas com fiéis em Breves Marajó Notícias

A miséria bateu no rosto do bispo. O cardeal dom Frei Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, conheceu de perto os casos de abuso e exploração sexual infantil no arquipélago do Marajó, no Pará, e apontou as causas que precisam ser combatidas: a pobreza e a impunidade. “Há duas grandes causas por trás desses abusos e exploração. Uma é a pobreza. A outra, a impunidade. O povo está tão pobre que acaba deixando os filhos serem levados e abusados para ganhar algum dinheiro. E, do outro lado, uma impunidade inaceitável, intolerável”, afirmou o cardeal, em Belém, depois de uma visita à cidade marajoara de Breves, no último final de semana. Dom Cláudio admitiu que ver as crianças nessa situação o deixa de “coração cortado”.

Ao lado de dom José Luís Azcona, bispo da prelazia do Marajó, e da irmã Henriqueta Cavalcante, secretária executiva da Comissão Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB - Regional Norte 2, que abrange o Pará e o Amapá), o cardeal disse ter visitado o Marajó em nome dos bispos do Brasil e do papa Francisco. As "meninas balseiras", crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual em balsas que navegam pelos rios da região, provocaram a reação de dom Cláudio: “Vou relatar para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e para o papa sobre o que está ocorrendo. O papa sempre diz: ‘Vai para os locais mais sofridos, distantes e abandonados’”, disse.

O cardeal disse que a grande maioria da população do Marajó é pobre. “Muita gente na miséria, muita gente não tem nada mesmo. É impressionante. Uma grande parte vive de Bolsa Família (do governo federal) ou de um parente idoso que talvez tenha uma aposentadoria. Quer dizer, sobrevive. Certamente tem gente passando fome”, afirmou. “O poder municipal tem poucos recursos para fazer qualquer coisa. O povo não tem trabalho, não há investimentos ali", disse.

Dom Claudio Hummes ficou cinco dias em Breves, município com cerca de 100 mil habitantes. Chegou em 23 de fevereiro e foi recebido com muita alegria pela população. Visitou a Comunidade de Nossa Senhora de Fátima e as Irmãs de Notre Dame. À noite, celebrou pela primeira vez uma missa no arquipélago marajoara, na paróquia São José e Santa Terezinha.

Amigo pessoal do papa Francisco, dom Cláudio será um importante interlocutor sobre o grave problema amazônico, para que as crianças possam ser ajudadas por meio de organizações e instituições nacionais e internacionais. “Conheço o cardeal Bergoglio das reuniões em Roma. Nunca estive na casa dele em Buenos Aires, e ele nunca esteve na minha, porque não é muito de viajar. Trabalhamos na conferência de Aparecida, em 2007, que durou quase 20 dias. Foi ali que a gente mais se conheceu, mas já éramos amigos”, disse dom Cláudio, em entrevista logo depois da eleição de Francisco.

O arcebispo também visitou a cidade de Portel. Participou de audiência pública e conheceu a Comunidade Ágape da Cruz e uma Brinquedoteca. Outra parada foi em Melgaço, considerado o município com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil. Pelo rio Tajapuru, esteve na Comunidade Nossa Senhora do Desterro. Também em Melgaço, ouviu relatos sobre os problemas da região. No sábado (27), dom Cláudio Hummes retornou para Belém, de onde tomou avião para São Paulo.

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