Milhares de chilenas voltam às ruas em marcha feminista

Centelha feminista se propagou no Chile em consequência da condenação pela justiça espanhola, no fim de abril, a nove anos de prisão por abuso sexual a cinco homens acusados de estuprar uma jovem na Espanha

qua, 06/06/2018 - 19:50
CLAUDIO REYES Estudante em manifestação por educação não sexista e igualdade de gênero em Santiago, no Chile, em 6 de junho de 2018 CLAUDIO REYES

Milhares de mulheres saíram mais uma vez, nesta quarta-feira, às ruas em várias cidades no Chile para reivindicar uma educação não sexista e igualdade de gênero, no âmbito de uma revolução cultural que parece ter vindo para ficar.

Com o lema "Precarização vivemos todas: às ruas estudantes, migrantes, mães e trabalhadoras", o movimento pretende abarcar metade da sociedade que se sente vítima do machismo e da desigualdade e não só se limitar às salas de aula dos centros educativos.

Com slogans como "Necessita-se de forma urgente uma educação feminista e dissidente" e "Não nasci mulher para morrer por isso", a marcha transcorreu em um ambiente festivo na principal artéria da cidade, a Avenida Libertador O'Higgins, sob o olhar de dezenas de policiais.

"Recebemos o apoio de grande parte da sociedade, das mulheres (...). O feminismo sempre vai incomodar os homens porque lhes questiona", diz Amanda Mitrovic, dirigente da Coordenadoria Feminista Universitária (Confeu).

A centelha feminista se propagou no Chile em consequência da condenação pela justiça espanhola, no fim de abril, a nove anos de prisão por abuso sexual a cinco homens acusados de estuprar uma jovem na Espanha, no caso conhecido como "La Manada".

Desde então mais de 20 universidades foram ocupadas por estudantes que reivindicam uma educação não sexista e o fim dos estereótipos culturais que depreciam a mulher.

"Esta mobilização explodiu na cara de todos, porque havia muito ressentimento, muita história por trás acumulada", diz à AFP Araceli Farías, vice-presidente da Federação de Estudantes da Universidade Católica.

Segundo a Prefeitura de Santiago, cerca de 15.000 pessoas compareceram à marcha.

O governo do conservador Sebastián Piñera anunciou no fim de maio uma Agenda Mulher com 12 pontos para tentar reduzir a brecha entre homens e mulheres, entre eles uma reforma da Constituição para garantir "a plena igualdade de direitos".

Mas a maioria das jovens que lideram este movimento feminista sentem que a medida é insuficiente porque o presidente não recebeu as representantes das confederações estudantis para dialogar, e em suas intervenções públicas não se referiu à educação não sexista nem falou da mudança social e cultural.

"A educação não sexista é a primeira mudança que devemos fazer para uma mudança social e cultural!", exclama Mitrovic, que afirma que a mudança deve acontecer "desde as bases".

"É um problema sistêmico. Acreditamos que os professores devem ser educados para que tenham uma perspectiva de gênero", acrescenta.

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