Ex-recruta denuncia tortura e ameaças na Base Área de SP

Universitário recorreu à Justiça para pedir uma indenização de R$ 500 mil por dados morais e punição para ao menos sete militares

por Nataly Simões qui, 19/07/2018 - 17:04

O universitário Matheus Antonio Fernandes Caldas dos Santos, de 21 anos, afirma ter sido torturado e ameaçado de morte quando era recruta da Força Aérea Brasileira, em São Paulo. O ex-recruta recorreu à Justiça para pedir uma indenização de R$ 500 mil por dados morais e punição para ao menos sete militares, entre soldados, cabos, sargentos e tenentes, após ter sido orientado por seus professores da graduação em direito.

Segundo o jovem, os crimes ocorreram durante um período de quatro meses, em 2016, dentro da Base Área de Guarulhos, na Grande São Paulo, e também no 4° Comando Aéreo Regional, na capital paulista. O ex-recruta diz que tinha boa saúde e era atleta profissional de artes marciais, mas ficou com a capacidade respiratória prejudicada depois de perder alvéolos pulmonares devido às agressões sofridas.

"Na base, em Guarulhos, durante uma atividade que envolvia flexão com vários recrutas, nos ameaçaram de nos molhar caso todos não cumprissem as metas. Eu era o xerife [aquele que recebe punição pelos outros]. Em mim, acabaram jogando água congelante pelo meu corpo todo e, em seguida, me obrigaram a dormir molhado", recorda.

Na ocasião, Santos diz ter pedido atendimento médico, porém não foi atendido. Além disso, ele teria sido obrigado a participar de outras atividades, até que desmaiou e teve uma convulsão. Encaminhado para o Hospital da Aeronáutica, o jovem conta que sua situação piorou o levando a internação, por uma semana, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

No seu retorno à Base Área, as torturas teriam continuado. “À noite, eu era acordado ao me jogarem água fria, e me davam choques elétricos com teaser [máquina portátil]. Foram várias vezes.", desabafa.

Em seu retorno, o jovem relata que ainda sofreu ameaças de morte do superior direto, já que as agressões teriam sido informadas ao comandante da unidade militar por familiares da vítima. "Minha mãe conseguiu o telefone do comando pela internet e contou a ele o que estava acontecendo. Ela estava desesperada. Chegaram a dizer a ela que é normal morrer em treinamento", afirma.

Após a denúncia da mãe, o ex-militar foi transferido para o 4° Comando Aéreo. Lá, Santos diz que a perseguição continuou, até que ele chegou a um estado em que não tinha mais condição de realizar as atividades físicas e foi dispensado do serviço por 'excesso de contingente'.

O Comando da Aeronáutica informou não compactuar com comportamentos inapropriados às atividades militares e que repudia agressões ou quaisquer outros atos que denigram a dignidade humana. A instituição afirmou ainda que aguarda o recebimento dos autos do processo judicial para que possam ser tomadas as medidas administrativas cabíveis.

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