Padre relata agressões da GCM a moradores de rua

"Fui para linha de frente tentar impedir que houvesse mais confronto. Eles me cuspiram, me xingaram, me empurraram, me falaram uma porção de barbaridades. Aí invadiram o espaço de convivência", afirmou o religioso

sab, 15/09/2018 - 08:40
Reprodução/Instagram Padre Júlio Lancellotti GCM invadiu local de acolhimento e agrediu moradores de rua Reprodução/Instagram Padre Júlio Lancellotti

Um grupo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) invadiu na manhã desta sexta-feira, 14, um espaço de acolhimento de pessoas em situação de rua vinculado à Arquidiocese de São Paulo. Segundo relatos, os guardas teriam agredido e utilizado spray e bombas de gás de pimenta contra moradores do entorno, funcionários do local e o padre Julio Lancellotti, de 69 anos, vigário episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. Uma mulher e três guardas ficaram feridos. Um homem foi detido.

O incidente foi "repudiado" pela arquidiocese em nota divulgada nas redes sociais, que classificou a ação da GCM como "truculenta", "violenta" e exigiu, ainda, a abertura de uma investigação e a punição dos responsáveis.

"As agressões são tanto mais inaceitáveis por terem ocorrido dentro de um local destinado ao atendimento da própria população de rua, historicamente abandonada pelo Poder Público", diz o texto. "Lamentamos que a violência diariamente sofrida pelos moradores de rua se volte agora contra entidades e pessoas que tentam devolver o mínimo de dignidade a esses irmãos."

O núcleo de acolhimento integra o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, localizado no Belenzinho, zona leste da capital. Segundo o padre Julio, o espaço nunca foi invadido em 28 anos de atuação.

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra parte da ação, quando a GCM já está dentro do núcleo. Nele, guardas aparecem com escudos, cassetetes e espingarda (não há informação se eram de balas de borracha), além de utilizar spray de gás de pimenta.

Segundo o padre, a situação começou por volta das 9 horas, quando guardas começaram a recolher cobertores, pertences e materiais recicláveis de pessoas em situação de rua. Durante a ação, teriam cometido agressões, momento em que os moradores de rua começaram a atirar pedras e latas.

"Fui para linha de frente tentar impedir que houvesse mais confronto. Eles me cuspiram, me xingaram, me empurraram, me falaram uma porção de barbaridades. Aí invadiram o espaço de convivência", afirmou o religioso.

Já o comando da GCM informou, em nota, que determinou a apuração dos fatos. A corporação afirmou que uma equipe da Prefeitura Regional da Mooca realizava trabalhos de zeladoria rotineira no local quando foi hostilizada por moradores de rua.

"Uma viatura da GCM que passava pelo local tentou impedir agressões, mas foi atacada com pedras, pedaços de pau e barras de ferro. Um guarda foi atingido por uma pedra e sofreu um corte na cabeça", diz a GCM. "Dois outros agentes tiveram lesões leves, e uma viatura foi danificada."

A Guarda ressaltou que a determinação da administração municipal é para que os pertences dos moradores de rua não sejam retirados.

O padre contou, ainda, que os GCMs agrediram principalmente um rapaz de cerca de 25 anos conhecido como Diego Luis Aleixo, que teria sido levado para o 6º Distrito Policial (Cambuci). "Foi muito violento. Fiquei com a perna muito ruim, com dificuldade de caminhar, porque foi muito tenso."

A GCM informou que um homem foi levado ao 6º DP por ter participado das agressões aos guardas, mas não confirmou se era Aleixo.

Lancellotti disse que um guarda chegou a ameaçar prendê-lo. Segundo ele, a situação deixou pessoas feridas, uma delas, identificada como Carmen, teria sido levada para atendimento em um hospital.

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