Conselho interdita postos de saúde do Ibura por violência

Com a interdição ética aplicada pelo Cremepe, os médicos estão impedidos de trabalhar em duas unidades de saúde do Ibura. As unidades continuarão funcionando com enfermeiros e técnicos

por Jorge Cosme seg, 05/11/2018 - 13:47
Reprodução/Google Street View Juntas, unidades de saúde atendem cerca de 18 mil pessoas Reprodução/Google Street View

Confronto de quadrilhas de tráfico de drogas, homicídios, tiroteios e toques de recolher. Este cenário de violência fez com que o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) determinasse que os médicos não atendam em duas unidades de saúde do bairro do Ibura, na Zona Sul do Recife.

A chamada ‘interdição ética’ passará a valer à 0h da próxima quarta-feira (7) e atingirá cerca de 18 mil pessoas do Ibura. Foram atingidas pela interdição a Unidade de Saúde da Família (USF) 341 - Pantanal/Professor Fernandes Figueira, na Rua Bandeirante Raposo Tavares, número 100, e USF 347 - Parque dos Milagres, na Rua Clara Nunes, nº 60.

O bairro do Ibura, principalmente a área das comunidades dos Milagres e Pantanal, tem vivido um período de insegurança, devido a confrontos envolvendo o tráfico de drogas na região. Para o Cremepe, não há condições mínimas de segurança para os profissionais diante dessa situação. O conselho cita um caso em que todos que estavam dentro da unidade foram impedidos de deixar o local porque ocorria algum confronto do lado de fora. O ônibus do transporte público também parou de entrar na localidade, obrigando alguns profissionais a se deslocarem por áreas consideradas inseguras.

Conforme o Cremepe, desde agosto a insegurança nas unidades do Ibura estão sendo discutidas e a Prefeitura do Recife teria sido devidamente informada. “Inclusive, alargamos o prazo para a prefeitura se posicionar”, explica o secretário-geral Mário Jorge Lobo.

A gestão municipal, segundo Lobo, se posicionou muito depois e propondo medidas consideradas insuficientes. A proposta da prefeitura envolveria a instalação de câmeras de segurança e a presença de guardas municipais. “Nós estamos propondo que as unidades sejam transferidas para locais com melhor acesso, perto das principais vias”, comenta o diretor do Cremepe Mário Fernando Lins.

Ao todo, quatro médicos estão impedidos de exercer a função nas USFs. Na prática, a situação permanece a mesma, visto que eles não estavam trabalhando por causa da greve dos médicos recifenses. Porém, caso a paralisação seja finalizada, eles continuarão sem atuar por causa da interdição ética. A decisão dos representantes dos médicos não atinge outros profissionais, como enfermeiros e técnicos, portanto as unidades podem continuar recebendo a população. Não há prazo para a interdição encerrar.

Esta não é a primeira vez que o Cremepe interdita uma unidade de saúde por conta da violência. Em 2016, o mesmo ocorreu com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Olinda. O 2º secretário do Cremepe, Silvio Rodrigues, lembra que, na ocasião, em questões de semanas a unidade foi transferida de endereço e, após reforço da segurança, retornou ao endereço anterior. “Não é algo difícil de fazer. A maior parte desses imóveis são alugados”, salienta Rodrigues.

Além das USFs do Ibura, outras três unidades estão na mira do Cremepe. Elas já estão na fase de indicativo de interdição, aguardando posicionamento da gestão municipal. São elas: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) José Carlos Souto, no Torreão, por motivos estruturais; USF Sítio dos Macacos, no bairro de Dois Irmãos, também por problemas estruturais; e Policlínica Amaury Coutinho, em Campina do Barreto, por falta de profissionais.

Procurada, a Secretaria de Saúde do Recife informou que, para não prejudicar os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), as duas USFs permanecerão abertas. A Prefeitura já estaria tomando medidas como a instalação de postos de vigilância, implantação de câmeras ligadas à Central de Videomonitoramento da Central da Secretaria Estadual de Defesa Social (SDS), fixação de grades e vidros nas portas e realização de reuniões de escuta com os profissionais e SDS. Ainda em nota, a secretaria reforçou que recentemente foi implantada a Ronda da Saúde, em parceria com a Guarda Municipal, para contribuir na prevenção da criminalidade e na redução da violência nas unidades de saúde e proximidades, com o patrulhamento motorizado 24 horas e revezamento de 36 guardas municipais.

A Polícia Militar informou que através do 19º Batalhão esteve nas unidades de saúde citadas na matéria, se reunindo com funcionários e criando um grupo de WhatsApp para que as equipes que se sentissem ameaçadas acionassem os policiais. Conforme a corporação, as comunidades dos Milagres e do Pantanal contam com um policiamento fixo e diferenciado, 24 horas por dia, através do Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI). As localidades recebem equipes da Patrulha do Bairro das viaturas de Contrarresposta.

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