Estelita volta a ser demolido e grupo garante resistência

Com a retomada da demolição dos galpões, o movimento Ocupe Estelita afirma que não sairá da localidade e solicita dialogo com o prefeito

por Victor Gouveia sex, 29/03/2019 - 13:35

Após uma liminar que freou as demolições do projeto do Consórcio Novo Recife, escavadeiras voltaram a derrubar os galpões do Cais José Estelita, área Central do Recife, nessa quinta-feira (28). A retomada está amparada na derrubada da liminar anterior.

Em uma noite truculenta entre manifestantes e seguranças, o grupo Ocupe Estelita garantiu a continuidade na luta pela requalificação do espaço em prol da utilização pública.

Perguntada se a retomada das máquinas enfraquece o movimento, uma das ocupantes, Inês Maia, garantiu que esse fato “só mostra que realmente é um projeto que tende, e continua, se envolvendo em ilegalidades. Como eles conseguem colocar máquinas aqui dentro com pessoas no lugar?”, questionou.

Insatisfeitos com o “teatro midiático” envolto aos galpões, os manifestantes relataram o reinício das demolições, apontando que as máquinas funcionaram com cerca de 60 manifestantes no local, pondo em risco a integridade dos mesmos.

De acordo com os manifestantes, escombros caíram no acampamento. Eles reivindicam um diálogo linear com o Prefeito do Recife, “A noite de ontem foi extremamente tensa, com imagens muitos brutais. O prefeito Geraldo Julio garantiu um ato homicida, e a gente precisa no mínimo de uma explicação, de preferência pessoal, cara a cara com o Ocupe Estelita”, solicitou Inês.

Em relação ao diálogo horizontal com a sociedade civil, o representante da Moura Dubeux no consórcio, Eduardo Moura, declarou que “O projeto foi democraticamente discutido pela sociedade organizada. A PCR coordenou todo esse processo, o movimento foi convidado e não quis participar”. Sobre algum percalço no desenvolvimento das obras pela atuação dos manifestantes, o representante revelou estar “tranquilo”, e complementou: “O que já temos demolido é suficiente para tocar a obra. Muitas áreas que estão ocupadas serão transformadas em avenidas e um parque, na etapa final das construções”, finalizou.

Com o projeto acusado de ilegalidade, desde a venda do terreno até os processos iniciais da construção, o defensor público da União André Carneiro Leão garantiu que a defensoria acompanha extrajudicialmente todos os acontecimentos com o intuito de evitar os conflitos e assegurar a liberdade de manifestação, já que é um direito assegurado na constituição. “A liberdade deve ser respeitada em qualquer situação, desde que não haja abuso”, finalizou.

Em relação ao cronograma do Novo Recife, Eduardo Moura explicou que nesta sexta-feira (29) já está sendo feita a limpeza do terreno, verificação estrutural dos galpões que serão demolidos e alojamentos dos futuros funcionários. Ele também declarou que ao fim das demolições e sondagens geológicas, programada até o fim do ano, será dado início ao processo de fundações.

Para realização do projeto, a empreiteira já conta com 70 profissionais terceirizados e abriu vagas para compor o quadro de funcionários. Desde a terça-feira (27), desempregados já formavam fila aos arredores do cais, na intenção de conquistar uma vaga de trabalho. Até essa quinta-feira (28), 2.107 currículos foram recebidos, desses, 10 serão contratados na próxima semana, afirmou Eduardo Moura.

Confira a nota da PCR

A Prefeitura do Recife informa que recorreu, através da Procuradoria Geral do Município, da liminar que proibia o município de conceder alvarás de demolição com o objetivo de recuperar a legitimidade administrativa na regulação de obras e ordenamento urbano, que estava suspensa por liminar. A gestão municipal tem a absoluta segurança, como confirmou a Decisão do Tribunal de Justiça, de que não há impedimento legal para a concessão de alvará de demolição no caso do Cais José Estelita, que conta com anuência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Trata-se de um empreendimento privado, mas que após a Lei 18.138/2015 aprovada pela atual gestão, que obrigou os empreendedores a refazerem o projeto, resultará na entrega de 65% do terreno para uso público, inclusive com um parque linear onde hoje existem pistas, a reforma de 28 galpões que serão um centro cultural aberto a toda população, além de calçadas mais largas, ciclovia, seis quadras esportivas embaixo do Viaduto Capitão Temudo, novo sistema viário, ligação do Cais com a Dantas Barreto, entre outros benefícios públicos para a cidade. Os empreendedores estão obrigados a investir R$ 80 milhões nas áreas públicas.

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