Cúpula tenta solucionar quebra-cabeças das nomeações na UE

As negociações não se anunciam fáceis, devido à forma como se apresentam as coisas , advertiu a chanceler alemã, Angela Merkel, que enfrenta a pressão dentro de sua própria família do PPE pelo 'acordo de Osaka'

seg, 01/07/2019 - 07:13
John Thys Os presidentes do Parlamento e do Conselho Europeus, Antonio Tajani (E) e Donald Tusk, respectivamente, durante a cúpula de Bruxelas em 30 de junho de 2019 John Thys

Líderes europeus retomaram neste domingo (30) a quarta discussão sobre a distribuição de altos cargos no bloco, sem uma diretriz clara, após o fracasso de uma proposta de compromisso, o que antecipa uma longa noite de negociações tensas em Bruxelas.

Horas antes, as esperanças estavam no chamado "acordo de Osaka", fechado na cidade japonesa entre os líderes de França, Alemanha, Holanda e Espanha, e que cedia a presidência da Comissão ao candidato social-democrata, o holandês Frans Timmermans.

Mas os mandatários do Partido Popular Europeu (PPE, direita), primeira força nas eleições passadas no Parlamento Europeu, rejeitaram antes da cúpula o pacto, confrontados especialmente com os liberais pela presidência do Conselho Europeu.

"Como PPE, não aprovamos o pacote mencionado em Osaka", assegurou em sua chegada à cúpula o premiê irlandês, Leo Varadkar, assegurando que a maioria dos mandatários desta família defendem não deixar cair seu candidato à Comissão, Manfred Weber, "tão facilmente".

A incerteza provocada pelo repúdio ao compromisso se refletiu no início da cúpula, que demorou quase três horas e meia até as 16H20 de Brasília, precedida de múltiplos contatos entre mandatários e famílias políticas para abrir o caminho rumo a um acordo à noite.

E menos de duas horas depois, os mandatários começaram um recesso para fazer novos contatos bilaterais a fim de "tentar averiguar como encontrar" uma solução para a distribuição de altos cargos, segundo um diplomata europeu.

As negociações não se anunciam fáceis, devido à forma como se apresentam as coisas , advertiu a chanceler alemã, Angela Merkel, que enfrenta a pressão dentro de sua própria família do PPE pelo "acordo de Osaka".

Quando o PPE aparece dividido sobre o apoio a Timmermans, a Espanha, com o social-democrata Pedro Sánchez à frente, aumentou a pressão, assegurando que os liberais também apoiam o holandês e que seria irresponsável não alcançar um pacto neste domingo, segundo uma fonte do governo espanhol.

- O fator Timmermans -

Dez dias depois de fracassar em uma nova tentativa de conseguir um consenso em torno de seu nome, a designação do atual vice-presidente da Comissão Europeia aparecia como uma opção para desbloquear o restante dos altos cargos e evitar uma eventual crise institucional com o Parlamento Europeu.

Mas além de alguns líderes do PPE, Timmermans enfrenta o repúdio dos presidentes de Polônia, Hungria e República Tcheca, que não o consideram "um candidato de compromisso", mas um candidato que gera muita dissensão e "[que] não entende a Europa Central", segundo o polonês Mateusz Morawiecki.

Em sua alça de mira estão os procedimentos de infração abertos pela Comissão contra estes países, especialmente pelo repúdio a respeitar as cotas de distribuição de refugiados e, no caso da Polônia, o processo aberto por sua controversa reforma judicial.

Mas estes três países não poderiam sozinhos bloquear a nomeação do social-democrata, mas, juntos com outros países, poderiam comprometer sua nomeação, que precisa de pelo menos 21 dos 28 mandatários, cujos países representem 65% da população do bloco.

Por isso, a posição dos líderes do PPE é chave. Fontes destes partidos tinham indicado à AFP que Weber estava disposto a dar um passo atrás, em troca de conseguir a presidência da Eurocâmara para ele e a presidência do Conselho Europeu para sua família política.

A exigência dos liberais deste último cargo teria acabado com um eventual compromisso. O primeiro-ministro belga, Charles Michel, soa como candidato ao Conselho pelos liberais, enquanto pelo PPE, o presidente romeno, Klaus Iohannis, aparece nas apostas.

Se não chegarem a um acordo neste domingo, os líderes poderiam se encontrar novamente em 15 de julho, segundo fontes diplomáticas, mas se expõem a deixar as rédeas da distribuição de altos cargos ao Parlamento Europeu, que escolhe seu presidente na próxima quarta-feira.

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