Idosa é sedada, aberta e máquina cirúrgica não funciona

Família denunciou o caso ocorrido em um hospital do Recife ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE). "Como você seda e abre um paciente em alto risco sem saber se os equipamentos necessários para a realização do procedimento estão ok?", questiona o neto da paciente

qui, 04/07/2019 - 12:19
Reprodução/Google Street View Paciente segue internada à espera da cirurgia Reprodução/Google Street View

A família de uma servidora aposentada de 76 anos foi ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), na manhã desta quinta-feira (4), para denunciar o descaso sofrido pela idosa nos últimos 15 dias nas unidades do Hospital Nossa Senhora do Ó. Maria Helena Nascimento de Santana teria sido aberta para cirurgia de colocação de marca-passo, mas a máquina utilizada no procedimento não teria funcionado.

Essa não é a única ocorrência reprovada pelos familiares. A idosa estaria sendo negligenciada pela equipe de enfermagem, teria sido transferida para uma unidade que não estava informada de sua transferência e ela segue esperando a cirurgia sem previsão.

Maria Helena foi socorrida no dia 16 de junho para a emergência do Hospital dos Servidores do Estado, no centro do Recife, onde foi encaminhada para a ala vermelha, pois estava com fracos batimentos cardíacos. Em seguida, ela foi transferida ao Hospital Nossa Senhora do Ó, em Paulista, Região Metropolitana do Recife (RMR).

Em Paulista, a paciente recebeu com urgência um marca-passo externo. Segundo o neto de Maria Helena, o pedagogo Thuan Nascimento, os médicos acreditam se tratar de uma reação por causa da ingestão de medicamento indevido. Foi solicitado o acompanhamento da idosa por oito dias até o efeito do remédio sair. "Os dias foram se passando e os médicos confirmaram que minha avó precisaria de um marca-passo definitivo", diz Thuan.

No período em que a idosa ficou internada, os familiares notaram que ela estava acuada e triste. Em determinado momento, ela revelou que as técnicas de enfermagem eram rudes e a tratavam mal. "Ela não podia pedir água que elas reclamavam, demoravam a levar", diz documento endereçado ao MPPE. As enfermeiras também teriam dito abertamente que não queriam ficar com Maria Helena porque ela era de alto risco e "muito pesada".

Segundo Thuan, o procedimento cirúrgico estava marcado para segunda-feira (1º), mas foi cancelado porque a máquina utilizada para fazer o procedimento estava quebrada. A mulher, então, foi transferida para a unidade do Prado, no Recife, do mesmo hospital. "Quando chegamos lá não tinha nenhuma documentação da minha avó encaminhada e disseram que não tinha vaga. Só depois de muito tempo ela foi levada para o bloco cirúrgico. Como uma paciente é transferida para um hospital da mesma rede, chega lá e não tem documento nenhum dela?", questiona o neto, inconformado.

Na unidade do Padro, a idosa chegou a ser sedada, cortada, porém a máquina que ajuda na realização do procedimento também não teria funcionado. "Todos ficaram chocados com isso. Todos. Isso é um absurdo. Como você seda e abre um paciente em alto risco sem saber se os equipamentos necessários para a realização do procedimento estão ok?", critica Thuan. Em um documento obtido, o médico responsável pela cirurgia afirma ter havido problemas técnicos e que, após uma hora de tentativa, o procedimento foi desfeito.

Após a segunda cirurgia frustrada, paciente e família voltaram para o Hospital Nossa Senhora do Ó de Paulista - em uma ambulância de péssimas condições, segundo o neto. Na última quarta-feira (3), a direção do hospital teria informado que ainda não sabiam como resolver a situação, porque haveria um tempo da abertura do chamado de conserto até a máquina poder ser utilizada. "Não queremos dinheiro. Queremos a minha avó bem. Do jeito que ela merece por direito. Queremos justiça pela 'brincadeira' que estão fazendo com a situação de risco", diz o neto sobre a denúncia ao MPPE.

Ainda segundo o denunciante, o serviço social do hospital estaria colocando a culpa para o plano de saúde, mas ele afirma que a responsabilidade seria do Nossa Senhora do Ó. O LeiaJá procurou a direção do hospital para comentar o caso e aguarda um retorno. 

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