Diagnóstico tardio prejudica tratamento do câncer no Pará

Estado registra os mais altos índices da doença no pulmão, segundo pesquisa nacional

ter, 06/08/2019 - 17:38

Pesquisa divulgada pela organização não governamental Instituto Oncoguia, baseada nos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) do Instituto Nacional de Câncer (Inca), mostra que 86,2% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados em estágio avançado no Brasil. O levantamento considerou 6,9 mil casos de câncer de pulmão registrados no ano de 2016. Nos Estados do Pará, Ceará e Bahia, os registros tardios chegam a 95% e, em Sergipe, 100%.

“Esses números são extremamente preocupantes, considerando que o câncer de pulmão é o que tem maiores índices de mortalidade no mundo e as chances de cura estão diretamente relacionadas ao estágio em que a doença é descoberta”, alerta o cirurgião oncológico Antônio Bomfim.

No caso dos tumores identificados em estágios avançados (3 e 4), a chance de o paciente morrer nos próximos cinco anos é de aproximadamente 90%.

Segundo o Globocan, projeto da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), em 92% dos registros o paciente morre em decorrência da doença. O câncer de pulmão é o que mais mata no Brasil, apesar de ser o 4º em incidência (sem considerar o câncer de pele não melanoma), atrás do colorretal, em 3º lugar; do de próstata, em 2º; e do câncer de mama, o mais incidente no país.

Os números divulgados pelo Oncoguia indicam ainda que em 79,1% dos casos de câncer de pulmão há relação com o tabagismo (os pacientes eram fumantes ou ex-fumantes). Apenas 21% nunca tiveram contato com o tabaco. “O lado bom disso é que o câncer de pulmão, ao mesmo tempo que é o tipo mais letal, é evitável. Quem não fuma e não é fumante passivo tem as chances de ter a doença reduzidas drasticamente”, explica o médico.

Para 2019, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 31.270 novos casos. A grande diferença entre o número de casos estimados e o número de casos notificados, registrados oficialmente, reflete um outro problema, que é a subnotificação. “As políticas públicas são baseadas em dados oficiais e apenas 24,5% dos casos foram oficialmente notificados no Brasil em 2016. Precisamos que a notificação compulsória do câncer, que é uma lei que já foi aprovada há um ano, seja implementada”, destaca o especialista, antes de falar da evolução do tratamento.

Uma das maneiras de tratar o câncer de pulmão é por meio de cirurgia. “É a melhor opção de tratamento nos casos iniciais. Nos demais casos, o tratamento é decidido de forma multidisciplinar, entre o cirurgião, oncologista clínico e radioterapeuta”, explica o cirurgião torácico e oncologista Antônio Bonfim. “Nos tumores iniciais, a chance de cura é de mais de 80%”, destaca ele.

“Por ser considerado um procedimento de grande porte, buscamos sempre as melhores técnicas para minimizar o sofrimento dos pacientes. A técnica de cirurgia por vídeo é o que existe, hoje, de menos invasivo. A maioria das cirurgias ainda é feita com duas ou três incisões – técnica multiportal, mas já há uma evolução da técnica para a uniportal, com apenas uma incisão. Esta é a que mais cresce no mundo”, explica o médico.

O cirurgião paraense acaba de voltar da China, onde participou de um curso de especialização em cirurgia torácica pela técnica uniportal, no Departamento de Cirurgia Torácica do Hospital do Câncer de Yunan. Foi Antônio Bomfim o primeiro a utilizar, no Pará, a técnica uniportal, em 2016.

A cirurgia uniportal possibilita procedimentos pouco invasivos, com apenas um pequeno corte, de três centímetros, na lateral do tórax. A técnica foi criada em 2010 pelo espanhol Diego Gonzalez Rivas, que já disseminou seu conhecimento ministrando cursos em 104 países e mais de 56 cidades da China.

A China é hoje um dos maiores centros de inovação em cirurgia para câncer de pulmão do mundo. A incidência da doença no país é alta por causa do tabagismo, que atinge 80% da população, e da grande poluição ambiental.

Por Dina Santos, especialmente para o LeiaJá.

 

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