Aniversariantes bissextos e a festa no dia que não existe

“Ano eu comemoro em todos, aniversário só de quatro em quatro”, reforça um dono de lanchonete, nascido no dia 29 de fevereiro. Os aniversariantes bissextos são conhecidos como saltadores pela relação íntima com o tempo

por Victor Gouveia qua, 26/02/2020 - 15:07
Júlio Gomes/LeiaJáImagens Jailam das Chagas revela que chegou a esquecer um dos seus aniversários Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Estar rodeado de pessoas queridas para celebrar mais um ciclo de vida acaba sendo algo raro para os nascidos no dia 29 de fevereiro. Embora todo ano uma festinha dê boas-vindas à idade nova, o gosto especial de viver o "seu dia" fica restrito a cada quatro anos, quando o dia é inserido no calendário. Conhecidos como 'saltadores', pela relação íntima com o tempo, muitos brincam com a capacidade de "enganá-lo" e um suposto poder de longevidade. Além da conexão e o sentimento de privilégio com a data incomum, eles compartilham uma sensação especial de orgulho.

Acostumados a celebrar o aniversário em dias que não marcam seu nascimento - geralmente 1º de março ou 28 de fevereiro - eles são forçados a enfrentar a crendice popular que determina que festejar com antecedência ou atraso traz má sorte para o decorrer do ano. Assim como dão um ‘calote’ no tempo, frases populares como “só te pago no dia 29 de fevereiro”, servem para enganar cobradores e constatar a baixa frequência da data, que a torna quase inexistente. 

Com um 2020 bissexto e o acréscimo em fevereiro, a reportagem do LeiaJá conversou com alguns ‘saltadores’ para conhecer suas impressões e experiências passadas. Desde 2016 sem celebrar no dia do nascimento, eles não alteraram a documentação e exaltam a escolha com orgulho.

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Ao destacar a lei de registros, a presidenta da Associação dos Registradores das Pessoas Naturais do Estado de Pernambuco (Arpen), Anita Cavalcanti, afirma que não há impedimentos para que a criança tenha a data nos documentos. "Em momento nenhum a Lei 6.015 faz menção às pessoas nascidas no dia 29 de fevereiro. Não há diferença, o registro é normal como qualquer outro", pontua. 

Com o boato que os bissextos passariam a ser registrados nos dias entre o 29, ela reforça que os cartórios devem cumprir o encaminhamento feito pelas maternidades e os aniversariantes não serão lesados futuramente. "O cartório tem a obrigação de aceitar o que tem na Declaração de Nascidos Vivos. Em momento nenhum a gente pode mudar a data que consta ali", complementa.

“Ano eu comemoro em todos, aniversário só de quatro em quatro”

Jailam das Chagas, nascido em 1976, admite que chegou a esquecer um de seus aniversários e, como habitual, organizou a festança para o dia 28. Só durante a comemoração, ele foi lembrado que o dia seguinte marcava de fato o seu nascimento e, para “não passar em branco”, fez mais uma comemoração. No entanto, o que impressiona é o fato do proprietário de uma lanchonete na Zona Norte do Recife revelar que a meia-irmã também é bissexta. Ele reforça que está ansioso para a chegada dos 44 anos e planeja fazer uma festa junto com a meia-irmã Valéria.

O adolescente Dannilo Miranda também descreve um sentimento diferente para 2020. Na espera dos seus 16 anos, desde 2004, o estudante só vivenciou três anos bissextos, ainda muito novo. A mãe Cláudia Pessoa conta que retornou ao cartório para corrigir a vontade do escrivão, que não optou por não colocar o nascimento correto na certidão do menino. Como é seu primeiro “aniversário”, a mãe garante que ele vai ganhar um "festão" com todos os amigos.

Devido à condição, Jéssika Malheiros não pôde nem ter a tradicional festa de 15 anos. Às vésperas dos seus 33 anos, ela garante que não se importou em não realizar o baile de debutante e que a grande celebração é dividir a data com quem ama. A dona de casa também pretende comemorar este ano de forma especial e relata tentativas humoradas do pai para não dar presente.

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