CBTU ainda não sabe o que causou colisão entre trens em PE

Representantes da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) participam de uma audiência pública nesta quinta (27)

por Victor Gouveia qui, 27/02/2020 - 13:16
Victor Gouveia/LeiaJáImagens Representantes da sociedade civil e o Sindicato dos metroviários participaram da audiência Victor Gouveia/LeiaJáImagens

Para promover um amplo debate e encontrar soluções viáveis para o sistema de metrô do Grande Recife, na manhã desta quinta-feira (27), representantes da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) participam de uma audiência pública junto ao Governo do Estado, Procon-PE, entidades relacionadas e representantes da sociedade civil. A reunião ocorre após uma colisão entre composições e às vésperas de um novo aumento tarifário.  

Devido aos relatos de descaso dos passageiros, desde outubro o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-PE) acompanha a operação da CBTU. As denúncias se somaram às recorrentes falhas e interrupções do sistema, que culminaram na reunião para que medidas cabíveis sejam dialogadas. 

Sem informações concretas em relação ao abalroamento que deixou cerca de 60 passageiros feridos, o assessor jurídico da superintendência da CBTU, Walter Neukranz, informou que o caso segue em análise por uma comissão interna, que tem 30 dias para apresentar um laudo conclusivo. "A gente não sabe o tipo de falha que pode ter ocasionado o acidente", completou.

Ele solicitou um maior prazo para enriquecer a defesa, ressaltando que houve uma concentração especial de esforços para operar durante o Galo da Madrugada. Dez dias adicionais foram concedidos.

O secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, pontuou que o intuito da conversa era encontrar caminhos para resolver os problemas enfrentados diariamente pelos 400 mil usuários. "Não é uma reunião para se estabelecer um campo de guerra", avaliou. 

"A minha preocupação é o fato da gente ver que esses trens estão sendo gradativamente canibalizados", frisou o secretário. O assessor ponderou: "todos sabem que é um sistema que está com problemas". Mesmo com o reajuste gradual que aumenta a passagem de R$ 1,60 para R$ 4, Walter alega que o corte de repasses do Governo Federal é a principal motivação para a defasagem do serviço.

"Nossa ineficiência hoje é por que precisamos de mais trens", explanou. Com 35 anos, atualmente o sistema roda com 31 composições, enquanto 18 seguem paradas para que suas peças sejam retiradas e postas em outros trens.  Ele calcula que uma possível melhoria só seria percebida em cinco anos, caso fosse acrescido R$ 30 milhões no orçamento anual. Em 2019, através da Lei de Orçamento Anual (LOA), a União reduziu o valor para R$ 56 milhões.  

O representante da companhia chegou a afirmar que seria necessário o quíntuplo do orçamento ou a ajuda da população para que as condições estruturais sejam mantidas. Lixo nas escadas rolantes e elevadores danificam os dispositivos, além do acionamento indevido da alça de emergência que atrasa as viagens.

Walter também frisou os frequentes roubos de cabos elétricos e confirmou a dificuldade para manter a segurança nas estações.

Como representante dos passageiros, a conselheira do Conselho Superior de Transportes, Vera Lúcia da Silva, descreveu que falta comprometimento para que a qualidade seja mantida."O serviço é zero e só tá aumentando passagem. Nós não temos mais um metrô digno[...] infelizmente a gente é obrigado a usar", declarou.

Ela acredita que o assessor foi infeliz em culpar a sociedade e generalizar os usuários. "Quando ele diz que não tem dinheiro e que ele faz e a gente quebra, eu me senti marginalizada", complementou.

Além de cobrar verba federal, a CBTU alega que mais de 50% dos passageiros usam o transporte mas não deixam dinheiro, por conta do sistema de integração entre ônibus. A companhia também reivindica o aporte do Governo do Estado.

O representante jurídico do Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), Roberto Campos se contrapôs às alegações. “Esses repasses estão em dia. Somente no ano de 2019, nós repassamos quase R$ 40 milhões”, apontou. De fato há a cobrança dos repasses entre 2013 e 2018. Contudo, o CTM não reconhece tal dívida.

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