Conheça histórias de solidariedade em meio à pandemia

Iniciativas de amigos e familiares aliviam o sofrimento da população carente

por Alex Dinarte sex, 08/05/2020 - 15:49
Arquivo Pessoal Integrantes da Ação Social Gângsters Futsal, na zona leste de SP Arquivo Pessoal

Com a pandemia causada pelo novo coronavírus (Covid-19), iniciativas idealizadas pela população se tornaram uma saída para alimentar quem mais precisa. Além da crise sanitária, a queda de renda dos trabalhadores informais e a demora em obter o auxílio emergencial de R$ 600, prometido pelo Governo Federal, fazem com que as dificuldades dos mais vulneráveis sejam ainda maiores. Entretanto, no que depender da força de vontade de quem encara os próprios desafios para ajudar os necessitados, o problema passa longe quando é hora de atender o chamado da solidariedade.

Em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, o Projeto Gestos de Amor vai do Centro aos bairros mais afastados para cumprir a missão solidária de alimentar a população em situação de rua. "São cerca de 60, 70 marmitas todo mês. A gente está tentando aumentar, está um pouco complicado por causa do coronavírus, mas a gente está fazendo isso duas vezes na semana", declara a cabeleireira Elza Lindenbergue, 33 anos, uma das integrantes da ação.

Os participantes do Projeto Gesto de Amor, de Guarulhos | Foto: arquivo pessoal

Apesar das incertezas originadas com a pandemia, Elza comemora o fato de que o grupo tem recebido mais doações para seguir com o trabalho. "Parece que estão levando mais a sério. Hoje em dia estão doando mais porque conseguem ver nos meios de comunicação o que realmente está acontecendo", conta.

Segundo a cabeleireira, o grupo supera obstáculos e mesmo em momentos de dificuldade, segue em frente e batalha por recursos de diversas maneiras. "Quando vem bastante roupa nova, sapato novo, a gente vende para completar o que falta no dinheiro da marmita. Muitas vezes temos o arroz e o feijão, mas não tem nada para complementar", afirma ela, que faz apelos por doações para manter o trabalho usando as redes sociais.

Para a Elza, ações como as do Projeto Gestos de Amor são capazes de mudar a realidade dos necessitados e de quem doa. "A gente conseguiu um albergue para um rapaz e pouco tempo depois vimos ele passando de terno, acho que ele conseguiu um emprego. Damos mais valor à vida e não pensamos só na gente", diz.

Já em Itaquaquecetuba, outro município da Grande São Paulo, a prática esportiva virou solidariedade. Originado em uma equipe de corrida de rua, o projeto Just Help não nasceu só para cuidar da saúde dos componentes, como relata o publicitário Danilo Correia, 27 anos. "Nos preocupamos com o bem-estar do próximo e decidimos montar o Just Help para ajudar o comércio local e as famílias carentes da nossa região", declara. Nas ações do grupo, em bairros como o Jd. Caiuby e Jd. Maragogipe, são distribuídos alimentos, roupas e até móveis. "São diversos casos que chegam até nossa equipe e então começamos a correr atrás seja qual for a necessidade", complementa Correia, que divide as tarefas com os amigos Rodrigo, Gil, Ramon, Kaique, Henrique, Gabriel, Eric, Italo e Elton.

Alimentos arrecadados pela ação do Just Help | Foto: arquivo pessoal

Segundo o publicitário, a pandemia não atrapalhou a iniciativa do Just Help. O grupo que ajuda também recebe auxílio. "Conseguimos doações de máscaras que estamos repassando às famílias carentes, além de nos cuidar utilizando os equipamentos durante as entregas", conta. Ainda de acordo com Correia, a satisfação está em realizar sonhos e atender às necessidades da comunidade. "Enquanto houver pessoas precisando de assistência, estaremos trabalhando constantemente para realizar sonhos, garantir a alimentação e transformar vidas", complementa ele, que faz questão de expor que a equipe não tem relações com políticos, religiosos e empresários.

Outra iniciativa oriunda do esporte é a Ação Social Gângsters Futsal da Cohab II, zona leste da capital paulista. A ideia é recente, mas a união dos amigos e a iniciativa do presidente do time, o técnico em segurança do trabalho Ronaldo da Silva, 40 anos, colocaram o projeto para funcionar. Sem tempo hábil para fazer comida e aliviar a fome dos necessitados, a solução foi fazer 120 lanches, além de comprar refrigerante e biscoitos para a entrega. "Compramos pão, salsicha, fizemos um lanche caprichado, levamos luvas e máscaras para manusear os alimentos e saímos distribuindo", relata Silva. A distribuição fez a equipe perceber que precisava seguir. "Tinha gente falando que estava há dois dias sem comer e vi que tinha que fazer alguma coisa para continuar com a doação", ressalta.

Sem tantos recursos, o jeito foi apelar para os amigos e as redes sociais para conseguir uma refeição mais completa à população carente. Os 120 lanches então ficaram no começo da história, e o projeto cresceu de maneira inesperada, como recorda Silva. "Um amigo que é jogador profissional doou 200 'marmitex' e fui atrás da doação de macarrão. Arrecadamos muito mais do que e passamos para 600 marmitas nessa entrega. Agora já são 120 por semana", comemora. Segundo o presidente do time, alguns recursos financeiros doados por parceiros ajudam nas despesas da cozinha.

A emoção da população de rua em receber alimento e água é gratificante. "Ver o brilho nos olhos, a alegria da pessoa... Às vezes chegamos a ser até psicólogos, pois são muito carentes", declara. Para Silva, a pandemia impede o contato com um abraço ou aperto de mão, mas não atrapalha no ato solidário. "É muito bom chegar em casa é saber que contribuímos de certa forma e não importa se é um morador de rua, usuário de droga, trata-se de um ser humano necessitado e não estou ali para julgar ninguém", enfatiza.

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