OMS prevê que pandemia irá durar menos de dois anos

Desde que a doença surgiu, em dezembro passado, na China, já causou 796.823 mortes no mundo e infectou 22,8 milhões de pessoas, segundo um balanço da AFP

sab, 22/08/2020 - 08:10
ANWAR AMRO Transeuntes usam máscaras protetoras em 29 de julho de 2020 em Beirute, Líbano ANWAR AMRO

Em meio ao alerta causado por uma nova onda de coronavírus na Europa, no momento em que o contágio parece perder força em Brasil e Estados Unidos, países mais afetados, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta sexta-feira (21) esperar que a pandemia dure menos de dois anos.

"Esperamos acabar com esta pandemia em menos de dois anos. Principalmente se conseguirmos unir nossos esforços e utilizarmos ao máximo os recursos disponíveis, e esperando que possamos contar com ferramentas suplementares, como vacinas, acredito que poderemos acabar com a mesma em um prazo mais curto que o da gripe de 1918", assinalou o diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus.

Desde que a doença surgiu, em dezembro passado, na China, já causou 796.823 mortes no mundo e infectou 22,8 milhões de pessoas, segundo um balanço da AFP com base em fontes oficiais.

O país mais afetado, Estados Unidos, soma 5,6 milhões de casos e mais de 175 mil mortos. O número de novos infectados por dia diminuiu nas últimas três semanas, para 43 mil nesta quinta-feira.

"Podemos esperar que, na semana que vem, começaremos a observar uma redução do número de mortos", disse ontem o diretor do Centro para a Prevenção e Controle de Enfermidades (CDC), Robert Redfield, à revista médica "Jama".

Ao desafio de lidar com a pandemia , somaram-se esta semana na Califórnia, um dos estados americanos com maior número de infectados, incêndios que se propagam sem controle e provocam a retirada da população local.

A OMS também avaliou hoje que a situação da Covid-19 se estabilizou no Brasil, e considerou que seria "um sucesso para o mundo" que o país, o mais afetado pela pandemia na América Latina, freasse a rápida transmissão do vírus.

O diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, afirmou durante coletiva de imprensa que houve "um claro declínio em várias partes do Brasil" dos casos da doença. O Brasil é, depois dos Estados Unidos, o segundo país do mundo com maior número de mortos e casos do novo coronavírus.

"A aceleração dos casos se estabilizou, mas continua havendo um número muito elevado de casos e alto demais de mortos", disse Ryan a respeito do país, onde, na última semana, foram registrados 6.900 óbitos e 290.000 casos de Covid-19.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPS), por outro lado, advertiu que as gestantes correm um risco maior de desenvolver as formas graves da doença, e que o Brasil é o país com maior mortalidade neste grupo.

- Pobreza e coronavírus -

Quase um terço das mortes causadas pelo novo coronavírus se deu na América Latina (252.233 óbitos), onde a pandemia acentua a pobreza, ameaçando apagar uma década de avanços sociais.

Milhares de famílias enfrentam o dilema de encher o estômago ou se proteger de uma infecção. "Por causa desta pandemia, fiquei desempregada. Tem dia que até pulamos uma refeição porque a situação é difícil", diz Milena Maia, que mora em Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo.

A América Latina representa 9% da população mundial e registrou 40% das mortes globais nos últimos dois meses. "Isto nos dá uma ideia do tamanho do impacto", diz Luis Felipe López-Calva, diretor para a América Latina do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que prevê um retrocesso "de até 10 anos nos níveis de pobreza multidimensionais", na ausência de políticas eficazes.

Somente na região, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a pandemia colocará 45 milhões de pessoas na pobreza, elevando o total para 231 milhões, 37,3% da população latino-americana.

Os problemas sociais se multiplicam. Nas prisões brasileiras, por exemplo, o coronavírus isola ainda mais os detentos de suas famílias e mostra a deficiência dos serviços de saúde.

Na Argentina, que registrou nos últimos dias um novo recorde diário de infectados, superando 8 mil, foi anunciada a fase três dos testes do projeto de vacina do grupo chinês Sinopharm.

- Situação difícil na Europa -

Na Europa, o número de novos casos diários divulgado hoje em França, Itália, Alemanha e Espanha preocupa e mostra um novo surto da doença, em grande parte devido às viagens durante as férias de verão.

Na Espanha, autoridades da região de Madri recomendaram hoje que a população fique em casa nas áreas mais atingidas pelo novo coronavírus, enquanto o número total de casos no país aumentou mais de 8 mil em 24 horas. Já a França deu conta do segundo dia consecutivo com mais de 4 mil novos casos, cifra não registrada desde maio.

Mas não foi apenas na Europa que a flexibilização das medidas de confinamento foi revertida. Com hospitais transbordando de pacientes com a Covid-19 e os feridos na explosão mortal de 4 de agosto no porto de Beirute, o Líbano, que enfrenta taxas recordes de infecções, voltou a se confinar nesta sexta-feira, com toque de recolher diário durante a noite.

O país, que registra oficialmente 9.758 casos de coronavírus (107 mortes), está "à beira do abismo", alertou o ministro da Saúde, Hamad Hassan.

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