Recife: preço do frango preocupa comerciante e consumidor

Vendedores dizem que estão reduzindo o lucro para não perder clientes. Na última pesquisa de cesta básica do Procon-PE, a carne de frango foi a que registrou o maior aumento, de 21%

por Vitória Silva seg, 19/10/2020 - 16:04
Júlio Gomes/LeiaJáImagens Cesta básica está impactando 45% do salário mínimo, segundo o Procon-PE Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Como a maior parte dos itens da alimentação básica no Recife, a carne de frango passou por mais um aumento e chega aos 21% de alta no mês de outubro, segundo levantamento do Procon-PE para este mês. O item tornou-se o mais caro da cesta básica, que também não para de aumentar, chegando aos R$ 471,90 e com impacto de 45% sobre o salário mínimo. Consequentemente, comerciantes e consumidores da capital e região metropolitana já sentem o efeito desse aumento na carne branca, e a prospecção para a virada outubro-novembro é de um aumento iminente, ou mesmo de substituição nas refeições.

Para garantir a clientela, que ainda consegue se manter apesar da pandemia, os lojistas têm diminuído a própria margem de lucro para controlar o valor de saída aos consumidores. Contudo, com o lucro reduzido e ainda nenhuma previsão de baixa, a estimativa é de que o repasse já sofra aumento na entrada de novembro.

O LeiaJá conversou com comerciantes e consumidores dos mercados públicos de Casa Amarela e Encruzilhada, ambos na Zona Norte do Recife, e dois dos mais populares da cidade.  No Mercado da Encruzilhada, “China”, 44, proprietário de um açougue homônimo há 15 anos, alerta que o aumento para o consumidor pode não esperar a virada para o mês de novembro. “O pessoal ainda tá levando mais frango, porque o frango é mais barato em relação às outras carnes. Ainda não aumentei o meu preço, mas se aumentar mais um pouco (com os fornecedores) vou ter que repassar mais alto. O preço de hoje pode não ser o mesmo de amanhã. Se hoje estou vendendo os cortes a R$ 12, mas no fim da tarde já compro mais caro, amanhã precisarei aumentar R$ 0,50 ou R$ 1. Depende do dia. O pessoal acha caro, mas eu não lucro nada, vou fazer como?”, questionou.

A queixa de China se repetiu entre todos os comerciantes ouvidos. Como o frango, as demais carnes têm saído por um preço mais alto, e a realidade do consumidor é escolher a opção menos cara. Taises Mirely, 27, é gerente de um frigorífico tradicional de Casa Amarela e reafirma os pontos dos colegas de profissão.

“A partir do momento que a gente compra já num valor alto, se não aumentar, como é que a gente vai tirar o lucro? Por enquanto, a gente tá tentando manter o nível para não perder clientes, e tá dando para fazer assim. O frango pode se tornar a carne mais cara daqui para o mês que vem. Mas tá variando bastante. Nosso quilo do peito de frango é R$ 10,99, mas teve uma cliente que chegou na semana passada falando que quase comprou a R$ 13,99, aqui perto. E dá até para entender o preço do concorrente”, explicou a gerente.

Para os comerciantes que trabalham exclusivamente com a carne de frango, a impressão é de que os aumentos são tão constantes que já não se sabe a causa exata. Do aumento da ração das casas de criação ao aumento do dólar e seu impacto geral, as respostas dos fornecedores se revezam, é o que explica Marcelo José, 42, balconista de uma granja de médio porte também em Casa Amarela.

Ele diz que a empresa consegue manter o preço da maior parte dos alimentos, pois tem algumas coisas “ao próprio favor”, mas que “para quem paga aluguel ou só pode comprar em pouca quantidade, não dá para segurar em um valor muito baixo. O nosso frango natural, por enquanto, segue a R$ 10,90, o mesmo preço do mês passado. E conseguimos segurar, mesmo depois de dois aumentos, mas esperamos uma redução, ou não vai dar para segurar pro cliente”. 

Márcia Silva, dona de casa, 47, é uma das consumidoras que já não conseguem mais acompanhar o preço atual do frango. “Estou comprando agora, depois de umas três semanas sem comprar frango, e isso porque aqui foi um dos lugares mais baratos que encontrei. Não está dando, e tenho comprado carne de segunda, carne dessas de lata. Também substituo o frango por hambúrguer, que compro a menos de R$ 1, ovos, salsicha, qualquer opção mais barata”, disse, enquanto finalizava as compras em um dos estabelecimentos visitados.

O LeiaJá também ouviu Arthur Gonçalves, 28, que é proprietário de um restaurante no Mercado Público de Casa Amarela. Ele relata estar fazendo aumentos consecutivos em seus pratos. “Sei que precisei aumentar os pratos de um em um real. Com um frango caro, arroz caro e até um óleo a R$ 8, precisei subir o preço dos pratos. Mesmo assim, a margem de lucro só faz diminuir. Durante a pandemia eu fechei, retornei há pouco tempo. Não sei se vale a pena o trabalho, nem manter aberto”, explicou.

De R$ 12, o prato do restaurante de Arthur agora é vendido por R$ 15. Além do seu estabelecimento, outros dois restaurantes do local também fecharam as portas por aproximadamente seis meses durante a pandemia.

Em todos os estabelecimentos que trabalham com a carne de frango, nos dois mercados visitados, o preço do frango natural varia entre R$ 10,99 e R$ 13 o quilo. Para os cortes, o preço vai de R$ 10 a R$ 11,99. Já para o peito de frango, o menor preço foi R$ 10,99 e o maior, R$ 11,99, apresentando a menor variação.

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