Paulo Câmara demite ex-presidente do Sinpol

Áureo Cisneiros acusa o governador de adotar uma postura antissindical. Para ele, Paulo Câmara tomou a decisão só agora para não interferir nas eleições de 2020

por Jorge Cosme ter, 05/01/2021 - 13:48
Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo Sindicalista diz que vai recorrer ao Judiciário Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

O governador Paulo Câmara (PSB) demitiu da Polícia Civil o ex-presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol), Áureo Cisneiros. A decisão foi publicada no Diário Oficial desta terça-feira (5). Cisneiros acusa o governador de exercer uma postura perseguidora e antissindical. 

Paulo Câmara havia recebido da Corregedoria a decisão pela demissão do sindicalista em dezembro de 2018. À época, a categoria fez um protesto no centro do Recife para que o gestor não assinasse o documento. 

Segundo a Secretaria de Defesa Social em nota, foram abertos contra Cisneiros 21 Processos Administrativos Disciplinares (PADs). No último deles, diz a pasta, o policial civil incidiu na contumácia de transgressões disciplinares.

Ele respondia, por exemplo, ao fato de ter denunciado as condições do Instituto de Medicina Legal (IML) à imprensa. No ano passado, ele foi punido pela Secretaria de Defesa Social (SDS) por se manifestar com palavras depreciativas e desrespeitosas ao governador de Pernambuco. Outras punições se deram por contumácia, ou seja, pela transgressão de normas disciplinares de forma repetida.

Ao LeiaJá, o ex-presidente do Sinpol e atual diretor de imprensa do sindicato disse que pretende recorrer ao judiciário ainda nesta terça-feira. "Vamos resistir. Para todo ato injusto há uma correção. A gente está recorrendo ao judiciário e vamos marcar uma mobilização", disse Cisneiros.

Segundo ele, a data da publicação da decisão foi oportuna, visto que o governador poderia ter assinado a demissão desde 2018. "Foi uma decisão estratégica. Deixaram a eleição passar para fazer isso, para não interferir na eleição de João Campos, porque sabem que estão cometendo uma injustiça." Áureo Cisneiros disputou uma vaga como vereador no ano passado pelo Psol, mas não conseguiu se eleger. 

"Eu estou de cabeça erguida, mas é uma injustiça muito grande desse governo do PSB, do Paulo Câmara. Todos os meus processos foram por luta sindical, porque denunciei o IML, reivindiquei segurança pública, as condições das delegacias, a violência aumentando", acusou. "Isso é uma conduta anti-sindical, contra os postulados do próprio PSB, que tem história na luta sindicalista", comentou.

O atual presidente do sindicato, Rafael Cavalcanti, também criticou a decisão do governador. "De maneira sórdida, antidemocrática e antissindical, [o governador] comete um absurdo desses, sabendo que todos os procedimentos de Áureo se devem por sua atuação em defesa dos policiais civis", afirmou

A SDS diz em nota que o servidor já havia sido penalizado com suspensão em outros sete processos administrativos, em quatro deles com a dosimetria máxima de 30 dias. Um parecer da Procuradoria Geral do Estado diz que o PAD que fundamentou a demissão foi instaurado e conduzido de acordo com as prescrições legais e constitucionais, com direito à ampla defesa e ao contraditório. 

A secretaria informou também que, desde 2015, 310 profissionais de segurança pública foram demitidos ou excluídos do serviço público. "A Corregedoria da SDS respeita o livre exercício de manifestação e reafirma que o amplo direito de defesa é garantido em todos os processos disciplinares. É importante esclarecer que esses processos, conduzidos de forma técnica, investigam a atuação de servidores enquanto policiais, sem qualquer relação com atividade sindical", diz a nota.

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