Diabetes: um mal silencioso que avança e preocupa

No mundo todo, um em cada dois adultos com a doença não foi diagnosticado. Com tratamento o paciente pode ter uma vida normal.

ter, 09/03/2021 - 17:26
Arquivo pessoal Maria Creuzuite convive com diabetes desde 2018 Arquivo pessoal

Segundo dados divulgados pela IDF- Federação Internacional de Diabetes, no Atlas da Diabetes 2019, estima-se que 463 milhões de adultos tenham diabetes no mundo. Só o Brasil contabiliza 12,5 milhões de brasileiros com a doença, conforme levantamento da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em 2017, com projeção de 20 milhões para 2045. É o país da América Latina com o maior número de doentes na faixa de 20 a 79 anos, .

Conhecida por ser uma “doença silenciosa”, no mundo, um em cada dois adultos com diabetes não foi diagnosticado – cerca de 232 milhões de pessoas, de acordo com a IDF. Isso ocorre, muitas vezes, porque os sintomas demoram a se manifestar ou não são percebidos pelos pacientes.

Formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), o nutricionista Fabricio Medeiros aponta que sede excessiva, urinar toda hora, cansaço, perda de peso e fome frequente são os primeiros sinais de diabetes, geralmente. A diabetes é uma doença que se caracteriza pelo excesso de açúcar no sangue. Os tipos mais comuns são: diabetes mellitus tipo 1 (DM1); diabetes mellitus tipo 2 (DM2); pré-diabetes (nível de glicose elevado, mas não o suficiente para ser considerado diabetes tipo 2) e diabetes gestacional (alta taxa de glicose no sangue, que afetam as gestantes).

Há quem confunda diabetes mellitus tipo 1 com a tipo 2. Ambos os tipos são crônicos, no entanto a DM1 é uma doença autoimune, de forte determinante genética, mais frequente em crianças e adolescentes. “A Diabetes Mellitus tipo 1 acontece quando o pâncreas não produz ou produz pouca insulina – o hormônio que ajuda na captação de glicose – e é comprovada por exames laboratoriais”, esclarece Fabricio Medeiros. Já a DM2 é caracterizada por uma resistência do organismo à insulina e se manifesta, normalmente, em adultos. “A Diabetes Mellitus tipo 2, responsável por 90-95% dos casos de Diabetes, acontece pela perda progressiva de produção de insulina e resistência à insulina”, complementa.

Pessoas acima do peso, com histórico na família ou mulheres que tiveram diabetes gestacional apresentam maior risco de desenvolverem a diabetes tipo 2. “Nas pessoas que estão acima do peso ou obesas, as células do organismo respondem menos à ação da insulina. O risco de desenvolver a doença também é maior em pessoas que têm pais ou irmãos com diabetes tipo 2, ou que apresentam alterações da glicemia de jejum. Mulheres que desenvolveram diabetes durante a gravidez também têm maior risco”, pontua o nutricionista.

A SBD alerta para os riscos em pessoas que apresentam ainda: pressão alta; apneia do sono; colesterol alto; alterações na taxa de triglicérides no sangue ou alguma outra condição de saúde que pode estar associada ao diabetes, como a doença renal crônica.

Também com altas chances de desenvolver diabetes, os pacientes pré-diabéticos (com glicemias de jejum entre 100 e 125 mg/dl e pós-ingestão de carboidratos em teste de 2h apresentar glicemia entre 140 e 200mg/dl) podem prevenir a doença adotando hábitos de vida saudáveis e uma alimentação equilibrada. “Nesses casos, a prevenção acontece com mudanças de estilo de vida como modificação em sua alimentação e adição de exercícios físicos em sua rotina”, aconselha Fabricio Medeiros.

Por outro lado, a diabetes tipo 1 não pode ser prevenida por meio da alimentação ou outras práticas saudáveis. “A diabetes tipo 1 (DM1) não pode ser prevenida ou retardada pela alimentação pois se trata de um distúrbio autoimune caracterizado por deficiência ou ausência de produção de insulina pelo corpo”,  completa o nutricionista.

Uma vez diagnosticada, a doença não tem cura. “Infelizmente a diabetes não tem cura, mas existe tratamento para que ela seja controlada e o paciente tenha uma vida normal”, afirma Fabricio Medeiros. Os tratamentos podem variar entre o uso de medicamentos (insulina/hipoglicemiante), monitoração glicêmica, terapia dietética, prática regular de exercício e acompanhamento nutricional.

“O tratamento nutricional é a uma parte muito desafiadora e complexa do tratamento, pois tem função de prevenção no caso da Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), gerenciamento da doença e evitar as complicações para o paciente. O paciente deve buscar um profissional que faça um tratamento nutricional individualizado focado nele e que satisfaça as suas necessidades nutricionais, considerando os aspectos sociais, culturais, estilo de vida e preferências alimentares. E inclua os familiares para melhor funcionamento do tratamento”, explica o nutricionista.

Fabricio Medeiros relata ainda que, no Guia Alimentar da População Brasileira, a Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda que alimentos in natura e minimamente processados devam ser priorizados, em oposição aos alimentos industrializados.  “Precisamos evitar os excessos. Não é somente o carboidrato que interfere na glicemia, devemos sempre buscar o equilíbrio na alimentação”, reforça.

Um quadro de diabetes, sem o devido acompanhamento e com taxas de glicose sempre alteradas, aumenta a ameaça de problemas futuros. “As complicações mais comuns são: problemas renais; problemas nas extremidades, que podem gerar amputações e problemas oculares como glaucoma, catarata e retinopatia diabética”, exemplifica Fabricio Medeiros.

A vida com diabetes

Muitas pessoas convivem com diabetes, como é o caso da Maria Creuzuite Araújo de 54 anos. Ela tem diabetes tipo 2. “Eu convivo com a doença desde 2018. Eu descobri que estava com um nível elevado de açúcar no sangue e fiz alguns tratamentos. Eu melhorei, mas depois disso eu relaxei. E quando foi em 2019 eu tive o diagnóstico finalizado pelo médico como já sendo uma doença crônica”, narra.

Creuzuite explica que sempre fazia exames por já haver outros casos na família. “Eu me autoelogiava muito, porque já estava com 50 e poucos anos e ainda não tinha aparecido diabetes em mim. Aí eu descobri fazendo exames. Até então, quando o médico deu o primeiro diagnóstico, pensei que fosse melhorar, que eu não fosse ficar tomando remédios. Fiz outros exames e a resposta foi que eu deveria fazer dieta, consultar um endocrinologista e estar sempre me precavendo", relata.

A vida de Maria mudou após o diagnóstico. “Mudou tudo na minha vida. No início eu perdi um pouco de peso. Mas depois consegui recuperar tentando fazer alimentação na hora certa, às vezes eu saio desse padrão diário, indo na casa dos amigos. No início foi difícil porque eu rejeitava. E quando dizia que estava diabética, geralmente as pessoas olhavam e falavam dando a entender que eu era culpada. Então as pessoas me julgam muito, dá uma certa vergonha de você falar que é diabética”, desabafa.

Agora, ela toma uma série de cuidados devido à doença. “Hoje faço uma dieta, tiro o açúcar – sendo que, na minha realidade, eu não consigo viver totalmente sem açúcar por conta dos lugares aonde eu vou, com quem eu convivo, é complicado. Eu corto açúcar em casa, mas quando saio nem sempre as pessoas têm o que oferecer sem açúcar”, expõe Creuzuite.

Diabetes e a covid-19

A diabetes é considerada fator de risco, em especial se não tratada corretamente, pois apresenta mais chances do paciente com covid-19 evoluir para forma mais grave, devido o sistema imunológico sofrer alterações causadas pelo excesso de açúcar no sangue. “Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, a pessoa com diabetes tem maior risco de complicações pela infecção com a covid-19, principalmente se a glicemia estiver descontrolada”, informa o nutricionista.

Já os cuidados seguem os mesmos para evitar o contágio – utilizar máscara, higienizar constantemente as mãos e evitar aglomerações. “A Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda que todos os pacientes, em risco ou não, devam seguir as mesmas orientações gerais para evitar o contágio. E seguir todas as orientações das autoridades sanitárias vigentes”, lembra Fabricio Medeiros.

Por Carolina Albuquerque e Karoline Lima.

 

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