Sequelas: médicos recomendam exames após Covid-19

Alterações no olfato, paladar, audição e visão podem persistir mesmo depois da recuperação. Médicos comentam a importância de acompanhamento oftalmológico e otorrinolaringológico

por Kauana Portugal qui, 08/07/2021 - 12:17
Unsplash Homem usando máscara de proteção contra a Covid-19 Unsplash

Mais de um ano após o início dos casos do novo coronavírus ao redor do mundo, a comunidade médica segue investigando as sequelas deixadas pela doença. De acordo com o resumo de políticas da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Observatório Europeu de Sistemas de Sistemas e Políticas de Saúde, cerca de uma em cada 10 pessoas apresentam problemas persistentes 12 semanas após o início da infecção.

Alterações nos sentidos do olfato, paladar, audição (perda; zumbido; tontura) e visão são alguns dos comprometimentos que podem ser provenientes da Covid-19. "De maneira geral, quando se fala em Covid-19, logo vem à mente febre, tosse seca e problemas respiratórios. Mas não podemos esquecer que as manifestações oculares (conjuntivite viral, lesões na retina) e as alterações de olfato, paladar, tontura e zumbido também estão associadas não só aos sintomas, mas às sequelas deixadas pela doença”, explica a médica otorrinolaringologista do Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE), Kátia Virgínia.

Olfato e paladar

Não é raro, de acordo com a médica, a ausência de paladar e olfato por até três meses após o acometimento pelo vírus Sars-CoV-2. Além disso, os pacientes também podem relatar dificuldade em distinguir odores, levando o portador a sentir cheiros inexistentes naquele momento, o que demonstra o mau funcionamento das células olfativas. Desta forma, o chamado “Teste do Olfato”, desenvolvido na Universidade da Pensilvânia (EUA), e já disponível no Brasil, tornou-se uma das alternativas mais eficientes na elaboração de terapias olfatórias.

“Para um diagnóstico mais completo, o exame pode ser feito acompanhado de uma videonasolaringoscopia, que observará estruturas da boca, orofaringe e laringe”, acrescenta Kátia Virgínia, que acompanha a realização do teste no HOPE. De fácil aplicação e alta confiabilidade, o exame reúne 40 substâncias ativadoras do olfato. Elas vêm em cartelas, onde o paciente pode cheirar e marcar sua percepção para posterior avaliação do médico. Cada pessoa demora cerca de 15 minutos para concluir. Assim, é possível identificar de forma precisa o tipo de cheiro que foi perdido e acompanhar, com a mesma cartela, a evolução da recuperação.

Audição

Quando o assunto é audição, uma análise publicada na revista “International Journal of Audiology” revelou que a Covid-19 pode não só piorar a percepção sonora como também causar ou agravar a sensação de vertigem e zumbido no ouvido. As pesquisas afirmam que isso ocorre, pois o vírus costuma atingir as células ciliadas da cóclea, responsáveis pela codificação de estímulos sonoros.

“São relatos de zumbidos e uma surdez súbita, que consiste na perda repentina da audição ou a piora abrupta de um problema pré-existente, com a diminuição do limiar auditivo em 30dB em três frequências diferentes" enfatizou a otorrinolaringologista. O exame audiométrico, que avalia a saúde da audição e a capacidade de receber estímulos sonoros do paciente, é imprescindível para estes casos. 

Visão

Embora pouco visibilizados em debates sobre sequelas da Covid-19, problemas oftalmológicos também estão inclusos na lista de possíveis sequelas da doença. A conjuntivite, por exemplo, presente nos relatos iniciais de inúmeros pacientes infectados, pode dar lugar a um acometimento dos vasos da retina, conhecidos como lesões retinianas. 

“É como se o paciente tivesse maior propensão a ter uma lesão da musculatura ocular, fazendo com que a capacidade de enxergar de perto prejudicada seja prejudicada”, explica o oftalmologista Pedro Leonardo, apontando para casos onde há o diagnóstico de presbiopia, ou a popular “vista cansada”. Além disso, o uso de corticóides para combater a inflamação vascular sistêmica ocasionada em casos graves ou moderados da Covid-19 também pode afetar a visão, reforçando a necessidade de acompanhamento médico especializado e repetição de exames.

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