Entre os vacinados no Recife, apenas 11% são pretos

Segundo a prefeitura do Recife, a desigualdade entre raças na vacinação é reflexo da autodeclaração, já que apenas 8% da população do Recife se considera preta

por Victor Gouveia qui, 05/08/2021 - 16:23 Atualizado em: sex, 06/08/2021 - 13:40
Marcos Pastich/PCR Profissional de saúde vacina morador de rua no Recife Marcos Pastich/PCR

Dados do Vacinômetro do 'Plano Vacina Recife' escancaram a disparidade na entrega de doses à população preta. Seja pela restrição de pontos de imunização na periferia ou por dificuldades de deslocamento, o recorte racial da campanha expõe uma realidade excludente.

O Recife iniciou o Plano em janeiro deste ano com a missão de garantir a cobertura vacinal para 1.237.614 pessoas aptas a receber as doses. Dessas, apenas 427.776 tomaram as duas ou a dose única da Janssen. Cerca de 34% da população foi protegida.

O ritmo lento é sentido por todos os recifenses, mas, para os brancos, o imunizante é mais acessível.

A atualização da Secretaria de Saúde (Sesau) na terça-feira (3) mostra que 195.659 caucasianos concluíram o esquema vacinal e 174.410 pardos foram protegidos. No caso dos pretos, só 48.851 foram imunizados.

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Entre os recifenses que já encerraram o ciclo de vacinas, cerca de 45% são brancos, 40% são pardos e apenas 11% pretos.

O que diz a Prefeitura?

"A Sesau lembra que a informação de raça no cadastro é 'autodeclaratória'", apontou em nota enviada ao LeiaJá.

A gestão apresentou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em que apenas 8,31% da população do Recife se considera preta. Partindo deste resultado, afirmou que 43% desse total completou o esquema até o último dia 28 de julho.

Falta de adesão à campanha

Outra motivação sugerida pela Prefeitura cita o desinteresse de quem se agendou e não compareceu para a aplicação.

"As pessoas que se consideram negras e ainda não completaram o esquema vacinal é porque ainda não estão no prazo para receber a segunda dose ou não compareceram na data agendada", complementou no comunicado.

Antes, o LeiaJá denunciou que apenas dois locais de vacinação foram montados em áreas periféricas. Além da “estratégica” escolha dos centros e drive-thrus, a gestão ressaltou uma parceria com transportes por aplicativos para atender gratuitamente ao público. Contudo, falta transparência sobre a quantidades de corridas realizadas, o que deixa em xeque a eficácia da proposta.

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