Motoristas de aplicativos relatam insatisfação

Condições atuais da economia têm dificultado quem ganha a vida dirigindo nas grandes cidades; consumidores também se queixam da qualidade de serviço

por Rafael Sales qui, 02/09/2021 - 19:24
Flickr/Núcleo Editorial - Pedro Caramuru Flickr/Núcleo Editorial - Pedro Caramuru

Na última semana, as instituições responsáveis por monitoramento de motoristas de aplicativos registraram que houve queda no número de profissionais que atuam nesse segmento. A causa está ligada ao aumento do preço da gasolina, que em algumas regiões do Brasil, passou a valer R$ 7 o litro, o que fez com que uma parcela de motoristas largasse o ofício de vez. Além disso, nas redes sociais da Uber é possível encontrar diversas declarações de motoristas insatisfeitos com o repasse de valor líquido de cada corrida.

Este é o caso de Carlos dos Santos, 48 anos, motorista de aplicativo, que afirma ter entrado para o ramo há quatro anos, após ter ficado desempregado. “Trabalho, no máximo, 12 horas por dia e não fico mais tempo porque a Uber bloqueia [o usuário] depois desse período”. Santos comenta que o aplicativo chega a retirar 40% do lucro bruto de cada corrida feita, e às vezes até mais. “Impossível ter lucros. Você empata [o gasto] ou às vezes perde, porque acaba tomando prejuízo por tentar recuperar o que investiu”, relata.

Mesmo ao trabalhar o máximo de horas permitidas pelo aplicativo, Santos conta que em condições normais, no meio da semana, é possível ter um lucro de cerca de R$ 350 (valor bruto). E no fim de semana, como no sábado, cerca de R$ 450 (valor bruto). Entretanto, cerca de 40% desse valor é passado ao aplicativo, além de outros R$ 150 que são necessários para abastecer o carro. Assim, o motorista afirma que não consegue pagar suas contas, e sempre está devendo o cartão de crédito por causa das manutenções do veículo.

Como consequência do desgaste constante, Santos diz que já trocou de carro três vezes nesse período de quatro anos de trabalho e não consegue comprar à vista, o que acaba rendendo mais dívidas por conta do financiamento. O motorista mora com um filho de 15 anos e sua esposa, que atualmente trabalha e acaba sendo um pilar para ajudar nas contas de casa. “Graças a Deus. Se não [fosse por ela], eu estava perdido”, reconhece.

Além da questão financeira, Santos comenta que as condições de trabalho são desgastantes. “Se eu for almoçar em casa, vou gastar combustível. Tem dia que eu faço apenas um lanche e deixo para me alimentar quando chego em casa. Não há organismo que aguente”. Por conta da junção desses fatores, quando há uma chamada de trabalho com o valor mínimo, de aproximadamente R$ 5, Santos se recusa a aceitar a corrida. Segundo ele, “chega a ser humilhação”.

O outro lado

Em contato com o LeiaJá, a Uber se posicionou a respeito do aumento dos combustíveis e disse que vem tomando algumas medidas para reduzir o gasto dos motoristas cadastrados na plataforma. Revelam que têm acompanhando os aumentos de preço dos combustíveis nos últimos meses, que entenden a insatisfação causada pelos seus impactos em todo o setor produtivo e, por isso, a empresa tem intensificado esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos. Por meio do programa de vantagens Uber Pro, a empresa lançou em 2021 diversas iniciativas e promoções para aumentar os ganhos em todos os tipos de viagem, de curta ou longa distância.

A Uber informou ainda vem realizando ações especiais em 2021 nas quais o motorista ganha até 20% de cashback no abastecimento do seu carro. E de forma permanente, pagando com o app "abastece-aí" nos postos Ipiranga, o motorista parceiro da Uber tem direito a 4% de cashback sem que, para isso, precise gastar seus pontos do programa KM de Vantagens. "Isso significa que, além de receber de volta parte do valor gasto no abastecimento, o parceiro ainda acumula mais pontos para usar, por exemplo, na manutenção do carro (troca de óleo, pneu, reparos etc.). Considerando quem abastece um carro 1.0 toda semana com gasolina, por exemplo, a economia estimada supera R$ 500 por ano", explicou a empresa. 

Inúmeros passageiros também já se pronunciaram nas redes sociais sobre a qualidade oferecida pelo aplicativo. Este é o caso de Carolina Rosseto Marques, 30 anos, médica, que começou a utilizar o serviço há alguns anos e o considerava ser superior ao serviço dos táxis comuns, por conta dos carros mais limpos e os motoristas educados. De uns anos pra cá no entanto, segundo ela, isso vem mudando. "Pode ser devido ao baixo repasse que a empresa vem fazendo aos motoristas, mas de uns tempos pra cá a qualidade do serviço caiu demais. Tanto no que diz respeito aos carros, quanto na forma que os motoristas te tratam”, avalia.

 

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