Homem recebe transplante de coração de porco nos EUA

David Bennet, 57 anos, segue bem e estável após três dias do transplante do coração de porco geneticamente modificado

por Jennifer Buarque ter, 11/01/2022 - 13:20
Reprodução/medschool.umaryland.edu Médicos durante cirurgia que transplantou coração de porco para homem Reprodução/medschool.umaryland.edu

Médicos comemoraram o sucesso do transplante de um coração de porco para um homem de 57 anos, na Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. David Bennet, morador de Maryland, foi considerado inelegível para os procedimentos convencionais, como o transplante de coração ou a bomba de coração artificial, sendo o coração de porco sua única opção.

Com uma doença cardíaca terminal e grande vontade de viver, David recebeu a autorização de emergência no dia 31 de dezembro da Food and Drug Administration dos EUA (FDA, órgão similar à Anvisa) para realizar o procedimento.

“Era morrer ou fazer esse transplante. Eu quero viver. Eu sei que é um tiro no escuro, mas é minha última escolha”, disse Bennet, um dia antes da cirurgia.

Bennet segue bem e estável após três dias do transplante do coração de porco geneticamente modificado. No procedimento, foram retirados três genes humanos que são responsáveis pela rejeição dos órgãos de porco pelo sistema imunológico e um gene para evitar o crescimento excessivo de tecido cardíaco de porco. No lugar, foram implantados seis genes humanos responsáveis pela aceitação no sistema.

David Bennet terá que ser monitorado pelos médicos por semanas para avaliar se o transplante é funcional, se consegue fornecer para o corpo o necessário para salvar a vida do paciente. Outras complicações, além do sistema imunológico, serão avaliadas.

Cedo para comemorar?

Apesar de recente, os médicos já comemoram, ainda que com cautela, a opção que cirurgia fornece para pacientes no futuro. Nos Estados Unidos, de acordo com Health Resources and Services Administration, órgão do governo americano, 110 mil pessoas estão aguardando por transplante. Destes, 6 mil morrem anualmente aguardando um coração.

“Esta foi uma cirurgia inovadora e nos deixa um passo mais perto de resolver a crise de escassez de órgãos. Simplesmente não há corações humanos de doadores suficientes disponíveis para atender à longa lista de potenciais receptores”, disse o Dr. Bartley P. Griffith, um dos médicos responsáveis pelo procedimento. “Estamos procedendo com cautela, mas também estamos otimistas de que esta cirurgia inédita no mundo será uma nova e importante opção para os pacientes no futuro”, completou.

Histórico da prática

Os xenotransplantes, transplantes de órgãos de animais para humanos, foram tentados pela primeira vez na década de 1980, mas foram amplamente abandonados após o famoso caso de Stephanie Fae Beauclair (conhecida como Baby Fae) na Universidade Loma Linda, na Califórnia.

A criança, nascida com uma doença cardíaca fatal, recebeu um transplante de coração de um babuíno e morreu um mês após o procedimento devido à rejeição do sistema imunológico.

No entanto, por muitos anos, válvulas cardíacas de porco têm sido usadas com sucesso para substituir válvulas em humanos.

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