Estudo revela água contaminada em 763 cidades brasileiras

Substâncias químicas e radioativas foram encontradas acima do limite em 1 de cada 4 municípios que fizeram os testes, tendo a capital paulista como líder. Estudo coletou amostras entre os anos de 2018 e 2020

por Vitória Silva seg, 07/03/2022 - 11:30
Luis Tosta/Unsplash Análise de amostras revelou substâncias tóxicas na água da torneira em cidades do Brasil Luis Tosta/Unsplash

Munícipes de pelo menos 763 cidades brasileiras fizeram uso de água de torneira imprópria para consumo, entre 2018 e 2020, segundo apontam dados inéditos de uma pesquisa feita pela iniciativa Mapa da Água. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (7) pela Repórter Brasil e revelam que substâncias químicas e radioativas foram encontradas acima do limite em um de cada quatro municípios que fizeram os testes.

Entre eles estão São Paulo (13 testes acima do limite), Florianópolis (26) e Guarulhos (11). A análise menciona, ainda, que os dados são omitidos pelas companhias de abastecimento.

As informações podem ser consultadas por cidade no Mapa da Água. Os dados são resultados de testes feitos por empresas ou órgãos de abastecimento e enviados ao Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde. Os testes são feitos após o tratamento e a maioria dessas substâncias não pode ser removida por filtros ou fervendo a água.

“Se há substância acima do valor máximo permitido, podemos dizer que a água está contaminada”, afirma Fábio Kummrow, professor de toxicologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Uma outra forma de dizer é que essa água não está própria para consumo, como quando um alimento passa da data de validade”. Contaminada ou imprópria, Kummrow confirma que existe risco para quem bebe a água, e ele varia de acordo com a substância e com o número de vezes que ela foi consumida ao longo do tempo.

O risco é maior para quem bebeu diversas vezes ao longo de anos. É o caso de quem mora em São Paulo, Florianópolis, Guarulhos e outras 79 cidades onde a mesma substância foi encontrada acima do limite nos três anos analisados (2018, 2019 e 2020).

O Mapa destaca o risco para a saúde e as atividades econômicas em que cada substância é utilizada. O nitrato, por exemplo, terceira que mais vezes excedeu o limite, é usado na fabricação de fertilizantes, conservantes de alimentos, explosivos e medicamentos. Ele é classificado como “provavelmente cancerígeno” pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Mapa da água aponta níveis de toxicidade. Foto: Reprodução

Dados são omitidos

De acordo com o Mapa da Água, as companhias de abastecimento não costumam informar a população sempre que uma substância aparece acima do limite, como determina a portaria (PORTARIA GM/MS Nº 888, de 4 de maio de 2021) sobre a potabilidade da água.

A Sabesp, responsável pela distribuição de água em mais de 370 municípios paulistas, incluindo a capital, divulga apenas o que chama de “parâmetros básicos”, como cor, turbidez e coliformes fecais. Nem mesmo pesquisando no site é possível acessar as substâncias químicas acima do limite.

O mesmo problema foi encontrado com Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) e Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).

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