Mães contam histórias de superação ao lado dos filhos

No dia dedicado a elas, Daniela Teixeira, Mônica Lopes e Kathleen Sabrina Silva falam sobre as experiências da maternidade

sex, 06/05/2022 - 16:44

Comemorado no domingo (8), o Dia das Mães está entre as datas especiais mais esperadas do ano. No mês de maio, multiplicam-se as homenagens para aquelas que, mesmo diante das adversidades, buscam oferecer o melhor para os filhos, sendo exemplos de força, resiliência e amor. Nesta reportagem, em tom de celebração, o LeiaJá Pará apresenta relatos de mães que enfrentam e superam desafios diariamente.

Daniela Teixeira, 46 anos, é autônoma e tem uma filha portadora de paralisia cerebral. Ela conta algumas das histórias que viveu e ainda vive como mãe de Suellem Lobato, de 22 anos. Desde o nascimento da filha, Daniela enfrentou muitos desafios - segundo ela, por ser muito nova na época da gravidez e estar cercada de desinformações.

Suellem, ainda pequena, passou alguns anos na Fundação Pestalozzi, onde começou a participar de sessões de fonoaudiologia e aprendeu a conviver com outras crianças. Pouco tempo depois, era levada pela mãe para realizar musculação, fisioterapia e hidroterapia no ginásio da Universidade Estadual do Pará – UEPA. Daniela diz que, apesar dos momentos difíceis, não desistia e apoiava bastante a filha.

Ao observar que Suellem tinha potencial para estudar, Daniela visitou diversas escolas em busca de alguma que a aceitasse, explicava a situação e dizia que, caso necessário, poderia ficar lá durante as aulas. Quando conseguiu uma vaga para a filha, a diretora da escola já havia sido sua professora na UEPA. “A Suellem ficou até a sétima série porque ela parou devido às dores e viagens também. Ela a aceitou, foi maravilhosa, foi coisa de Deus”, conta.

Aos 30 anos, Daniela sofreu um acidente vascular cerebral e teve o lado direito do corpo todo paralisado. Com isso, a autônoma precisou aprender novamente a realizar algumas tarefas. “Foi muito difícil. A coisa que eu mais pedia para Deus era que não levasse a minha consciência, que era a coisa mais importante para mim, na minha vida, era lembrar de tudo que eu passei com a minha filha”, relembra.

Daniela teve dificuldades em lidar com algumas condições de Suellem, que faz suas atividades com os pés, mas descobrir e compreender o diagnóstico da filha foi fundamental para o processo de aceitação. “Hoje, eu tenho esse pensamento muito mais concreto na minha cabeça, que a gente tem que lutar, mas temos que saber até onde lutar e até onde buscar, e entender verdadeiramente nossos filhos”, enfatiza.

Atualmente, Suellem é blogueira e faz parte do universo de digital influencers. A mãe revela que, depois de todos esses anos, consegue enxergar que o esforço realmente valeu a pena. “Ela consegue escrever, compreender, raciocinar, para ela poder chegar aonde chega”, complementa.

Por cuidar da filha o tempo todo, Daniela não trabalha, mas vende cestas de café da manhã. Além disso, a família consegue se manter graças ao salário de Suellem, conta a autônoma. “Temos gastos com fraldas, com remédios, e o pai dela já é falecido. Não tenho ajuda do pai dela, nem do pai do Diego (irmão de Suellem)”, diz.

Mãe: "profissional" incansável

A publicitária Mônica Lopes, 35 anos, é mãe de três filhos: Asaf Ben, de 13 anos, Liah Ohana, 9, e Oliver Micah, 5. Ela diz que conciliar trabalho e filhos é uma tarefa muito árdua e que é preciso ter equilíbrio emocional para lidar com tudo. “Para mim, maternidade é uma profissão também. É necessário dedicação, constância e é algo que você não tira férias. Acredito que, até depois que os filhos se casam, a maternidade continua. É uma profissão para a vida toda, muito valiosa, muito prazerosa”, descreve.

O filho mais velho de Mônica, Asaf, possui o Transtorno do Espectro Autista – TEA. A publicitária afirma que um filho demanda atenção, sabedoria, ensino e dedicação, mas ter um filho dentro do Espectro Autista exige mais ainda. “O maior desafio é o equilíbrio emocional para você conseguir dar conta de tudo e não se cobrar demais, não deixar a desejar demais. Esse equilíbrio, eu diria que é tudo”, acredita.

Depois que Asaf nasceu, em 2008, Mônica lembra que foi difícil retornar ao trabalho porque via a necessidade estar com ele, mas na época a lei não permitia uma licença maior que quatro meses. Quando deu à luz Ohana, voltar a trabalhar foi ainda mais difícil, conta a publicitária. “Foi muito complicado, porque a gente não encontra muitos trabalhos com flexibilidade”, observa.

Após Oliver nascer, a publicitária adoeceu e ficou sem trabalhar por um pouco mais de dois anos. Ela revela que nunca teve uma pessoa em casa para limpar e cozinhar, e reafirma que conciliar ser mãe, profissional, esposa e dona de casa é complicado. Mônica conta que preferiu, inclusive, não trabalhar por querer estar perto dos filhos.

“Hoje, eu já me considero em casa, porque eu trabalho muito em home office. Eu faço coisas pontuais no trabalho, mas eu diria que 50% ou até mais do meu horário de trabalho é em casa. Eu consigo, ainda, estar aqui de olho neles, fazendo parte do dia a dia deles. Isso, para mim, é importante”, relata.

Mônica afirma que o mercado de trabalho é preconceituoso com as mães e que poucas são as empresas que fazem programas para atender às profissionais durante a maternidade. Ela acredita, ainda, que em comparação com os homens que são pais, o peso da responsabilidade é maior para as mulheres. “Espero que a nossa sociedade, um dia, consiga fazer com que essa balança seja equilibrada e que as mães consigam ter esse valor social, para o mercado, esse valor emocional”, acrescenta.

A publicitária afirma que ser mãe é uma dádiva e que, ao olhar para trás, não faria nada diferente. Mônica enfatiza que leva a sério essa "profissão" da qual não tem pressa para tirar férias.

“Eu sonho em vê-los grandes, constituindo família, em ter netos, em continuar caminhando com eles e eu só consigo ser grata a Deus e dizer: ‘Senhor, muito obrigada por ter me escolhido para ser mãe da Ohana, do Oliver e do Asaf. Eu realmente não sou merecedora de tamanho presente’. Meus filhos são maravilhosos, não sei o que eu faria da minha vida sem eles”, conclui.

Os desafios da dupla jornada

A confeiteira Kathleen Sabrina Silva, 29 anos, tem aprendido a lidar com o trabalho e o cuidado com os filhos, Gustavo e Henrique, e a criar uma disciplina no dia a dia. “O primeiro momento foi bem enlouquecedor, imagina conciliar duas crianças pequenas com o emprego. Quando eu comecei [a trabalhar], o Henrique tinha 5 anos e o Gustavo estava com 3 anos, e foi bem difícil. Agora já está bem melhor porque eles já estão maiores”, relembra.

Para ela, o maior desafio de ser mãe é dividir o tempo de estar com eles e de trabalhar. Além disso, fazer com que os filhos entendam essas circunstâncias. “Eles me veem em casa e querem estar juntos, e eu falando que ainda não é o momento. O maior desafio é conciliar o momento e aprender a dizer ‘não’, para poder cumprir com o meu papel de mãe e empreendedora”, explica.

A confeiteira fala sobre os problemas que surgiram no período em que trabalhou em Marituba, saindo cedo e chegando tarde em casa – época em que Gustavo rejeitava ser amamentado. “Eu precisei continuar trabalhando. Eu trabalhei fora de casa até ele completar os 2 anos de idade, então eu saía de casa e eles estavam dormindo, eu chegava e eles estavam dormindo. Isso foi bem dolorido pra mim”, diz.

Kathleen quase adoeceu e vivenciou momentos de estresse que acabavam afetando a paciência com os filhos. Por trabalhar em departamento financeiro e com vendas, a cobrança era grande. “Eu decidi sair para ficar com eles, cuidar da minha saúde, ter um relacionamento saudável com eles e pra mim foi a melhor coisa que eu fiz”, afirma.

Sobre a relação das mães com o mercado de trabalho, Kathleen argumenta que, por mais que se diga que existem benefícios e regalias, na verdade não existem. Segundo a confeiteira, dentro desse mercado, só se faz o que é obrigatório pela lei e não porque queiram ter mães trabalhando.

“No meu ponto de vista, a mão de obra feminina é inegociável. Mulheres são mais detalhistas. Por mais que queiram substituir pelo público masculino, eles não conseguem, até porque, se conseguissem, eles fariam essa substituição para não terem os 'gastos' de uma mãe trabalhando em suas empresas”, defende.

Para Kathleen, ser mãe é um sonho realizado. Apesar dos desafios, a maternidade é algo que proporciona muitas alegrias à confeiteira. “Ser mãe é algo inexplicável, é o maior tesouro que já tive na vida. Posso ter sucesso na minha carreira e na minha vida, mas o maior reconhecimento que posso ter é o dos meus filhos, é ouvi-los dizer que são felizes em serem meus filhos, ou felizes em me ver bem”, finaliza.

Por Isabella Cordeiro (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

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