Venezuelano Warao conta como é ser refugiado no Recife

No Dia Mundial do Refugiado, líder de uma família da etnia Warao relata a sua experiência

por Alice Albuquerque seg, 20/06/2022 - 19:13
Rafael Bandeira/LeiaJáImagens Celso Zapata, indígena Warao, sua esposa e seus três filhos Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

No Dia Mundial do Refugiado, celebrado nesta segunda-feira, 20 de junho, o chefe da família de venezuelanos indígenas da etnia Warao, Celso Zapata, de 45 anos, contou ao LeiaJá a sua trajetória. E ela não foi fácil. Sua saga começou no dia 7 de janeiro de 2018, quando decidiu sair da Venezuela e vir para o Brasil.

“Vendi tudo o que tinha em casa: colchão, cama, roupa, sapato, botijão de gás, bicicleta, televisão, geladeira. Disse à família que iria sair para buscar melhoria. Eu vivia como classe média e a crise me afetou muito”, conta. 

No Brasil, ele e a família passaram por Boa Vista, em Roraima, e Manaus, no Amazonas, mas voltou para a Venezuela em novembro de 2020. Chegando lá, encontrou três familiares doentes e voltou para o Brasil de imediato. “E trouxe eles para o Brasil. Fui para Manaus, depois Belém (Pará) e depois vim para Recife, pois tinha família aqui. Fiquei na Muribeca”, disse. 

Ele conta que estava trabalhando em Jardim São Paulo, Zona Oeste da cidade, mas decidiu sair do emprego para procurar soluções para ajudar a família, já que todos são refugiados. “Eu morava em Jaboatão e no mesmo dia que saí, conseguiram a casa de Santo Amaro. Foi quando conheci Sirley (Vieira, coordenador do Cáritas), pelo Cáritas e, através dele, agora temos essa ajuda, mesmo sendo de um ano”. De acordo com Celso, 11 famílias de venezuelanos indígenas da etnia Warao moram em Nova Morada, na Várzea. Ao total, são 11 homens, 11 mulheres e 27 crianças, disse o líder.

Segundo Celso, a cidade que mais o acolheu e acolheu a sua família foi Recife. “Aqui tem muita gente com um coração bom, que ajuda. Saímos na rua e sempre conseguimos algo para comprar alimento. Aqui está melhor, apesar de faltas algumas coisas. Agora está mais difícil conseguir trabalho. Se para um brasileiro é difícil, imagina para os venezuelanos, é mais difícil ainda”, explica.

Uma das maiores lamentações dele é que os seus três filhos, Celso, de 11 anos, Pedro, de 8 anos e a garotinham de 6 anos, não estão estudando.

A Cáritas Brasileira e a Secretaria de Assistência Social de Pernambuco, a partir de um projeto emergencial de acolhimento temporário, oferecem abrigo aos refugiados venezuelanos. Esse projeto também faz a distribuição de alimentos para as famílias toda segunda-feira, e todos moram em casas próximas para estarem mais perto um do outro.

À reportagem do LeiaJá, o Warao lamentou que o contrato do abrigo, que é de um ano, está perto de acabar, “não sei como vai ser depois disso”. No entanto, ele revelou que, caso não consiga emprego e moradia, deve voltar à Venezuela. “Quero voltar porque tenho um irmão lá que está sofrendo, e vendo ele sofrer, eu sofro também. Tenho que enfrentar isso com ele e com a minha família, mesmo as coisas sendo caras e perigosas”. Todo mês Celso tenta ajudar o irmão financeiramente. Ele disse que tenta dividir todo o dinheiro que consegue para ajudá-lo.

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