África do Sul enfrenta aumento no número de sequestros

No período de festas de fim de ano, a polícia pediu aos pais que reforcem a atenção em praias e shoppings

qua, 28/12/2022 - 07:39
Michele Spatari O ministro da Segurança da África do Sul, Bheki Cele Michele Spatari

De uma criança de oito anos sequestrada a caminho da escola a um rico empresário que foi raptado e assassinado, a África do Sul enfrenta uma onda de sequestros.

No período de festas de fim de ano, a polícia pediu aos pais que reforcem a atenção em praias e shoppings.

"As crianças desaparecem e o crime de sequestro é uma realidade", declarou à AFP o porta-voz da polícia da província de KwaZulu-Natal (sudeste), Robert Netshiunda.

Os sequestros aumentaram nos últimos meses, com 4.000 casos entre julho e setembro, o dobro do registrado no mesmo período em 2021.

Muitos casos são efeitos colaterais de roubos de carros, assaltos e estupros, mas analistas apontam que há cada vez mais vítimas diretas de sequestros.

O aumento expressivo do último ano é "o maior da história da África do Sul", alertou Yusuf Abramjee, ativista da luta contra o crime, à AFP.

"Na África do Sul é relativamente novo: há quatro ou cinco anos não conhecíamos o fenômeno", declarou Jean-Pierre Smith, vice-secretário de Segurança da Cidade do Cabo. Ele afirma que os pedidos de resgate podem alcançar milhões rands, a moeda local, e inclusive dólares.

Uma das vítimas mais recentes foi o empresário Kevin Soal, 60 anos. Sua filha reportou o desaparecimento em meados de dezembro.

A polícia encontrou seu carro de luxo em uma área abandonada de Pretória e alguns dias depois o corpo foi localizado com marcas de tiros.

"Grandes quantias foram sacadas de sua conta", afirmou uma fonte policial.

- "Terror" -

Um mês antes, Abirag Dekhta, de oito anos, foi sequestrada quando seguia para a escola, perto da Cidade do Cabo. O Ministério Público afirma que ela foi levada por cinco homens que estavam em dois carros.

Os estrangeiros, principalmente empresários indianos ou pessoas do Paquistão, Somália ou Etiópia, estão cada vez mais no alvo, explica Abramjee.

As famílias muçulmanas de origem indiana, que os criminosos acreditam que possuem grandes fortunas no exterior, também se tornaram alvos de sequestros, afirmou uma fonte policial.

Recentemente, um empresario somali foi sequestrado em um hotel de Johannesburgo, recorda Abramjee.

Analistas acreditam que a violência é alimentada pela participação de grupos criminosos suspeitos de operar a partir de Moçambique e do Paquistão, entre outros países.

Os sequestros aumentam desde 2016 no país, segundo a organização sem fins lucrativos Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC, na sigla em inglês).

Um relatório publicado em setembro pela organização afirma que o aumento dos sequestros "sugere que se tornou uma prática estabelecida e lucrativa na África do Sul".

No ano passado, a polícia criou uma unidade especial para investigar este tipo de crime.

Em alguns casos, os sequestradores exigiram pagamento em "contas bancárias no exterior com criptomoedas ou em casas de câmbio de Dubai", afirma Abramjee.

A polícia está "abordando com determinação estes crimes que provocam o terror", declarou Bheki Cele, ministro da Segurança.

Dekhta, a menina de oito anos, foi libertada em novembro após uma grande operação policial.

Ela passou 11 dias sequestrada em uma cabana no gueto de Khayelitsha, um dos maiores do país, vigiada por sete homens.

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