Biden sobe o tom, mas não muito, contra Israel

O presidente vem tentando evitar repetir um episódio desagradável de sua época como vice-presidente de Barack Obama: uma briga pública com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

ter, 28/03/2023 - 17:40
Leonardo Munoz Judeus americanos e israelenses se reúnem, em 27 de março de 2023, em Nova York diante do consulado de Israel para defender a Leonardo Munoz

Desde que assumiu a Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden vem tentando evitar repetir um episódio desagradável de sua época como vice-presidente de Barack Obama: uma briga pública com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Mas, nas últimas semanas de crise em Israel pela polêmica reforma judicial promovida por Netanyahu, Washington aumentou ligeiramente o tom contra seu histórico aliado.

Depois de três meses de protestos contra a proposta - que restringiria a autoridade da Corte Suprema e daria aos políticos mais poderes sobre a escolha de juízes -, a Casa Branca acolheu "com satisfação", na segunda-feira, o anúncio de Netanyahu da suspensão da adoção do pacote legislativo por parte do Parlamento israelense.

Pouco antes de Netanyahu concordar em fazer uma pausa para o diálogo, o governo americano afirmou que estava "profundamente preocupado" com os acontecimentos em Israel, depois que Netanyahu demitiu o ministro da Defesa por criticar a reforma.

E, na semana passada, o Departamento de Estado emitiu críticas extraordinariamente fortes sobre a coalizão de extrema direita que anulou uma lei sobre os assentamentos israelenses na Cisjordânia e pelos comentários de um dos ministros de Netanyahu negando a existência do povo palestino.

- Equilíbrio -

A reação do governo Biden ainda está longe da rispidez, das tensões e, inclusive, da hostilidade que havia entre o ex-presidente Barack Obama e o então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Isso ficou especialmente evidente durante o segundo mandato de Obama, quando Netanyahu se uniu aos republicanos no Congresso americano contra o acordo nuclear com o Irã.

David Makovsky, especialista nas relações entre Israel e EUA do centro de estudos The Washington Institute for Near East Policy, acredita que Biden conseguiu atingir um certo equilíbrio.

Nos Estados Unidos, país que tem a maior comunidade judaica do mundo fora de Israel (7,5 milhões em 2020, segundo o Pew Research Center), "a administração Biden está jogando muito bem", opina Makovsky.

"Para Biden, pelo menos quando se trata de Israel, não há lavagem de roupa suja. Nisso, ele não se parece com Obama", assinala.

Para Makovsky, as repetidas declarações dos Estados Unidos sobre os princípios democráticos e o fato de Netanyahu ainda não ter sido convidado à Casa Branca desde que voltou à chefia de governo em dezembro dizem mais que um longo discurso.

Contudo, "a administração [Biden] não quer ser muito dura a ponto de se tornar um saco de pancada para a direita israelense", diz o especialista.

Um filho de Netanyahu, Yair, já acusou os Estados Unidos de financiar as manifestações, o que foi negado com veemência pelo Departamento de Estado americano.

- Democratas apoiam os palestinos -

Ao contrário de Obama, Biden, que foi senador e vice-presidente, tem uma relação cordial, e até mesmo calorosa, com "Bibi" Netanyahu e sempre apoiou Israel.

Mas as opiniões estão mudando dentro do Partido Democrata, historicamente mais próximo do Estado judeu: uma pesquisa recente do instituto Gallup mostra que, pela primeira vez, há mais democratas simpatizantes da causa palestina do que de Israel.

Os legisladores judeus americanos na Câmara dos Representantes, quase todos democratas, pediram, este mês, que Netanyahu suspendesse a reforma judicial que "poderia solapar a democracia e os direitos civis israelenses.

O senador democrata Chris Van Hollen, ao questionar o secretário de Estado Antony Blinken sobre a questão palestina, acusou Washington de estar "em uma posição frágil ao fazer constantemente declarações sem nenhuma consequência".

Na segunda-feira, uma centena de judeus americanos e israelenses se reuniram sob a chuva em Nova York diante do consulado de Israel para apoiar a "democracia" contra as políticas de Netanyahu.

Este nem sempre foi o caso nas relações entre Estados Unidos e Israel. Influenciado pelos cristãos evangélicos, o Partido Republicano está há anos alinhado com a linha dura da direita e da extrema direita em Israel.

Foi isso que guiou a política pró-israelense nos quatro anos de mandato do ex-presidente Donald Trump, que, inclusive, abandonou a busca pela "solução de dois Estados" e reconheceu Jerusalém como capital de Israel.

Para Logan Bayroff, do grupo de esquerda pró-Israel J Street, os Estados Unidos deveriam fazer mais para "apoiar inequivocamente" as manifestações em Israel, em "um momento de crise histórica da democracia".

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