Uso terapêutico da maconha é discutido na Câmara

Tema foi tratado em audiência pública na Câmara do Recife

sex, 07/06/2013 - 10:52
Cleiton Lima/LeiaJá/Imagens/Arquivo É a segunda vez que o vereador Osmar Ricardo promove a discursão Cleiton Lima/LeiaJá/Imagens/Arquivo

O vereador do Recife, Osmar Ricardo (PT), defensor da marcha da maconha, reuniu nessa quinta-feira (6) diferentes membros da sociedade para discutir o uso terapêutico da Canabis Sativa, conhecida popularmente como maconha. O debate ocorreu durante audiência pública na Câmara Municipal de Vereadores e contou com a presença de pesquisadores e representantes do Departamento de Narcotráfico da Secretaria de Defesa Social (SDS).

Ricardo acredita que o uso da maconha pode auxiliar a medicina. “Esse é um tema espinhoso, complicado, que ninguém quer assumir a responsabilidade. Mas é preciso debatê-lo com tranquilidade porque há teorias dizendo que a maconha ajuda na medicina. O tema tem implicações na saúde pública”, argumentou.

Para falar sobre o uso medicinal da erva e seus derivados, o professor do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Rodrigo Almeida, que estuda o tema há 15 anos, fez uma pesquisa sobre as evidências científicas, a partir da literatura médica disponível. “Concluí que é possível usar a Canabis Sativa com fins medicinais, mas avaliei apenas estudos individualizados em diversos casos do mundo. Eles mostram que há benefícios moderados, com prejuízos, em casos de dores crônicas; benefícios evidentes na esclerose múltipla; significativos para conter náuseas e vômitos causados por quimioterapia e também foi comprovado em casos de demência”, avaliou.

Almeida afirmou que é impossível para um pesquisador brasileiro estimar o uso do ponto de vista clínico. “Há dificuldades de se estudar os efeitos benéficos e dizer que a Canabis pode colaborar com a medicina. Como o estado impede o uso, também impede as pesquisas. Como podemos submeter esse estudo a um comitê de ética? Fica-se diante de um conflito com a lei”, alertou. Ele acrescentou que é difícil até fazer diagnósticos, principalmente porque ninguém assume, diante de um médico, que é usuário.

O diretor do Departamento de Narcotráfico da Secretaria de Defesa Social (SDS), Renato Rocha, alertou que o uso da maconha é ilegal e que a discussão concreta, hoje, deve ser a operacionalizar do uso da maconha para fins de pesquisa. “Como essas pesquisas podem ser efetivadas diante da legislação atual que coloca o uso como crime?”, questionou. Em seguida ele acrescentou que “se as pesquisas forem realizadas, a aquisição da droga para fins medicinais tem que ocorrer de alguma maneira. E a única maneira para se consegui-la, uma vez que é ilegal, é através do tráfico. Essa é a questão”, disse. Ele ressaltou que a permissão do uso esbarra numa preocupação: “o estado brasileiro vai mudar a legislação para permitir a aquisição?”.

Defendendo o uso da erva, a coordenadora da Marcha da Maconha em Pernambuco, Ingrid Farias, criticou a política de repressão a drogas no Brasil, que criminaliza o usuário e impede as pesquisas científicas. “Essa política sempre foi usada, mas até hoje não existe comprovação de que os índices de combate ao tráfico diminuíram no Brasil. Então, ela é discutível. Também não se pode fazer uma condenação generalizada. O usuário não é traficante. Esse, sim, é o negativo para a sociedade, o violento”, afirmou. 

Essa foi à segunda vez que o petista trouxe à tona o assunto da Canabis Sativa para a Casa Municipal.

*Com informações da assessoria

 

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