Caso do Padre Henrique na reta final de investigações

Comissão Estadual da Verdade realizou mais uma sessão pública sobre o episódio nesta terça-feira (22)

ter, 22/10/2013 - 21:28
Divulgação / Assessoria Grupo ouviu o depoimento de irmão Orlando Divulgação / Assessoria

A declaração do irmão Orlando Cunha Lima, uma das pessoas mais próximas do Padre Henrique, deve ajudar a Comissão Estadual da Verdade na investigação do caso do religioso. Em sessão pública nesta terça-feira (22), o depoente mencionou o envolvimento da Secretária de Segurança Pública do Estado no sequestro do auxiliar de Dom Hélder Câmara. 

“No curso das investigações, a CJI teria solicitado à Secretaria de Segurança Pública a relação dos carros oficiais do órgão (e nomes dos motoristas) que circularam no dia anterior ao crime. Constava no rol um veículo tipo “rural” azul, dirigido pelo então delegado, Bartolomeu Gibson. A Igreja teve conhecimento dessa relação, que sumiu misteriosamente e sequer chegou aos autos do processo”, relembrou o irmão Orlando. 

Indagado por Henrique Mariano sobre uma possível declaração do Padre Henrique acerca de retaliações sofridas pelo Comando de Caça aos Comunistas, irmão Orlando foi taxativo: “Explicitamente não, mas indiretamente sim”. Segundo o depoente, após o atentado contra o militante e presidente da União dos Estudantes de Pernambuco, Cândido Pinto, que resultou paralítico, na noite de 22 de abril de 1969, Padre Henrique teria afirmado que “estão querendo usar Cândido como bandeira, como exemplo para nos calar, isso é uma incoerência”. Em seguida, o religioso teria recebido do Comando de Caça aos Comunistas “uma carta subscrita, ordenando para que se calasse junto aos estudantes sobre o atentado de 22 de abril”, disse irmão Orlando. Pouco mais de um mês depois, padre Henrique foi assassinado.

“Os atos de tortura sofridos por Padre Henrique em muito me lembram o sofrimento de Giordano Bruno, que, em chamas na fogueira da Santa Inquisição, gritava e ninguém ouvia. Padre Henrique foi torturado e continua gritando”, disse Socorro Ferraz, historiadora e membro da Comissão.“Todos nós sabemos que os arquivos foram tocados e moldados conforme a sua conveniência", arrematou o coordenador da Comissão, Fernando Coelho, durante o encerramento da sessão, que trouxe à tona elementos essenciais na apuração do crime pela CEMVDHC.

De acordo com o relator do caso, Henrique Mariano afirmou que o depoimento comprovou o teor político sobre o assassinato do Padre Henrique. “O depoimento foi absolutamente conclusivo. Isso foi de fato um crime político, e não um crime comum como foi divulgado, além disso, ficou claro que a Comissão de Inquérito sofreu muitas influencias externas dos agentes de repressão”, disse. 

Para o membro da Comissão da Verdade, está pode ter sido a última sessão pública a respeito do caso do religioso. “Nós ainda vamos analisar a necessidade de ter outra sessão pública. Apesar de que o relatório ainda será entregue em junho de 2014. No entanto, no caso do Padre Henrique, a Comissão já tem o seu entendimento. O material já é suficiente para nosso juízo de valor”, explicou Henrique Mariano. 

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