Após 45 anos, caso de padre Antônio Henrique é finalizado

A Comissão da Verdade apresentou os nomes de todos os culpados da violência ao sacerdote

por Élida Maria ter, 27/05/2014 - 14:59

Requintes de maldade, barbárie, e tiros. Essas são algumas características de como foi encontrado o corpo do Padre Antonio Henrique em 27 de maio de 1969. Nesta terça-feira (27), após 45 anos da tortura sofrida pelo religioso, os nomes de todos os culpados do crime foram apresentados no relatório final da Comissão da Verdade e Memória Dom Helder Câmara (CMVDHC), na Igreja de São Jose dos Manguinhos, nas Graças, Zona Norte do Recife.

Segundo a CMVDHC cinco pessoas são culpadas pela tortura ao sacerdote: dois agentes da Polícia Civil - Rivel Rocha e Humberto Serrano, o então delegado de investigações da Secretaria de Segurança Pública, Bartolomeu Gibson que era também promotor de Justiça, o seu familiar que na época era menor de idade Jerônimo Gibson e o estudante Rogério Matos do Nascimento. Entre esses, Rogério e Jerônimo são os únicos vivos. 

De acordo com o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, o caso realmente foi de ordem política. “Infelizmente eu acho que a intenção seria atingir Dom Hélder e o padre Henrique foi à vítima. Um padre novo com 29 anos apenas, com três anos de ministério sacerdotal. Atualmente estaria com 74 anos e poderia está ainda na ativa, nos ajudando na caminhada pastoral”, relembrou o religioso que também na cerimônia enviou uma carta a Congregação da Causa dos Santos, solicitando o início de canonização do ex-arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara.

Revelando todos os detalhes da violência, o secretário Geral e relator da CMVDHC Henrique Mariano, contou que a data para exibição do relatório final foi escolhida propositalmente pela Comissão. “Hoje faz 45 anos do assassinato do Padre Antônio Henrique, razão pela qual a Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara escolheu esta data emblemática para prestar contas a Arquidiocese de Olinda e Recife e a sociedade pernambucana, apresentando o relatório conclusivo do caso do padre Antônio Henrique”, destacou. 

Mariano explicou que a versão oficial até então vigente era de que o padre Henrique foi assassinado em fase de um crime comum, praticado por toxicômanos na época, em 1969. “Hoje, a Comissão da Verdade apresenta provas documentais mostrando cabalmente que naquela época as investigações desenvolvidas pelo Ministério Público e pela Polícia do Estado de Pernambuco houve uma total interferência do Ministério da justiça a fim de sonegar as informações (...). Então, agora, a Comissão da Memória e Verdade prova primeiro que o assassinato do padre Henrique foi um crime eminentemente político e segundo: estamos apresentando a relação das pessoas que participaram do sequestro e assassinato do padre”, contextualizou. 

Depois de relatar o caso, Henrique Mariano deu esperanças de uma possível punição dos culpados vivos informando que a partir de agora todo material apurado será entregue ao Ministério Público Federal. “Hoje o Supremo Tribunal Federal (STF) entende que a Lei de Anistia anistiou todos os agentes do Estado que tenham praticado crimes de desumanidade, mas esse entendimento do STF ainda não transitou em julgado. Existe um recurso ainda pendente de julgamento na Ordem dos Advogados do Brasil, e que nós estamos fazendo gestão junto ao STF para reverter esta decisão e que no Brasil, a Justiça de transição possa ser implementada em sua plenitude efetivamente responsabilizando civilmente e penalmente, os agentes do Estado ainda vivos, que perpetraram crime de desumanidade”, pontuou. 

Presente no evento, a irmã do sacerdote, Isaíras Pereira Padovan, mostrou satisfação pela conclusão do caso, porém cobrou justiça em relação à punição dos culpados. “Eu acredito que se nós formos ao Tribunal de Haia (Tribunal Internacional de Justiça), então teremos justiça, mas hoje não foi justiça, foi oficializado aquilo que nós já sabíamos e que minha mãe sempre disse, sempre sonhou, sempre gritou e que fui sufocada por isso, mas isso ainda não é justiça. Tornaram oficial quem são os banidos, quem foram, e tudo. Agora eu acredito que justiça mesmo só quando recorrer ao Tribunal de Haia”, desabafou Padovan.

Homenagem – Entre as autoridades presentes, o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), disse estar orgulhoso por participar do momento. “Governar a cidade num momento em que a verdade tem se vindo à tona é muito importante para mim”, destacou.

O socialista também anunciou duas novidades durante discurso: a construção de um busto em homenagem ao padre Henrique no Largo do Parnamirim e se comprometeu em criar dentro da Prefeitura do Recife, uma assessoria da Memória e Verdade. “Para que ela possa servir de interlocutora com a Comissão da Verdade estadual e nacional e funcione de forma permanente dentro de suas unidades uma assessoria que possa ajudar nos trabalhos”, garantiu. 

 

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