Ligação da Lava Jato com o Mensalão é chamada de 'deboche'

O delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima afirmou que políticos e assessores enquanto estavam sendo julgados pelo Mensalão protagonizavam novos esquemas de propina na Petrobras

por Giselly Santos seg, 23/05/2016 - 11:20
GERALDO BUBNIAK/AGB/ESTADÃO CONTEÚDO A nova etapa prendeu o ex-chefe de gabinete da liderança do PP na Câmara dos Deputados, João Cláudio Genu GERALDO BUBNIAK/AGB/ESTADÃO CONTEÚDO

Chamada de Operação Repescagem, a 29ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira (23), revelou uma interligação direta do Mensalão – já julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – com o esquema de corrupção em contratos da Petrobras. Em coletiva na manhã de hoje, o delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima encarou a conexão entre casos e a repetição dos personagens como um “deboche aos órgãos de justiça brasileira”. 

A nova etapa prendeu o ex-chefe de gabinete da liderança do PP na Câmara dos Deputados, João Cláudio Genu, que trabalhava para o deputado federal já falecido José Janene. De acordo com Luciano Flores, Genu foi citado desde a primeira fase da Lava Jato e, de lá para cá, ele vem sendo investigado. “Ele é um dos criadores do esquema que promove essa sangria dos cofres públicos. E mesmo sendo condenado por corrupção e lavagem de dinheiro [no Mensalão], como um verdadeiro deboche a polícia e a justiça ele continuava recebendo propina em 2013. Pelo menos entre 2005 e 2013 ele vinha recebendo propina”, frisou. 

De acordo com o delegado, os valores eram pagos em espécie, mensalmente, e variavam entre R$ 30 mil e R$ 70 mil. “No Mensalão o João Claudio Genu foi condenado porque ele sacou R$1,5 milhão. Agora temos aí mais de R$ 2 milhões de propina para ele. Ele que nunca foi parlamentar, mas recebeu um montante grande e assessorou um dos primeiros a articular o recebimento de propina no PP [José Janene]”, detalhou o delegado. 

Outra pessoa presa nesta operação foi Lucas Amorim Alves, sócio de João Cláudio Genu em diversas empresas. João Claudio e Lucas Amorim recebiam propinas de Alberto Yousseff. “Lucas Amorim é identificado como um dos emissários de Genu”, reforça o procurador da República, Diogo Castor Mattos

Um dos três mandados de prisão foi destinado para ser cumprido em Pernambuco, onde fica localizada a residência do empresário Humberto do Amaral Carrilho. Ele, no entanto, não foi localizado e, de acordo com a PF, está sendo considerado foragido. Carrilho aparece no esquema, após propor construir um estaleiro para o uso da Petrobras no Rio Amazonas, local onde a estatal já tinha um navio. “Paulo Roberto Costa optou por abrir mão do navio e usar o trabalho de terceiros, o que garantiu uma mesada para o ex-diretor”, explicou Luciano Flores de Lima.

Humberto Carrilho também é citado como mantenedor de contas no exterior para o benefício de João Claudio Genu. As contas ainda não foram identificadas. “Já sabemos em que país ele está e esperamos um contato dele e de seus advogados para tratar sobre a sua apresentação. Vamos aguardar até o fim do dia de hoje, caso isso não aconteça vamos encaminhar o nome dele para a Interpol”, acrescentou o delegado.  

Mensalão e Lava Jato

Questionado durante a coletiva sobre como analisavam a conexão entre os esquemas, o delegado Luciano Flores de Lima adotou um discurso duro e afirmou esperar que agora os políticos passem a ter medo de ser condenados por mais de um escândalo. “Esperamos que esta impunidade que havia no pensamento dos criminosos hoje dê lugar ao medo de ser preso e de lugar para o medo de que no Brasil a investigação condena e mantêm preso quem deve ser mantido”, cravou. 

Sobre os personagens dos esquemas se repetirem, o procurador da República, Diogo Castor Mattos, garantiu que a Lava Jato passará um pente fino até o fim das investigações. “Não é o mesmo caso, são casos distintos, mas os personagens acabam se repetindo. Não são esquemas únicos, mas os personagens acabam se repetindo pelo quadro de corrupção generalizada que o país acabou passando”, frisou.

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