A força das igrejas e dos políticos cristãos na eleição

O Estado pode até ser laico, segundo a Constituição, mas os candidatos correm contra o tempo em busca de apoio dos católicos e evangélicos

por Taciana Carvalho ter, 07/08/2018 - 16:39
Reprodução/Site deputado Marcelo Aguiar Reprodução/Site deputado Marcelo Aguiar

Em maio deste ano, uma espécie de um documentário elaborado pela TV norte-americana HBO ganhou grande repercussão ao mostrar o crescimento das igrejas e dos líderes religiosos no Brasil, em particular da classe evangélica. O vídeo mostrou uma vantagem indiscutível do segmento: se é verdade que uma grande parte dos brasileiros perderam a fé na política, a máquina evangélica se impulsiona por possuir uma arma secreta, que é uma base fiel de eleitores. 

Com detalhes, a reportagem mostrou o surgimento de novas “megaigrejas” para atender a demanda e até mesmo o pastor, durante um culto, incentivando os religiosos a votarem e doarem a seus candidatos. O candidato a vice-governador do Distrito Federal, o pastor Egmar Tavares, chegou a falar sem medo que reuniões são feitas para orientar os fieis a votarem em seus candidatos. “Não podemos esconder isso”, ressaltou também dizendo que a igreja só cresce quando tem novos “filhos”. 

Para se ter ideia, o pastor Tavares falou que sua congregação começou com 39 igrejas e hoje já são mais de 250 templos. Em um pouco mais de uma década, segundo ele, o número de fieis passou de três para 25 mil. 

O deputado federal Marco Feliciano (PSC) já falou em tom de lamentação, mas sem medo de críticas, o fato de não possuir apoio de grandes instituições religiosas e que não tinha apoio dos grandes líderes para campanha política. Ele, que se definiu como “um pastor sem pedigree”, chegou a contar que quando o ano eleitoral se aproximava, desaparecia dos grandes púlpitos do estado de São Paulo. O pastor Eurico também está em visibilidade desde a semana passada ao defender a representação evangélica na política. “Se outros têm porque é que a organização que eu faço parte não pode ter seu representante?”, indagou. 

Não é apenas a bancada evangélica, que são 30% da população e que contam com uma bancada de 97 deputados e 3 senadores, que busca se fortalecer no pleito eleitoral deste ano. A católica, que tem 48 deputados, também tem essa mesma missão. Desde o começo do ano, as duas bancadas no Congresso se articulam sobre apoio mútuo para a disputa com a finalidade de mostrar cada vez mais a representação dos cristãos na sociedade. 

Em Alagoas, por exemplo, o deputado Givaldo Carimbão (PHS), da Renovação Carismática Católica (RCC), receberá o apoio dos evangélicos para a sua campanha rumo ao Senado Federal. Carimbão já chegou a dizer que “é melhor abrir uma igreja evangélica do que um cabaré”. Somente a RCC deve tentar eleger cerca de 30 candidaturas. 

Além da força dos cultos e missas, o apoio também acontece dentro do próprio Congresso. Os evangélicos realizam um culto semanal, no plenário da Câmara. Por sua vez, os católicos se reúnem em um grupo de oração nas manhãs de quarta-feira. 

Uma parte dos presidenciáveis, como o deputado Jair Bolsonaro (PSL), buscam conquistar o eleitorado evangélico. Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, no mês passado, se reuniu na capital paulista com um grupo de pastores composto em sua maioria por batistas, luteranos e presbiterianos, que já a apoiaram anteriormente. 

Em Pernambuco, o poder das igrejas também não está sendo deixado de lado. No ano passado, ainda um pouco distante da eleição, o governador Paulo Câmara (PSB) começou as articulações em busca de mais aliados. O pessebista chegou a participar do aniversário do presidente da Assembleia de Deus, pastor Aílton José da Silva. De joelhos, ele recebeu orações dos pastores.

Paulo Câmara chegou a falar que tinha certeza de que a igreja estava dando forças para que pudesse “continuar trabalhando por um Pernambuco melhor e mais justo”. Ainda pontuou que, pelo momento difícil que o Brasil vivencia, era muito importante ter Jesus no coração. 

Apesar das articulações feitas, o governador perdeu o apoio de uma família com grande espaço no segmento evangélico: os Ferreira, que anunciaram no final do mês passado o rompimento com o socialista. Eles se aliaram ao grupo da oposição denominado “Pernambuco Vai Mudar” e ainda detonaram o governo Câmara afirmando que faltava diálogo, capacidade administrativa e liderança. 

Outra família de peso no estado na classe evangélica são os Collins. A vereadora do Recife Michele Collins (PP) e o seu marido, o deputado estadual Cleiton Collins (PP) formam uma dupla dona das votações mais expressivas para a Câmara do Recife e na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), respectivamente. Cleiton, que cumpre hoje o quarto mandato consecutivo de deputado estadual, na última eleição recebeu 216.874 votos, cinco vezes mais do que na primeira. A missionária Michele marcou cadeira na Câmara em 2012 e, em 2016, conquistou 15.357 votos, quase cinco mil a mais do que quatro anos antes.   

Em todo esse cenário repleto de polêmicas, a vereadora Irmã Aimée (PSB) deixou um recado que muito causou ao ressaltar que os evangélicos não irão parar de crescer. “Se lutar contra essa inversão de valores significa ser um problema é melhor que as revistas se acostumem com essa gente incômoda porque não iremos parar de crescer”, avisou. 

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