Allan dos Santos disse que não recebe dinheiro do governo

Na CPMI da Fake News, o jornalista alegou que são 'as grandes empresas de comunicação que promovem desinformação' e ficou em silêncio ao ser questionado pelo senador Humberto Costa

qua, 06/11/2019 - 09:13
Roque de Sá/Agência Senado Roque de Sá/Agência Senado

Ouvido nessa terça-feira (5) pela CPI Mista das Fake News, que investiga notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual, o jornalista Allan dos Santos, do blog Terça Livre, defendeu a liberdade de opinião e disse que “o jornalismo de direita quer existir, mas está sendo calado”. Ele foi convocado pela CPI por requerimento do deputado Rui Falcão (PT-SP), que o apontou como um grande disseminador de notícias falsas na internet, inclusive para beneficiar o presidente da República, Jair Bolsonaro, desde a campanha eleitoral de 2018. Allan alegou que são "as grandes empresas de comunicação que promovem desinformação".

O jornalista informou que criou o site em 2014 para “vencer o comunismo, as Farc [forças revolucionárias colombianas] e todo o trabalho de guerrilha armada no Brasil”. Allan reiterou seu apoio a Bolsonaro, mas negou receber financiamento do governo. Ele chegou, inicialmente, a concordar com pedido da relatora da CPI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA) para autorizar a quebra do seu sigilo bancário e fiscal. Porém, voltou atrás ressaltando que “o ônus da prova é de quem acusa”.

Allan disse ao deputado Rui Falcão que recebe doações por meio das redes sociais e que não há como identificar quem contribui, mas que paga impostos sobre esse valor. No YouTube, o canal Terça Livre TV tem, atualmente, 629 mil inscritos.

"Sou dono do maior portal conservador da América Latina e não recebo nenhum centavo do governo", disse completou.

Gebinete do ódio

Quando questionado pelo líder do PT, senador Humberto Costa (PE) sobre sua relação com Tercio Arnaud Tomaz, assessor da presidência da República, o jornalista preferiu manter o silêncio. Tercio seria um dos comandantes do chamado “Gabinete do Ódio”, dentro do Palácio do Planalto, supostamente responsável por disseminar fake news e ataques a adversários políticos a partir do governo.

O senador sugeriu a Allan que abra também o sigilo das suas redes sociais e alertou os parlamentares presentes na audiência sobre o “linchamento virtual” e a “destruição de reputações” promovidos por blogs como o Terça Livre.

"Se nós não desmontarmos essa máquina, estaremos sujeitos ao que vários sofreram na última eleição", disse Humberto Costa, referindo-se à notícia falsa veiculada no site sobre suposto financiamento milionário de facção criminosa à campanha do PT.

O jornalista ainda se negou a responder perguntas do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), por se considerar ofendido após ser chamado de “uma espécie de Sônia Abrão digital”. O parlamentar queria saber o motivo de Allan replicar postagens de perfis no Twitter conhecidos por espalhar fake news e fazer ataques a críticos do governo.

Quando respondeu às perguntas da deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) confirmou que uma das profissionais que compõem a sua equipe como freelancer, a jornalista Fernanda Salles Andrade, também é assessora do deputado estadual Bruno Engler (PSL), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

LGBTs

O jornalista também foi inquirido sobre outras notícias divulgadas pelo Terça Livre, entre elas a que acusava grupos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) de aprovarem a pedofilia.  Fato para o qual Allan disse ter “provas contundentes”, “não apenas no Brasil como no mundo”.

Também foram questionadas outras publicações do site, como a suposta internação do jornalista norte-americano Glenn Greenwald com "infarto causado por overdose de cocaína"; e a atribuição à jornalista Constança Rezende de postagem falsa quanto ao "Brasil ter virado uma ditadura” após o assassinato da vereadora Marielle Franco.

"Vítima"

Allan lembrou que deve resguardar o sigilo das fontes e que só responderá em juízo aos citados diretamente nas matérias. Além disso, disse que ele próprio já foi vítima de notícias falsas, como a de que teria acompanhado Jair Bolsonaro em viagem ao exterior no avião presidencial. Também negou que tenha carro de luxo e mansão com aluguel pago pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PLS-SP).

O próprio deputado se pronunciou e defendeu o jornalista. Ele disse ter sido acusado de usar dinheiro do fundo partidário para pagar a sua lua-de-mel e atribuiu a notícia falsa à “perseguição da esquerda”.

"A esquerda domina jornais, universidades, cinema, sindicato e movimentos sociais. Só tem um flanco que a esquerda não domina, que é a internet", afirmou Eduardo Bolsonaro.

Críticas

A deputada Caroline de Toni (PSL-SC) também  defendeu Allan dos Santos. Ela criticou o uso do termo “milícia” para se referir à mobilização na internet de pessoas que se alinham ao pensamento bolsonarista. E, com outros deputados governistas, criticou a “instrumentalização” da Comissão.

"O que a CPMI quer é calar a voz do povo. Qualquer pessoa pode se reunir digitalmente, são discussões digitais, sem impedimento para suas ideias e vontades. Esta comissão é para tentar criminalizar e perseguir pessoas", disse.

As críticas contra a CPI mista foram respondidas pela relatora. Lídice da Mata enfatizou o papel da comissão é de investigar quem produz, distribui e financia as fake news.

"Alguns aqui contestam o que é a ação da CPMI e alguns insistem em caracterizar as fake news como apenas uma fofoca, um boato. Não é isto. Não há essa ingenuidade nas fake news. O seu conceito parte do princípio da existência do dolo, da criação de uma notícia falsa com o objetivo de prejudicar. E que, portanto, deve ser combatida", afirmou Lídice.

*Da Agência Senado

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