Teich se demitiu por não concordar com uso da cloroquina

O ministro da Saúde que atuou menos tempo contra a pandemia no Brasil revelou à CPI da Covid que se demitiu por que não tinha autonomia nas decisões da pasta

por Victor Gouveia qua, 05/05/2021 - 11:25
 Jefferson Rudy/Agência Senado Ex-ministro da Saúde, Nelson Teich Jefferson Rudy/Agência Senado

Sucessor de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde durante a pandemia, o oncologista Nelson Teich começou a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta quarta-feira (5). Com menos de um mês no cargo, ele afirmou que a divergência com o presidente Jair Bolsonaro sobre o uso da cloroquina foi a motivação para seu pedido de demissão.

Com 28 dias como ministro, Teich ficou à frente da luta contra o vírus do dia 17 de abril até 15 de maio do ano passado. Sem concluir praticamente nenhuma atividade programada, ele indica que chegou a iniciar uma proposta de controle de transmissão, prevista em programas de testagem em massa e distanciamento com protocolo nacional, em parceria com outros ministérios.

O médico ainda ressaltou que até chegou a dar início às primeiras negociações com as fabricantes de imunizante Moderna e Janssen, mas não fechou negócio. "No meu período não tinha uma vacina sendo comercializada, era ainda o começo do processo. Foi quando eu trouxe a vacina da AstraZeneca para o estudo ser realizado no Brasil. Para o Brasil ser um dos braços desse estudo, na expectativa de que a gente tivesse uma facilidade na compra futura", esclareceu.

Após jurar relatar apenas a verdade, Teich revelou que não tinha autonomia, nem liderança, enquanto esteve na pasta. "Sem liberdade para conduzir o ministério conforme minhas convicções, optei por deixar o cargo", afirmou. Ele já alertava para os riscos cardíacos do uso indiscriminado do 'kit covid' apresentado pelo chefe do Executivo.

"Enquanto minha convicção pessoal, baseada em estudos, é que naquele momento não existia evidência da sua eficácia para liberar. Existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado na opinião de outros profissionais, até no Conselho Federal de Medicina, que naquele momento autorizou a extensão do uso", apontou.

Nelson expôs que não foi consultado, não participou e nem sabia da produção de Cloroquina pelo laboratório do Exército. A posição foi dividida por Mandetta, que também não sabe de quem partiu a ordem da fabricação. "Minha orientação era contrária", frisou ao reafirmar que também não autorizou que o medicamento fosse distribuído em comunidades indígenas.

"Era um momento muito difícil, faltavam respiradores, faltava EPI, as mortes aumentando, os casos aumentando. Foi um assunto que não chegou a mim, em relação à produção de Cloroquina", disse.

Com intuito de seguir a ordem cronológica de lideranças do Ministério, o próximo da fila a depor seria o ex-ministro Eduardo Pazuello, que foi flagrado passeando sem máscara em um shopping de Manaus, ironizou a situação, e alegou que não poderá dar explicações à Comissão porque está com suspeita de Covid-19. Sua participação foi reagendada para o dia 19.

*Conteúdo em atualização

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