PE: parlamentares comentam rejeição à PEC do voto impresso

A despeito da defesa feita por Bolsonaro ao voto impresso, maioria dos deputados pernambucanos votou contra à PEC, que foi enterrada em sessão realizada na noite desta terça (10)

por Kauana Portugal qua, 11/08/2021 - 16:24
Cleia Viana/camara-dos-deputados Votação da PEC no plenário da Câmara dos Deputados Cleia Viana/camara-dos-deputados

A maior parte dos parlamentares pernambucanos na Câmara dos Deputados votou contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que buscava implementar o voto impresso como um suposto complemento às urnas eletrônicas brasileiras. A mudança foi derrotada durante a sessão realizada na noite desta terça-feira (10).

Para a deputada federal Marília Arraes (PT-PE), que fez oposição à PEC defendida pelo atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a votação “foi fundamental para defender a nossa democracia”. Ao LeiaJá, a parlamentar ressaltou ainda que “o atual modelo de votação é seguro e o objetivo de quem defende essa mudança no processo eleitoral é criar desinformação entre a população”.

Também na mesma direção do que tem afirmado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas últimas semanas, Carlos Veras (PT-PE), foi outro parlamentar a votar contra e questionar as motivações por trás da defesa do voto impresso.

“A urna eletrônica é auditável, segura e não é conectada à internet, o que impede qualquer invasão de hacker. Acreditamos que arquivamos de vez esse retrocesso no Congresso Nacional, que consistia em voltar às contagens manuais de votos nos próprios locais de votação, como queria o texto do relator”, defendeu.

A sessão que decidiu por enterrar a possível mudança institucional ocorreu no mesmo dia em que as Forças Armadas desfilaram com blindados e tanques de guerra nos arredores da Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), a poucos metros de distância do Congresso.

Parte dos parlamentares interpretou o gesto como uma ação ofensiva do presidente, presente na manifestação, ao lado dos militares. O deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), por exemplo, que também posicionou-se contra a proposta, ressaltou a importância de “discutir serenamente o aprimoramento do sistema”, “mas não sob ameaças”.

“Essa discussão poderia ter outra conotação, se deslocada das reiteradas manifestações do presidente da República, não só de desapreço pela democracia como de investidas golpistas que merecem o mais enérgico repúdio. Dizer que não haveria eleições se o voto impresso não fosse aprovado - com fraudes jamais verificadas - e ainda mais com tanques na rua, merecia, como mereceu, a manifestação da Câmara dos Deputados, como recebeu antes do STF e de amplos setores da vida brasileira”, pontuou, relembrando as mais recentes declarações de cunho antidemocrático feitas por Bolsonaro.

Em seu Twitter, Felipe Carreras (PSB-PE), também deputado, disse acreditar que “nosso sistema atual [urnas eletrônicas] é um sistema consolidado, que nunca foi questionado e que já elegeu presidentes de esquerda e de direita”. De acordo com ele, o voto impresso poderia custar até R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos.

Outro político a fazer coro ao lado da oposição pernambucana foi Túlio Gadelha (PDT-PE), cujo entendimento é de que a PEC não tem “nenhuma relevância” para o país, sobretudo no ambiente de acirramento das crises social e econômica. “Primeiro eu gostaria de externar a tristeza de ter um projeto sem relevância nenhuma sendo debatido na Câmara em um momento como esse, de desemprego altíssimo, queimadas na Amazônia e boa parte da população, 18 milhões, estarem em situação de insegurança alimentar”.

“Infelizmente, nós tivemos ainda 229 parlamentares que votaram a favor do voto impresso e, inclusive, a gente questionou esses parlamentares: se eles desconfiam das urnas eletrônicas, deveriam ser coerentes com essas posições e renunciarem aos seus mandatos”, disse.

 

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