Militares podem não ter tanto sucesso nas eleições

O professor e cientista político Elton Gomes avalia que os militares bolsonaristas podem não repetir o que fizeram em 2018, no auge do bolsonarismo

por Jameson Ramos seg, 25/04/2022 - 08:00
José Dias/PR Presidente Bolsonaro e integrantes das Forças Armadas José Dias/PR

O bolsonarismo é composto por múltiplas forças, principalmente a militar que é composta por integrantes das Forças Armadas e da segurança pública. No entanto, diferente do ‘bum’ do bolsonarismo em 2018, quando 72 militares foram eleitos para cargos no Legislativo, estudiosos analisam que a eleição em 2022 deve ser diferente e com poucos militares conseguindo uma vaga no parlamento.

O cientista político e professor Elton Gomes detalha que neste ano o contexto é diferente do vivido em 2018, quando se teve um forte sentimento antisistêmico que tornou possível o descrédito generalizado dos partidos políticos devido, principalmente, aos anos da Operação Lava Jato e como isso desgastou as siglas que estavam arroladas ao processo acusadas de corrupção.

No esteio do bolsonarismo e com o descrédito da “política tradicional”, vários outsiders, ou seja, aqueles que se apresentam como o novo conseguiram se eleger. Vários atores provenientes da Marinha, Exército, Polícia e do Corpo de Bombeiros.  

No entanto, isso não deve se repetir, pelo menos não com tanta força como foi na última corrida pelas Assembleias estaduais e Câmara. “A leitura que eu faço como cientista é que esse atual momento é diferente. Aquela questão da corrupção é importante para os brasileiros, mas ela não é mais tão central como foi em 2018. Algumas temáticas associadas ao serviço público, assistenciais e as questões econômicas parecem ser mais preponderantes no processo político eleitoral de 2022”, avalia Elton.

Um fato que também pode justificar uma chance menor de eleição dos militares bolsonaristas, ou ampliação desse número, é a própria rejeição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo última pesquisa Ipespe, entre todos os candidatos à Presidência, o atual mandatário é o que tem maior rejeição, com 61% dos eleitores afirmando que não votariam nele de jeito nenhum.

Isso acaba dificultando que novos nomes, até então desconhecidos por maioria dos eleitores, consigam votos suficientes para a eleição apenas ‘nas costas’ do presidente.

Para o estudioso, não há mais tanto espaço. “Os atores que já excursionaram pela política não se revelaram viáveis, o bolsonarismo se renovou e tomou umas características com relativa normalização que foi propiciada com a aproximação do centrão, que foi a base de apoio para que o presidente aprovasse os interesses do Executivo no parlamento”, complementa.

Um vice militar?

Justamente pensando na viabilidade de sua reeleição e já com a sua base eleitoral firmada, Bolsonaro ainda não confirmou se vai abrigar um militar como seu vice. O general Hamilton Mourão (Republicanos), atual vice-presidente, já anunciou que vai disputar uma vaga ao Senado pelo Rio Grande do Sul.

A lacuna deixada por ele poderá ser ocupada por algum político do centrão, ala que o presidente afirmava durante sua candidatura em 2018 que jamais iria se juntar. Mas nos bastidores, um outro militar é citado para o posto: o general da reserva Walter Braga Netto. O ex-ministro é a escolha de Bolsonaro, mas não é consenso entre os aliados.

O desejo  de um vice não militar tem explicação política. O professor Elton lembra que, no momento em que Bolsonaro precisava conquistar o poder, os militares e integrantes da segurança pública foram muito importantes porque o momento político favorecia esse tipo de candidatura e o próprio Jair Bolsonaro, na época, precisava montar a sua base. 

“Hoje, o objetivo de Bolsonaro não é mais chegar ao poder, ele quer permanecer. Para permanecer no poder ele precisa muito mais das forças políticas tradicionais do que esses outsiders”, reforça Gomes.

O estudioso avalia ainda que a tendência maior agora é do cara que deu certo saindo da polícia, Exército, bombeiros e entrou na política, para que ele tente se reeleger. “Não há uma tendência mais como foi em 2018, mas não acho que há um enfraquecimento [do bolsonarismo], há uma readequação”, pontua. 

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