Bolsonaro não lidera evangélicos integralmente

Em Pernambuco, há evangélicos de esquerda, que votam em Lula e relatam serem taxados de bolsonaristas

por Alice Albuquerque ter, 09/08/2022 - 15:24
Isac Nóbrega/PR Bolsonaro em culto de Santa Ceia da Frente Parlamentar Evangélica Isac Nóbrega/PR

Ainda que Bolsonaro seja líder nas pesquisas entre os evangélicos, com 43% da intenção dos votos, de acordo com levantamento feito pelo Datafolha, divulgado no último dia 29, há quem seja evangélico e seja contrário ao atual presidente da República. A Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito é um dos grupos em Pernambuco que vão na contramão do "modelo" de evangélicos que a sociedade estigmatiza, automaticamente, na maioria das vezes, como conservador e/ou bolsonarista. 

Inclusive, uma pesquisa do PoderData divulgada em maio mostrou que Lula vem crescendo entre os evangélicos, com 33%, e diminuindo a diferença com Bolsonaro que, na época, tinha 44% da ala

O professor de história e membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Diogo Xavier, que entrou na militância em 2012, contou que houve uma mudança na visão da igreja em relação a política desde então. “No começo, eu percebia que as pessoas achavam que crente não devia se meter em política. A discussão era de que isso era coisa desse reino e nós somos de outro reino. A partir de 2018 que essa chave virou com muita força para colocar o crente como sinônimo de bolsonarista”, observou. 

No entanto, de acordo com ele, nas eleições de 2014 a maior parte da igreja que frequenta votou na ex-presidenta Dilma (PT). “As pautas morais também sempre foram muito fortes, como aborto, LGBT, drogas”, disse. 

Questionado sobre se sentir taxado como bolsonarista, Diogo confessou que, por muita gente já conhecer a sua militância, acontece uma surpresa quando descobrem que ele é evangélico. “Mas tem sim uma questão de acharem que eu sou de direita em locais que não me conhecem”, finalizou. 

Ao relatar que a sua militância se firmou quando entrou na Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, em 2017, a jornalista e candidata a deputada estadual pelo PSOL, Ailce Moreira, explicou o movimento. “Ele surgiu como proposta evangélica progressista ao golpe sofrido pela ex-presidenta Dilma, e como lugar de demarcação de que existem, sim, evangélicos no Brasil que defendem a plenitude de direitos, os direitos humanos, que não estavam a favor do golpe naquela época e desde lá a gente vêm empreendendo ações para estar no combate, hoje, à política do bolsonarismo que tem guiado as igrejas de todo o Brasil”, contou. 

Para ela, diante do cenário brasileiro hoje, não existe nenhuma opção política que “demonstre força suficiente para que o projeto bolsonarista seja derrotado no Brasil, nas urnas e nas ruas”. “O apoio ao ex-presidente Lula não vem de forma acrítica, isenta de se implicar na construção desse projeto. Ele vem por perceber que apenas uma frente ampla é capaz de derrotar o bolsonarismo nas urnas e temos esperança de que, com o tempo, a gente consiga derrotar o bolsonarismo na mente e no coração das pessoas”, salientou. 

Com relação ao estereótipo, a jornalista desabafou sobre o desafio que tem sido se identificar como evangélica. “E, ao mesmo tempo, é muito importante a gente continuar dizendo que não é possível generalizar todas as pessoas que se identificam como evangélicas. O universo evangélico no Brasil é extremamente heterogêneo, de muitos contextos e pessoas diversas, colocando o seu corpo na linha de frente em defesa da vida das pessoas, assim como Jesus Cristo fez. 

De acordo com Ailce, a escola de fé e política da escola Martin Luther King, no bairro de Coqueiral, no Recife, a fé e política são pensadas a partir do evangelho do amor e da justiça. “É totalmente ao contrário do que a gente vê como resultado do governo Bolsonaro, que faz política de morte quando a gente tem o Brasil de volta ao mapa da fome, com 33 milhões de pessoas passando fome, quase 700 mil pessoas mortas por Covid-19, inúmeros escândalos de corrupção e gasto do dinheiro público, inclusive, envolvendo pastores”.

“Essa questão dele [Bolsonaro] se colocar como evangélico, a gente avalia como uma coisa puramente eleitoreira. Ele nunca participou de uma comunidade de fé evangélica. Inclusive, antes da ascensão política dele à Presidência, ele se identificava como católico. Não deixa de ser cristão, mas o discurso evangélico e a forma como ele tem usado a bíblia e as instituições evangélicas para se promover vem junto com o interesse político e eleitoral”, explicou. 

Ela desabafa que, diante do cenário brasileiro hoje, não existe nenhuma opção política que “demonstre força suficiente para que o projeto bolsonarista seja derrotado no Brasil, nas urnas e nas ruas”. “O apoio ao ex-presidente Lula não vem de forma acrítica, isenta de se implicar na construção desse projeto. Ele vem por perceber que apenas uma frente ampla é capaz de derrotar o bolsonarismo nas urnas e temos esperança de que, com o tempo, a gente consiga derrotar o bolsonarismo na mente e no coração das pessoas”, salientou. 

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