Com demora para eleger escalões, Lula encara insatisfação

A falta de agilidade em indicar quem ocupará cargos de segundo e terceiro escalões preocupa líderes partidários

por Rachel Andrade sex, 14/04/2023 - 15:54
Joédson Alves/ Agência Brasil As escolhas de Lula ainda alimentam debates internos Joédson Alves/ Agência Brasil

Desde a vitória das urnas, ainda em 2022, as especulações sobre as mudanças de cargos no governo Lula não pararam de crescer. Com a indicação dos nomes para o primeiro escalão do governo, um primeiro quadro se formou, mas ainda não há uma confirmação concreta das equipes de segundo e terceiro escalão. Além disso, o atual governo ainda enfrenta situações de insatisfação por parte de partidos aliados.

Ao LeiaJá, o cientista político e professor Augusto Teixeira analisa dois movimentos que acontecem durante o aguardo nas nomeações, levando em consideração os acordos partidários e o cenário deixado pela antiga gestão. “Primeiro a composição desse grupo, a indicação dos nomes da composição ministerial e dos cargos com status de ministério distribuídos não apenas com o PT, mas com outros partidos relevantes visando a composição de potenciais maiorias nas duas casas do parlamento. E você tem um segundo movimento que é do esvaziamento dos bolsonaristas nos órgãos da administração pública. Seja em cargos ministeriais, mas também em estatais ou autarquias. Então é um processo que vai gerar um esvaziamento importante no preenchimento desses cargos de execução de políticas públicas em toda a República”, lista o professor.

Para montar as equipes, portanto, é preciso refazer parcerias e criar coalizões, o que faz o processo levar mais tempo, como explica o cientista político Victor Barbosa. “A estrutura burocrática é definida pelo presidente e pelos parceiros da coalizão, o que torna o processo de escolha dos ocupantes desses cargos complexo e demorado. Vários fatores se combinam neste processo, incluindo as preferências do presidente, dos partidos da coalizão e das redes políticas”, comentou.

Teixeira observa que esses cargos, considerados como “a menina dos olhos” dos líderes políticos, são de alta importância para movimentar a máquina pública, e por isso ainda está em constante debate. “Até porque é uma forma de compor um centro gravitacional para fazer com que partidos sigam você nas votações de interesse. Então a forma de tentar gerar convergência entre votações de interesse no parlamento, com a alocação de líderes em cargos de segundo terceiro escalão, que renderão espaço para os seus apadrinhados e recursos políticos e econômicos relevantes a esses grupos, como DNOCS [Departamento Nacional de Obras contra as Secas], entre outras autarquias ou fundações ou departamentos, que são extremamente relevantes e são também importantes do contexto do lobby com importantes setores do setor industrial, agro e também de serviços”, ele analisa.

E por que a tamanha para nomear quem ocupará esses cargos? Teixeira explica dois fatores simples, que se chocam, e que podem causar atritos, se as escolhas não são feitas com estratégia. “É, de um lado, estratégico, para ter uma carta na manga, na barganha, seja com [Arthur] Lira, mas também com líderes partidários relevantes, mas também é uma dificuldade que o governo tem na visualização clara da sua barra partidária e na possibilidade de confiança para locação dos cargos”, ele observa.

'Fogo-amigo'

Diante do quadro que se instala e persiste a cada dia, já é possível ver algumas críticas mais pontuais acerca da falta de decisão. Como explica Victor Barbosa, o chamado 'fogo-amigo' pode ter um impacto significativo na imagem do governo. "Isso porque tais críticas têm o potencial de minar a confiança do público no governo e levantar questões sobre a coesão e a estabilidade da coalizão governamental. A percepção de desunião e conflito dentro do governo pode afetar a capacidade de implementação de políticas e programas, bem como dificultar a negociação com outros setores da sociedade e do Congresso”, explica Barbosa.

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