Estereótipos ainda afastam mulheres dos cargos de chefia

sex, 25/01/2013 - 16:00
Eric Piermont Lagarde participa de uma sessão do Fórum Econômico Mundial, em Davos Eric Piermont

Os estereótipos e a falta de sensibilidade dos altos executivos de empresas privadas envolvendo a necessidade de se diminuir o abismo de gênero fazem com que as mulheres ainda sejam pouco representadas, e sejam necessárias cotas, apontaram líderes nesta sexta-feira, em Davos.

O exemplo mais ilustrativo dessa diferença é o próprio Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne a elite mundial da economia, política e do pensamento, onde a presença feminina nesse ano ficou em torno de 17%.

Nem os múltiplos estudos realizados que demostram os benefícios da diversidade de gênero em uma empresa, em termos de crescimento, sustentabilidade, melhor governança e transparência, além da melhor tomada de decisões graças ao seus diferentes pontos de vista conseguiram quebrar esse estereótipos e derrubar os muros do preconceito.

O debate organizado nesta sexta-feira, em Davos, sobre a presença da mulher na tomada de decisões, contou com a presença da diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, a comissária da Justiça europeia, Viviane Reding e a presidente da Universidade de Harvard, Drew Gilpin Faust, entre outras, mostrando os números que indicam que o caminho ainda é longo.

Apesar de 60% dos graduados universitários serem mulheres e a proporção no mercade de trabalho ser igual, quanto mais alta é a hierarquia de uma empresa, menos diversidade existe nela, disse a moderadora do debate, Herminia Ibarria, Professora de Liderança do INSEAD, na França.

"Há uma verdadeira barreira" para que as mulheres cheguem aos postos de direção", disse Herminia.

Tudo começa pelos estereótipos. Sheryl Sandberg, chefe de operação e membro do conselho de administração do Facebook, lembrou que eles começam na família e na própria escola.

Quando uma mulher quer ter uma carreira profissional sempre surgem as perguntas "tem certeza de que quer isso?", "não quer ter filhos? Mas como vai fazer com seus filhos se vai trabalhar?" e "Quantos homens te perguntaram isso entre a audência?", disse Sheryl.

No ano passado, lembrou Sheryl, viu camisetas nos Estados Unidos para crianças com as frases: "inteligente como o papai, bonita como a mamãe".

Ainda existe a ideia muito difundida de que uma mulher vai longe é "agressiva", enquanto um homem é "ambicioso", acrescentou.

Talvez por isso, os estudos demonstram que quando uma mulher tem mais sucesso é menos apreciada por seus colegas, o contrário do que ocorre com os homens. Esse pode ser um dos motivos pelo qual o assunto da paridade de gêneros seja debatida nas empresas.

Por isso, a comissária europeia da Justiça, que em novembro introduziu uma norma para assegurar a presença de 40% das mulheres nos conselhos de administração na Europa, considera que somente com cotas é possível conseguir a paridade, porque no ritmo atual teria que se esperar até "2060".

"Uma lei que faça com que o número de mulheres nas empresas aumente realmente", não porque não queiram, mas pelo contrário, estamos deixando as mulheres "nas esquinas", sem aproveitar sua preparação nem seu talento.

O caso da França mostra que as cotas funcionam: o número de mulheres nos conselhos de administração das principais empresas passou de 12% para 25%.

"Apesar da cota não ser o melhor, é uma ferramenta, mas gostamos que seja cumprida" pelo menos até que se rompa o "teto de cristal" e seja algo natural.

Isso não quer dizer que qualquer um que cumpra esta cota tenha acesso a esses cargos. Reding precisou na norma que "por igual talento e igual competência se elege uma mulher" até que se cumpra a cota.

Candidatas não faltam. As escolas de negócios têm uma base de dados com 80.000 currículos de mulheres que fizeram os melhores MBA. "As mulheres estão entre os melhores", lembrou.

"Às vezes é preciso liderança política para que as coisas mudem", acrescentou.

O que fizeram Lagarde, Hillary Clinton, ex-Secretária de Estado norte-americana, e a chanceler alemã, Angela Merkel, é um modelo, mas não basta. "Necessitamos de homens que nos ajudem com isso. E se há cotas é porque os altos executivos pediram isso", disse.

Esta é a também a opinião de Lubna Olaya, vice-presidente de uma companhia financeira da Arábia Saudita, o país mais conservador do planeta, cujo rei acaba de dar um passo histórico ao designar pela primeira vez 30 mulheres, ou seja 20%, para ocupar o Conselho Consultivo do Parlamento.

"Temos que sensibilizar os diretores das maiores empresas para convencê-los a contratar mulheres" para poder mudar as coisas.

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