UFPE aderiu ao Sisu, e agora?

Estudantes e professores comentam o que muda na hora de se preparar para entrar na universidade

por Danilo Galindo qui, 17/04/2014 - 16:14

Os estudantes que se preparam para prestar vestibular em Pernambuco tiveram uma notícia muito importante nas últimas semanas. No dia 3 de abril, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) aderiu ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Com a medida, a instituição passou a utilizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como único método de ingresso, com exceção dos cursos do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG), de química e de música. Até 2013, o exame era utilizado como primeira fase da avaliação, e apenas os cursos de oceanografia e estatísticas utilizavam o Sisu. Mas o que de fato vai mudar com a adesão? O LeiaJá conversou com alguns estudantes e professores para saber como vai ser a preparação de quem quer entrar em uma universidade após a novidade. 

A primeira mudança no cotidiano das escolas e cursos pré-vestibulares é a forma de abordar a interdisciplinaridade das matérias. No vestibular tradicional, o estudante precisa dominar o conteúdo específico de cada área. Na avaliação do Enem, as questões procuram relacionar assuntos de várias matérias, forçando o aluno a focar o estudo em todas as disciplinas. Para os alunos do colégio Núcleo, localizado no bairro das graças, no Recife, a mudança vai mudar a formação dos profissionais. “Um médico precisa saber tudo, não só as específicas. Agora os estudantes vão chegar na faculdade mais humanizados”, comenta Vitória Albuquerque, 17 anos, aluna do 3º ano. 

O Enem é conhecido pelo tamanho. O candidato, em dois dias de prova, precisa resolver 180 questões de quatro áreas do conhecimento. O método avaliativo acaba por selecionar os melhores pelo cansaço. “A gente tem que trabalhar muito a agilidade de raciocínio, o poder de decisão, a melhor estratégia pra fazer a prova”, diz Pedro Laporte, 17, aluno do Núcleo. A mudança trouxe impactos na forma do aluno se relacionar com os conteúdos que estuda. Segundo Gilton Lyra, professor de química do Núcleo, o Enem “acaba com a questão de acumular e repetir. A avaliação dá a capacidade de o aluno articular o que aprende, desenvolve a análise crítica”. 

Tanto os cursos pré-vestibulares quanto os colégios já sabiam da possibilidade da UFPE aderir ao Sisu. Por isso, a mudança na forma de preparar o aluno já vinha sendo implantada. “O Núcleo sempre teve a preocupação de integrar”, conta Berta Biondi, diretora pedagógica do colégio. Segundo ela, “o Núcleo não precisou mudar nada. Os alunos já eram preparados para focar no Enem”. 

Os principais fatores apontados como negativos no novo vestibular são a concorrência e as falhas no exame. “O ruim do Enem é que não dá pra contestar. A gente só tem acesso ao espelho da redação, por exemplo, depois de meses que a prova foi aplicada”, comenta Nathália Cadete, 17 anos, que vai prestar vestibular para engenharia. A integração do Sisu com outras universidades do país também traz a preocupação da concorrência com alunos de outros estados, que poderão se candidatar a uma vaga na UFPE. 

Defensor do vestibular tradicional, Fernando Beltrão, professor do curso que leva seu nome, Fernandinho e Cia, comenta que os preparatórios precisam se adaptar ao novo vestibular, mas que isso não é difícil. “O Enem vem ganhando robustez. Quem estava por dentro sabia que uma hora ou outra isso ia acontecer. Há três anos venho desenvolvendo um banco de questões do Enem. Um dia depois de divulgada a notícia, a gente aplicou 54 provas. Foram quase 2.500 questões para o aluno se adaptar ao exame”, comenta. 

ALÉM DA UFPE

O vestibular da Universidade de Pernambuco (UPE), segundo mais procurado no Estado, ainda mantém a segunda fase. Os estudantes que se preparam para as duas universidades têm que se virar para estudar com focos diferentes. Para Fernando Beltrão, a adesão do Sisu pela UPE é apenas questão de tempo. “O vestibular da UPE costuma seguir os passos do da UFPE. Foi assim quando o Enem passou a ser primeira fase, deve se repetir agora”, prevê o professor. 

O estudante Allan Santos, 34 anos, vai prestar vestibular para medicina, e achou a mudança bastante positiva. "A avaliação está mais prática. Você só precisa estudar para uma prova", comenta. Allan também foca nas faculdades privadas. "Acho que o aluno deve estar preparado para tudo, seja o vestibular tradicional ou o Enem", conta.

Além da UPE, faculdades privadas com vestibulares concorridos também devem mudar a forma de avaliação. Ao invés de planos conteudistas, as provas devem trazer questões mais contextualizadas, provável tendência a ser seguida pelos vestibulares. 

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